O arroz nosso de cada dia

Autoria: Amado de Oliveira Filho *.

Uma forma de pensar sobre algum tema é ligá-lo a um fato. Prefiro refletir ligando temas a frases de líderes que viveram por vocação de serem vitoriosos. Encontro em Martin Luther King um desses vitoriosos. A frase dele que mais uso é a que me remete a não aceitar a omissão como forma de boa convivência: "O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons."

As consequências do silêncio dos bons são desastrosas para a sociedade. Em fevereiro de 2008 uma séria denúncia foi feita a respeito da produção agrícola em Mato Grosso, gerando a seguinte manchete: "Nova classificação do arroz inviabiliza a produção no Estado, alerta liderança de Sinop". O líder em questão era Antônio Galvan, presidente do Sindicato Rural do município e a classificação foi uma ação do Ministério da Agricultura que ao propor mudanças nas normas de descontos terminou por acabar com a produção de arroz tipo 1 no Estado. O propósito do ministério era do de melhorar a qualidade do arroz produzido no Brasil!

Desde 2008 não vimos maiores discussões a respeito da nova classificação do arroz, que culminou com uma proposta de padronização em nível nacional. No entanto, agora em novembro de 2010 o tema volta em cena, porém, sob outro enfoque. Ocorre que de fato o arroz produzido em Mato Grosso não é suficiente para o atendimento do mercado interno. Culpa dos bons?

Olhem o desastre! As indústrias de arroz de Mato Grosso estão importando arroz do Rio Grande do Sul para a nossa "segurança alimentar" e por isto mesmo o governo do Estado se viu obrigado e a corretamente isentar, por tempo limitado, a cobrança do ICMS sob pena de onerar a cesta básica do trabalhador mato-grossense em função dos milhares de quilômetros que aproximadamente 50 mil toneladas viajarão para chegar aos nossos pratos.

Mato Grosso já exportou arroz para o Rio Grande do Sul e não foi pouco. O arroz produzido no norte de Mato Grosso era tão bom que as indústrias migraram para a região de Sinop. Por conta e risco do Ministério da Agricultura a produção de arroz em Mato Grosso conhecida como de terras altas reduziu e cá estamos nós importando arroz.

Os cenários para a produção de arroz em Mato Grosso não são favoráveis nem mesmo em longo prazo. De um lado os produtores estão refratários com relação à indústria que em 2008 sinalizou pela mudança na classificação, perdendo a confiança do setor. Outro fato que indica baixa produção de arroz no Estado é que as áreas produtivas são imediatamente direcionadas para outras culturas em função dos riscos que o arroz passou a oferecer.

Coloco-me numa posição confortável para afirmar que tudo isto tem jeito e Mato Grosso precisa resolver. Estamos no limiar de um novo governo federal e, portanto, é o momento daqueles que se calaram lá em 2008 atuarem para que o próximo ministro da Agricultura introduza uma política de garantia de preços para a retomada da produção de arroz em terras altas. Por outro lado, é necessário retomar a discussão da classificação. Isto é possível!

Não podemos esquecer que Mato Grosso importa verduras, legumes e frutas de vários estados brasileiros, portanto, se não for incentivada a produção do arroz e o desenvolvimento de uma forte política de produção agrícola para consumo interno, corremos o risco de ter que importar um dos nossos principais cardápios: arroz, feijão, salada. Quanto ao bife que completa este quarteto, imagino estar seguro.

Termino este artigo bastante insatisfeito. Não é o que gostaria de estar escrevendo, mas é necessário provocar os "bons" para que o debate aconteça e as mudanças ocorram. Recorro a Martin Luther King que disse: "Nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam". O arroz nosso de cada dia importa!

* Produtor rural, economista, especialista em mercados de commodities agropecuárias e Direito Ambiental.
amadoofilho@ig.com.br

2 Comentários

  • É sr; o seu comentario tem por alta valia, só basta a cadeia produtiva se concientisar e ajir com mais firmesa e descisão, tomar as redias das clacificação e fazer valer a qualidade de cada variedade.e se propagar impondo o ritimo de cada comercialização,inpondo para os governantes qual é realmente o marabalismo de um modo geral até faser este produto chegar até a mase nossa de cada dia. Vamos em frente estamos para unir forças e faser valer o direto de quem produz com serieddade.

  • Incrivel coincidência. Veja o artigo que escrevi no meu blog http://www.jorgefagundes.com.br/blog, no mesmo dia que foi publicado o seu.
    Abraço.
    Jorge Fagundes

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