Nova safra cheia
Colheita cheia pode manter preços baixos.
O Brasil deverá colher pelo segundo ano consecutivo uma das maiores safras de arroz de toda a sua história. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2004/2005 pode chegar a 12,622 milhões de toneladas. São 175 mil toneladas a menos do que na safra passada (1,4%), quando foram colhidos 12,808 milhões de toneladas de arroz. A produtividade estimada pela companhia é menor do que na safra 2003/2004, quando foram colhidos 3.540 quilos por hectare: 3.466 quilos/hectare. A estiagem no Sul, a ocorrência de pragas e doenças no Mato Grosso são fatores que ainda podem alterar esta tendência para baixo, segundo estimativa das consultorias privadas. Um novo levantamento será realizado pela Conab até março.
Para a empresa Safras & Mercado, uma das mais conceituadas consultorias em agronegócios do país, a produção brasileira deverá totalizar cerca de 12,38 milhões de toneladas, sendo que deste volume, cerca de 5,7 milhões serão produzidos no Rio Grande do Sul, 1,74 milhão no Mato Grosso e 1,15 milhão em Santa Catarina. O consultor Aldo Lobo explica que a produtividade média do Brasil deve ficar em torno de 3.457 quilos por hectare, cerca de 2,9% a menos que no ano passado (3.561 quilos/hectare em 2004). “A área plantada no país cresceu cerca de 3%, passando de 3,46 milhões de hectares para 3,58 milhões”, revela Lobo. Para a Conab, os números são outros. O aumento teria sido de 0,7% (26,2 mil/ha), de 3.618,7 para 2.644,9.
Independentemente da origem dos números, o certo é que o Brasil está próximo de colher mais de 12 milhões de toneladas de arroz, volume que equivale a praticamente o seu consumo anual, estimado pela Conab em 12,6 milhões de toneladas em 2004. Acontece que o país chega na nova safra com um estoque entre 1,34 milhão de toneladas (Safras) e 1,56 milhão de toneladas (Conab). “O estoque de passagem não está tão ajustado como o setor gostaria, mas também ficou muito abaixo do patamar em que o mercado chegou a sinalizar no segundo semestre de 2004. E isso é um ponto favorável à comercialização”, explica o consultor Marco Aurélio Marques Tavares, um dos nomes mais respeitados em mercado do arroz no Rio Grande do Sul. A tendência de que os números da Conab sejam revistos para baixo e indiquem volumes mais próximos dos indicados por Safras & Mercado também é um importante sinalizador para o mercado.
Questão básica
Tecnicamente, o Brasil não pre-cisaria importar um só grão de arroz para garantir seu abastecimento em 2005, o que levou a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) a enca-minhar um processo administrativo que, baseado na legislação brasileira, pede que o Governo Federal estabeleça mecanismos de salvaguarda para a produção nacional e sobretaxas para as importações (acima de 50% mais TEC), mesmo do Mercosul. “É um caso especial, para evitar que seja desencadeada uma quebradeira num importante segmento da economia nacional. Um setor que garante o principal alimento da cesta básica brasileira: o arroz”, lembra Valter José Pötter, presidente da Federarroz
2004 teve arroz saindo pelo ladrão
Por força de acordos comerciais e uma cultura importadora que formou uma cadeia especializada, o Brasil importou muito mais arroz do que precisava em 2004/2005 (ano safra), e o resultado foi sentido por toda a cadeia. O produtor viu seus custos de produção aumentarem e o mercado pagar até 30% menos pelo seu produto. E o consumidor, que está na outra ponta da cadeia, não viu o produto reduzir de preço mais do que 13%. Independentemente de estabelecer a discussão de quem ficou com a diferença, é certo que o Brasil importará até o final de fevereiro cerca de 1,2 milhão de toneladas de arroz. Com base nestes indicadores, o consultor da empresa Safras & Mercado, Aldo Lobo, considera que o quadro de oferta e demanda do Brasil (leia-se estoque de passagem) ficará em torno de 1,34 milhão de toneladas. É bem menos do que os 2,5 milhões de toneladas que o mercado chegou a sinalizar em alguns períodos de 2004, empurrando os preços do cereal ladeira abaixo: de R$ 31,00 na safra para os R$ 22,00 de dezembro.
MERCOSUL – O impacto do Mercosul na economia brasileira do arroz pode ser reproduzido em números. Entre março e dezembro de 2004, primeiros 10 meses do ano comercial 2004/2005, o Brasil importou cerca de 966,3 mil toneladas de arroz base casca, cerca de 29% menos que o 1,36 milhão de toneladas importadas entre março e dezembro de 2003, ano em que o Brasil produziu pouco mais de 10 milhões de toneladas do cereal e precisou buscar muito produto no Mercosul, nos Estados Unidos e na Ásia. Em 2004, desse volume importado (966,3 mil toneladas), cerca de 505 mil toneladas vieram do Uruguai e quase 300 mil da Argentina. Trocando em miúdos, do total das importações, cerca de 802,4 mil toneladas tiveram origem nos dois países platinos. Perto de 83%.
“Está evidenciado que a disparidade entre custos de produção e preços de mercado neste ano para a cadeia do arroz, ocorreu por causa do ingresso excessivo de arroz do Mercosul”, frisa Valter José Pötter. “E é por isso que não acreditamos que apenas exportando, seja em bloco ou sozinho, o Brasil consiga resolver este problema de oferta acima da demanda do mercado. É preciso fechar a porta de entrada desses excedentes, ou ao menos controlá-la de maneira que o ingresso esteja adequado à necessidade determinada em cotas”, completa.
Razões da queda em 2004
– Safra cheia no Mercosul
– Falta de mecanismos eficientes para equalizar a comercialização interna
– Excedentes no bloco, mesmo diante da falta de produto na Ásia, e vantagens competitivas do Mercosul (tributação, incentivos, etc)
– Importações desnecessárias dos Estados Unidos e da Ásia
– Retração de oferta no primeiro semestre
– Câmbio (dólar baixo favorecendo importações do Mercosul e impedindo exportação)
– Retirada de PIS/Cofins sobre a importação do esbramado e beneficiado
– Não escoamento de excedentes (por falta de demanda internacional e tradição exportadora do Brasil)