Números da Conab causam polêmica. Produtores reagem

Cadeia produtiva do arroz do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso contestam dados da Conab e, com os números divulgados pelo IBGE na quinta-feira (29/04), afirmam que mesmo no próprio Governo Federal há conflito de informações.

As cadeias produtivas de arroz do Mato Grosso e do Rio Grande do Sul estão contestando veementemente os dados de safra divulgados pela Conab no seu quarto levantamento de safra, na última quarta-feira (28/04). A companhia estimou em 12.869 milhões de toneladas a produção brasileira do cereal, muito acima do que as cadeias produtivas afirmam que o Brasil vai produzir: de 11,8 a 12 milhões de toneladas. A divulgação de uma safra de 12,592 milhões de toneladas pelo IBGE, quinta-feira, reforçou a polêmica.

O diretor de mercados da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) e consultor do site Arrozpec, Marco Aurélio Marques Tavares, falando em nome da Farsul e da Abrarroz, garantiu que os órgãos do Governo Federal não se entendem e estão divulgando números discordantes, mais uma vez em flagrante risco de prejuízos à produção primária.

Segundo ele, o setor orizícola gaúcho não quer acreditar que se tratem de informações fictícias divulgadas com o propósito de inviabilizar a rentabilidade ora obtida pelos produtores. “Preferimos acreditar em falha no método de pesquisa”, afirmou ele. Para Tavares, uma diferença de 277 mil toneladas é muito grande. “E há que se considerar que os números do IBGE são referentes a março e, depois disso, acentuaram-se as perdas nas lavouras do Mato Grosso, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul por questões climáticas, provocando perdas de milhares de toneladas”, acrescenta.

Outra questão levantada por Tavares, em nome da cadeia produtiva do Rio Grande do Sul, é o fato do estoque de passagem brasileiro ter aumentado na entressafra. “A cada novo levantamento da Conab os estoques aumentam e praticamente dobraram de dezembro a abril. Como isso aconteceu se o arroz chegou a ser comercializado a R$ 50,00 o saco, no pico de entressafra, demonstrando claramente a sua absoluta falta no mercado brasileiro, mesmo durante a importação de produto de baixa qualidade da Ásia?”, questiona.

De 502 mil toneladas na virada do ano, os estoques finais indicados pela Conab saltaram, em abril, para 1,030 milhão de toneladas. “Só aí, numa mudança de números sem precedentes ou critérios técnicos visíveis, se pode questionar uma diferença de 528 mil toneladas que ninguém sabe de onde a Conab tirou”, afirma Tavares.

O setor produtivo, segundo ele, não concorda com estas mudanças que, diante do cenário de comercialização dos últimos meses, não se justificam. “Se o preço estava crescendo e havia grande demanda interna, como é que o volume dos estoques subiram?”, questiona. No Rio Grande do Sul, em fevereiro, apenas 50 mil toneladas estavam estocadas. “De onde saiu este 1 milhão de toneladas diferencial?”, pergunta.

MERCOSUL

Para os arrozeiros gaúchos, outro dado surpreendente é o fato da Conab subestimar a importação de arroz do Mercosul, calculado pela companhia em 300 mil toneladas. “O setor, que mantém-se em permanente contato e desenvolve ações conjuntas com os produtores uruguaios e argentinos, sabe que entrarão cerca de 1 milhão de toneladas de produto do Mercosul no mercado brasileiro,volumes considerados adequados para manter os preços estabilizados, e a Conab tira da cartola 300 mil toneladas e aumenta a produção interna de forma surpreendente. É muito intrigante”, destaca o dirigente arrozeiro.

O arrozeiro gaúcho lembra que a Conab normalmente ajusta seus números, geralmente para menos, em julho, quando o mercado já poderia ter sofrido interferência negativa por uma divulgação superestimada.

MATO GROSSO

O presidente da Associação dos Produtores de Arroz do Estado do Mato Grosso, Angelo Maronezzi, também está surpreso com os números da Conab, que considera fora da realidade. Segundo ele, com quase 95% da área do Mato Grosso já colhida, há uma perda aproximada de 20% sobre a estimativa de safra, que segundo ele deverá fechar em 1.480 milhão de toneladadas, ante uma expectativa inicial de 1.850 milhão/ton. Problemas de clima, acamamento, ataques de cigarrinha E brusone estão entre as causas dos prejuízos.

Para a APA-MT, o Estado plantou cerca de 580 mil hectares, enquanto a Conab trabalha com mais de 644 mil/ha, uma diferença superior a 12%. Toda a cadeia produtiva considera que os números da Conab poderão gerar uma pressão do varejo sobre a indústria e, por sua vez, do setor de beneficiamento sobre os arrozeiros para baixar os preços.

FORMAÇÃO DE PREÇOS

O gerente de compras e vendas de uma importante cooperativa gaúcha afirmou ontem (30/04) que não acredita em redução dos preços ante o patamar médio de R$ 34,00. Ele afirma que os números da Conab não justificam o momento do mercado, que é de baixa oferta do produto.

O diretor da Federarroz, Marco Aurélio Marques Tavares, afirma que o que independentemente de todo o quadro de agitação política com base nesta divulgação da Conab, o sucesso da comercialização de arroz durante o ano safra de 2004, será consolidado com a observância de alguns fatores, como a continuidade da estratégia atual dos produtores de uma boa gestão de oferta, administração de excedentes e a prospecção de novos mercados para exportação, trabalho que já está sendo desenvolvido no Rio Grande do Sul.

Tavares lembrou que o acordo da cadeia produtiva gaúcha com o Uruguai para manter o piso de R$ 33,00 o saco de 50 quilos em casca na comercialização para o mercado nacional está obtendo êxito, bem como o cenário internacional não oferece respaldo à importação de produto da América do Norte ou Ásia, pelo alto custo dos fretes e também os patamares que vêm operando.

A ordem, segundo o presidente do Irga, Pery Sperotto Coelho, é manter o mercado abastecido, mas evitar o excesso de oferta como forma de assegurar a rentabilidade da lavoura arrozeira. “Vamos ter uma boa safra, mas estamos com os pés no chão, pressionados pela necessidade de grandes investimentos na lavoura e o pagamento de dívidas históricas. Não há euforia”, afirmou.

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