Números das perdas são conflitantes e produtores entram em rota de colisão com o Irga

A quebra na produção de arroz em Cachoeira do Sul e outras cidades da região central do Rio Grande do Sul é certa, mas a divergência nos levantamentos das perdas está provocando ainda mais estresse. Os produtores que perderam toda a safra e que só terão uma nova fonte de renda dentro de 15 meses, após a safra 2010/11, estão desesperados e focados em fazer o levantamento preciso dos prejuízos para fundamentar o pedido de socorro. O drama para quem foi mais castigado com o excesso de chuva aumentou na quarta-feira, quando um levantamento do Irga/Cachoeira do Sul apontou um prejuízo de apenas 20%, menos da metade do que os produtores já haviam calculado. No início desta semana, a União Central do Rizicultores (UCR) e Federraroz apontaram que as perdas na lavoura cachoeirense chegará aos 50%, mais de R$ 100 milhões que deixará de circular na economia.

A crise é total e pode ser dimensionada pelo clima de forte emoção, com lágrimas e vozes embargadas durante relatos de estragos feitos ao ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. A reunião em Brasília aconteceu na quarta-feira, mesmo dia em que o Irga apresentava em Cachoeira o balanço sobre os estragos, números considerados amenos pelos arrozeiros. O presidente da UCR, Pinto Kochenborger, disse ontem que fará um censo exato das perdas “Para quebrar o bico do Irga. De dentro dos escritórios não dá para ver o que está acontecendo”, provocou Kochenbroger. “O Irga parece que está contra os produtores e isso até tem explicação, pois o Irga é do governo e o governo sempre quer bóia barata para dar para o povo”, acusa o presidente da UCR.

NÚMEROS – O socorro que está sendo pedido junto ao Governo Federal, através de uma linha de crédito especial, é a única salvação esperada pelos produtores que perderam tudo ou até 50% da safra. Sem lavoura para colher, os atingidos pelas cheias estão preparando um relatório minucioso sobre as perdas. O levantamento da UCR junto com produtores, técnicos do setor e a Federarroz indica 220 arrozeiros de Cachoeira afetados pela enchente, com 10.150 hectares totalmente perdido e quebra expressiva na produtividade. Pelos cálculos do Irga, a perda é de 7.788 hectares da lavoura, sem estimar as perdas de produtividade.

Importante
O presidente do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), Maurício Fischer, disse ontem que esse não é o momento para discutir conflito de números. “No calor das discussões, qualquer ruído de informação deve ser ignorado. Sabemos que existe perdas significativas na região de Cachoeira do Sul e todos os esforços estão concentrados para ajudar os produtores. As divergências são comuns e essa sobre as perdas será eliminada no momento da colheita. Os números exatos vão aparecer no final da safra. Estou mais preocupado em buscar mecanismos para socorrer toda essa gente atingida. Um consenso sobre os números vai existir logo”, argumento o presidente do Irga.

Produtores falam em boicotar o Irga
A indignação dos produtores rurais atingidos pelo El Niño é tanta que alguns levantaram a ideia de boicotar o Irga, buscando com lideranças políticas a mudança na destinação da Taxa de Cooperação e Despesa da Orizicultura (CDO), que hoje representa R$ 0,36 em cada saco de arroz comercializado pelos produtores. “Não é justo pagar a CDO para a entidade que não está ao nosso lado quando nós mais precisamos. Neste momento, quem está falando a linguagem dos produtores é a Federarroz”, destaca o presidente da UCR, Pinto Kochenborger.

Produtores convocados para declarar as perdas
A UCR está convocando os produtores rurais de Cachoeira do Sul para fazer uma radiografia completa e exata sobre as perdas causadas pelos efeitos do El Niño na lavoura de arroz. Todas as informações serão enviadas para o Ministério da Agricultura até o próximo dia 12 de fevereiro, quando será feita uma nova reunião com o ministro Reinhold Stephanes. Para agilizar o levantamento de dados, a orientação é para que os produtores compareçam aos pontos de coleta de informações munidos de documentos pessoais e comprovantes das perdas, como notas de compras de insumos e declaração da área atingida. Quem tiver seguro agrícola também deve participar, pois todos os nomes serão enviados para o Ministério da Agricultura para receber diferentes auxílios.

ATENÇÃO
As declarações de perdas da safra 2009/10 em razão do El Niño devem ser feita em algum dos seguintes locais: UCR, escritório do agrônomo Gerson Santos, Emater, Sindicato Rural, escritório de Sílvio Franco, secretaria Municipal de Agricultura e Pecuária (Smap), escritório de Adriano Mouralles e Sindicato dos Trabalhadores Rurais. O formulário em todos os pontos é o mesmo e permitirá calcular o número mais preciso de perdas antes do final da colheita.

PARA SABER MAIS

Perdas segundo a UCR 
>> 10.150 hectares com perda total
>> 18.906 hectares atingidos que terá quebra de produtividade, chegando a no máximo 4,5 mil quilos de grãos por hectare
>> 2.000 hectares nem foram plantados em razão do El Ninõ
>> 8.504 hectares não foram atingidos, mas não terão produtividade média superior aos 6,5 mil quilos por hectare em razão das condições climáticas
>> 39.560 foi a área estimada para plantio com média de produtividade de 6,9 mil quilos por hectare, segundo dados do Ibge
>> R$ 100 milhões de prejuízo

Perdas segundo o Irga
>> 7.788 hectares perda total
>> 16.000 hectares afetados pelas enchentes
>> 30.110 hectares para serem colhidos, sem levar em conta a quebra de produtividade em razão do clima desfavorável para a cultura do arroz
>> 37.899 área plantada com estimativa de produtividade média de 7,1 mil quilos por hectare
>> O Irga não apontou o prejuízo em moeda corrente

FRASE
“O Irga está errado. Acredito que houve um equívoco nos números, pois as perdas na lavoura são muito maiores que 20%. O arroz até poderia se recuperar e ser produtivo, mas isso se nós estivéssemos em dezembro e não chegando a fevereiro”.
Carlos Joel da Silva,
presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais

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