Números incertos
Clima já altera as estimativas da safra no Rio Grande do Sul
Chuvas, até 15 de novembro, muito acima da média decorrentes do clima sob El Niño, mudaram a expectativa de área semeada e produção de arroz no Rio Grande do Sul nesta safra 2023/24. E para pior.
O Irga projeta área de 902,4 mil hectares cultivados nesta temporada, ainda sob intenção de plantio anunciada em agosto, com a Emater/RS completando com estimativa de produtividade média de 8.359 quilos por hectare e uma colheita de 7,45
milhões de toneladas.
A Conab, mais otimista, indica 923 mil hectares semeados e colheita de 7,74 milhões de toneladas, com 8.385 kg/ha. A diferença é de 290 mil toneladas entre as duas.
Até 13 de novembro, os produtores gaúchos semearam 649.546 hectares, 72% da área, segundo o Irga, 13 pontos percentuais atrasados em comparação ao ciclo 2022/23. “A semeadura foi mais lenta por causa das chuvas, que reduziram as janelas de plantio”, explicou Flávia Tomita, diretora do Irga. A zona sul avançou bem e aproveitou o clima um pouco mais favorável para fechar o plantio na época recomendada e já tinha lavouras em emergência.
A fronteira oeste teve semeadura quase normal. Os problemas ficaram concentrados na região central, que alcançava apenas 35% da superfície semeada e indicava necessidades de ressemeio em ao menos 5%, e na planície costeira externa, com55% das operações concluídas.
Chuvas até 20 de novembro impediram o plantio no período recomendado para altas produtividades. Eduardo Muñoz, diretor da assessoria agronômica Porteira Adentro, observou que se trata de um ano com muitos obstáculos. “A fronteira
e a zona sul semearam quase dentro da normalidade, mas muita chuva em cima das lavouras, enchentes e dias nublados afetam o potencial produtivo”, explicou.
REDUÇÃO
Luciano Carmona, consultor do Fundo Latino Americano de Arroz Irrigado (Flar), em gira técnica pelas regiões arrozeiras, concluiu que dificilmente se confirmará o prognóstico inicial de área. “Há casos de replantio, mas alguns produtores
nem retomarão áreas perdidas pelo risco de novas enchentes”, observou.
Ademais, as máquinas são as mesmas usadas para a soja na várzea e na coxilha e o atraso na formação da lavoura arrozeira, associado à previsão de janelas curtas de temposeco, começam a atropelar os prazos.
Segundo Carmona, tratos culturais começam a ser prejudicados. “Além da perda de nutrientes por causa da chuva, há atrasos na aplicação de fertilizantes, falhas no controle de doenças, pragas e invasoras, a falta de luminosidade, é uma soma
de fatores a impactar o resultado final da safra”, acrescentou.
RESPOSTA
Luciano Carmona acredita que de 5% a 10% da área faltante em 15 de novembro, algo que somaria de 15 mil a 30 mil hectares dependendo da fonte, deixará de ser plantada e o potencial produtivo por área já caiu próximo a 10%.
Mas fez uma ressalva: “Claro que o arroz é cultura altamente responsiva à tecnologia e ao clima e, se fizer dezembro, janeiro e fevereiro espetaculares em radiação solar, dá pra recuperar alguma produtividade. Mas a fotografia atual não é tão animadora para quem esperava uma grande colheita”, reconheceu.