O Analista de Butiá (3)

Autoria: Nelson Mucenic*.

Tá no ponto, jaguarada?

 

– Mas e aí, tá bom o assado?

– Más o meno.

– Más o meno é o de bêbado. E tu já tá quase. Larga desse butiá.

– Cadê o Baruio?

– Lá atrás das macega.

– Bueno, olha só essa picanha!

– Por mim ficava mais uns minuto no fogo.

– Uhumm. Igual o preço do arroz, não é? Vão esperando…

Nisso vem voltando o Baruio que já ouvia a conversa.

– E tu, Baruio?

– Aaaahhhhhh, eu já realizei, disse com ar aliviado.

– Realizô o quê? Te realizô lá atrás das macega?

– Não, realizei como dizem os bonito. Dei um prazinho e o japonês vai me pagá um pila a mais.

– Quem realizô foi o comprador, Baruio. O arroz vai a 45, disse o Schimia..

– Semana passada tu disse que se chegasse a 40 tu vendia.

– Pois eu vô na média, de vez em quando uma botada, disse o Penacho.

– E tu? Não tem conta pra pagá, perguntou o Doutor.

– Tenho, mas vou dexá chegá mais perto.

– E já combinô com o mercado?

– Não entendi!

– Eu perguntei se tu já combinô com o mercado?

– É… pois é…

– Como é mesmo o nome desse japonês que te comprô o arroz?

– É Sakanagi.

– Isso é nome ou apelido?

– Não sei. Acho que é nome.

– Então reza, Baruio! Reza pra ser nome.

 

“Melhor uma bem dada do que duas mais ou menos?” É o que afirmava o representante de um órgão de fomento à pesquisa e de ajuda humanitária, se referindo à uréia no seco.

 

“Melhor uma bem dada do que duas mais ou menos?” Quando se trata de fungicida, por vezes, três bem dadas não resolveram este ano.

 

“Melhor uma bem dada do que…No caso da venda do arroz seria desejável, mas isso poucas vezes acontece. Algumas variáveis concorrem prá isso, inclusive o acaso, a sorte.

 

              

               Produtor, seja aqui ou do outro lado do mundo, é tudo igual: gosta de ganhar dinheiro e de dar risada. Também lá, como aqui, o produtor sempre colhe mais que seu vizinho e vende por preço maior. E obviamente procura obter sempre o melhor preço. Alguns, algumas vezes, conseguem acertar o olho da mosca. No mais das vezes são produtores capitalizados, com maior poder de barganha e que aceitam o risco de forma mais tranquila, por óbvio. Para o arrendatário, com menor margem de lucro e flexibilidade de negociação, o jogo é mais arriscado. Também essa circunstância ocorre em outros países. Não vamos longe, procure saber a situação dos produtores de arroz de Uruguay e Argentina. Portanto, para a maioria, as contas a pagar pressionam de forma periódica. E nesse caso, a decisão de vender é mais restrita, mais difícil, sempre pessoal: um ato solitário. Nessas horas, ser boi de boiada, tocado pelo mugido dos outros, pode não ser uma boa idéia. Quando der o estouro, pode dar atropelo. Afinal quem é que paga suas contas? O negócio, uma vez feito, já pertence ao passado. O presente e o futuro é que há de se resolver.

               O momento da venda, se pode dizer, é sagrado. É o momento que, de um jeito ou de outro, o produtor agradece ao mercado. Seja quando há quem pague um justo preço, ou seja quando apenas há quem simplesmente compre. Em ambos os casos, seja em tendência de baixa ou de alta, realizar a venda é, de certa forma, um alívio.

               Tanto em um caso, como no outro, a solução para o preço de exceção sempre será o próprio preço de exceção. Em outras palavras, o preço sempre chega a um extremo, para depois retornar. É sabido e lógico que o mercado, nessas situações, se corrige e tende a se reequilibrar. A questão é quando e/ou até que ponto. Quem é que sabe? Principalmente quando a oferta está represada, se é que me entendem.

1 Comentário

  • e o japones pagou?

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