O censo da Brusone

 O censo da Brusone

Pesquisa do Irga vai mapear os problemas da lavoura gaúcha com doenças do arroz

Depois das invasoras, o arroz enfrenta doenças .

Calor, umidade e baixa luminosidade. Os dias nublados e de mormaço são tudo o que os fungos causadores da brusone, principal doença fúngica que atinge aos arrozais brasileiros, argentinos e uruguaios, querem para avançar nas plantas. O custo é alto. O produtor precisa investir em fungicida, às vezes até repetir a aplicação, e acaba tendo perdas significativas na lavoura. Em caso de ataques epidêmicos as perdas podem chegar até a 100% da área plantada, segundo relatório da Comissão Técnica do Arroz, organismo que engloba as instituições de pesquisa do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

A situação é complicada porque a pesquisa ainda não chegou a uma cultivar que tenha resistência estável e permanente ao fungo, bem como não há fungicidas com grande eficiência e baixo custo. Em busca de uma solução, o Departamento de Fitossanidade da UFRGS e o Laboratório de Biotecnologia do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), instalado na Estação Experimental do Arroz (EEA), em Cachoeirinha-RS, definiram uma linha de ação.

O trabalho começa com a realização de uma espécie de recenseamento das diversas raças de fungos que provocam a doença. "Estamos identificando as raças incidentes na lavoura arrozeira gaúcha através de seu DNA", anunciou o gerente da Divisão de Pesquisas, Maurício Miguel Fischer, responsável pela EEA e outras cinco subestações no interior gaúcho.

A pesquisa que é desenvolvida busca, a médio prazo, lançar variedades com resistência estável aos fungos. O trabalho é feito, segundo o consultor em biotecnologia do Irga João Maciel, identificando o DNA dos fungos, extraindo-o e usando-o como ferramenta. "Usamos a técnica de marcadores moleculares para caracterizar a raça", explicou.

Como será feito

As variedades de plantas pesquisadas pelo Irga serão inoculadas em laboratório até que sejam encontradas cultivares com resistência estável contra a brusone. "É uma luta de muitos anos e permanente, pois sempre haverá uma evolução nas variedades e poderão surgir novas raças de fungos capazes de quebrar a estabilidade alcançada para outras", acrescentou Fischer.

Hoje o Irga produz as variedades Irga 417, 418, 419 e 420 que têm resistência à brusone. Ocorre que, com o tempo, esta resistência pode ser quebrada. Para evitar que isso ocorra, o setor de pesquisas do Irga está investindo na biotecnologia. "Até agora a pesquisa fazia este trabalho com outras metodologias. Só que, diante da biotecnologia, estes métodos se tornaram rudimentares", frisou Maurício Fischer.

A brusone ocorre com mais gravidade no Centro-Oeste brasileiro. No Rio Grande do Sul aparece mais no Litoral Norte, em função do clima, e na Depressão Central.

 

Cuidado, produtor 

O mal chamado Brusone

É a principal doença fúngica da lavoura arrozeira brasileira. A doença afeta toda a parte aérea da planta: folhas, nós do colmo, bainhas e partes dos cachos e grãos. O fungo permanece de um ano para o outro na lavoura, sobrevivendo nos restos culturais. Sementes infectadas e palha transmitem a doença e o vento favorece a sua disseminação. As condições que favorecem a brusone são o excesso de adubação nitrogenada no plantio, o espaçamento apertado, a alta densidade de semeadura, a deposição de orvalho por períodos prolongados e as condições de baixa luminosidade.

Controle

Quando o arroz é de sequeiro

1. Preparar o solo com aração profunda 

2. Plantar cedo no mês de outubro 

3. Semear uniformemente com dois centímetros de profundidade 

4. Evitar plantios escalonados, efetuando a semeadura no menor espaço de tempo possível 

5. Usar sementes sadias e tratadas com fungicidas sistêmicos 

6. Evitar altas densidades de semeadura 

7. Evitar altas dosagens de adubação nitrogenada, não ultrapassando o limite de 15 quilos de nitrogênio/hectare na ocasião do plantio 

8. Aplicar adubação nitrogenada em cobertura somente no primórdio floral, quando necessário. A aplicação entre 30 e 45 dias não é aconselhável. 

9. Pulverizar com fungicidas sistêmicos, uma vez na época da emissão de panícula (quando houver de 5% a 10% de panículas emitidas) 

10. Usar cultivares resistentes ou moderadamente resistentes nos plantios tardios para evitar altas severidades de brusone nas folhas 

11. Colher o arroz na época apropriada, quando dois terços das panículas estiverem na fase de amadurecimento. 

Quando o arroz é irrigado

1. Sistematizar o solo 

2. Manter irrigação contínua até 15 dias após o florescimento 

3. Deixar as plantas em submersão total por um período de 24 horas, seguida por drenagem e manutenção da lâmina de água na profundidade adequada, em caso de alta incidência da brusone no estágio de perfilhamento 

4. Tratar as sementes com fungicidas sistêmicos 

5. Evitar altas densidades de semeadura 

6. Pulverizar com fungicidas sistêmicos quando houver de 5% a 10% das panículas emitidas. Em lavouras de produção de sementes podem ser feitas duas aplicações, uma no perfilhamento e outra de sete a 10 dias depois. 

7. Utilizar cultivares resistentes ou com moderado grau de resistência

Dossiê da Brusone 

O tratamento do arroz com fungicidas poderá ser um método complementar eficiente no controle da brusone, principalmente naquelas lavouras com histórico de danos freqüentes, e nos anos em que ocorrem condições climáticas muito favoráveis ao aparecimento de doenças. Entretanto, esse controle será mais eficiente e econômico sempre que for precedido pela melhoria no manejo das práticas culturais e no uso de cultivares mais tolerantes à brusone.

A aplicação dos fungicidas durante os estágios de emborrachamento e floração possibilita a manutenção dos níveis de produtividade e melhora o rendimento de grãos inteiros. Nas lavouras de produção de sementes diminui a disseminação dos patógenos através destas e assegura melhorias na germinação e no vigor das plântulas.

Alguns fungicidas são específicos para o controle da brusone, enquanto outros possuem espectro de ação mais ampla. Muitas vezes, o uso de um produto protetor, de ação ampla e de contato, ou a sua associação com outro produto sistêmico de maior especificidade poderá conferir um controle mais satisfatório e com melhor relação custo/benefício.

Normalmente, isto ocorre nos casos de ataques não muito intensos de brusone, em associação com outras doenças (mancha-parda, mancha-estreita, escaldadura, rizoctonioses e manchas-de-glumas). Contudo, para controlar os ataques muito severos de brusone, recomenda-se usar produtos mais específicos, sistêmicos ou protetores em doses elevadas.

Por outro lado, o uso de fungicidas é recomendável principalmente para aquelas lavouras com melhor nível de tecnologia e que possam usar aplicação aérea. Nos casos de ataques em lavouras pequenas e/ou com pouca tecnologia, poderá ser feito apenas um controle preventivo nos focos com ataque mais severo, tomando-se precauções para evitar casos de intoxicação pelos venenos. Entretanto, nessas lavouras, deve ser dada maior ênfase ao manejo das práticas culturais, a fim de evitar o surgimento da brusone.

Ficha técnica 

Inimigos do arroz

Mancha-parda

A mancha-parda é causada pelo fungo. Esta doença é bastante prejudicial em arroz irrigado e nas regiões favorecidas de arroz de sequeiro, causando redução na qualidade dos grãos. Geralmente manifesta-se nas folhas durante ou logo após a fase de floração e, mais tarde, nos grãos.

Esta doença é transmitida principalmente pelas sementes infectadas e pode sobreviver nos restos de cultura por muitos anos. As sementes muito infectadas sofrem redução do poder germinativo. Algumas ervas daninhas de folhas estreitas servem como hospedeiras do fungo. A doença está associada com o cultivo de solos pobres em potássio e nitrogênio.

CONTROLE – Tratamento de sementes com fungicidas controla efetivamente a infecção primária nas plântulas. Pulverização com fungicidas na época de emissão das panículas aumenta a quantidade de grãos. As lavouras destinadas às sementes de arroz irrigado requerem duas aplicações, uma na época de emissão das panículas e outra, sete dias após. As práticas agronômicas como rotação de culturas, sanidade no campo e o manejo adequado da adubação e irrigação podem reduzir altas incidências nos grãos.

Escaldadura

Esta doença é causada pelo fungo Microdochium oryzae. Outros nomes do fungo anteriormente divulgados foram Gerlachia oryzae e Rynchosporium oryzae. A escaldadura tem importância econômica em arroz de sequeiro e irrigado no Brasil, embora seja menos prejudicial do que a brusone e a mancha-parda. Em geral, aparece na fase de emborrachamento e aumenta até a fase de maturação do arroz.

As sementes infestadas com o fungo transmitem a doença. Na região dos Cerrados, a escaldadura ocorre mais freqüentemente no primeiro ano de plantio. Alta densidade de plantas e menor espaçamento aumentam a intensidade da doença. Excesso de adubação nitrogenada favorece o rápido desenvolvimento das manchas. A doença progride rapidamente na época chuvosa e a deposição de orvalho é condição essencial para o desenvolvimento da doença.

CONTROLE – O tratamento de sementes com fungicidas é desejável para a erradicação da infecção externa nas sementes. Não existe um método de controle específico. A viabilidade econômica da pulverização com fungicidas é desconhecida. A pulverização com fungicidas sistêmicos, como benomyl, mostrou-se efetiva nos testes realizados em outros países.

Queima-das-Bainhas

Esta doença, causada pelo fungo Thanatephorus cucumeris (forma perfeita de Rhizoctonia solani), ocorre em plantas de arroz cultivadas sob condições irrigadas e de várzea úmida. A ocorrência de mancha-das-bainhas, causada por outra espécie do fungo Rhizoctonia oryzae, tem sido observada mais freqüentemente em arroz irrigado no estado de Tocantins.

A queima-das-bainhas ocorre geralmente nas bainhas e colmos, caracterizando-se por manchas ovaladas, elípticas ou arredondadas, de coloração branco-acinzentado e bordos bem definidos, de cor marrom. Em ataques severos observam-se manchas semelhantes nas folhas, porém, com aspecto irregular.
O fungo permanece no solo e nos restos de cultura. O cultivo contínuo da mesma área causa aumento dos danos à lavoura. Adubação pesada e alta densidade de plantas são fatores de desenvolvimento da doença. A doença desenvolve rapidamente após a emissão da panícula.

CONTROLE – O controle químico é recomendado em outros países, mas a viabilidade econômica do controle, nas condições do Brasil, ainda não foi estudada.

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