O clima em pauta

 O clima em pauta

Legislação sobre o clima será cada vez mais exigente

Técnicas podem reduzir o impacto das lavouras sobre o efeito estufa

A adoção de técnicas como o preparo antecipado do solo e o manejo da lâmina de água, associadas à rotação de cultura com a soja ou mesmo à colheita em solo seco, contribui para reduzir a emissão de gases de efeito estufa nas lavouras de arroz. Essa é uma das conclusões que o público do 13° Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado irá ouvir no painel “Impactos e desafios do arroz irrigado face às mudanças climáticas”.

Agendado para a quinta-feira (14/8), o painel reunirá os pesquisadores Sílvio Steinmetz e Walkyria Scivittaro, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na área de clima temperado (Pelotas), o professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Nereu Streck, e o pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão e da Universidade da Flórida (EUA), Alexandre Bryan Heinemann. Heinemann e Streck irão analisar como as mudanças climáticas podem impactar, tanto negativamente quanto positivamente, o mercado e a produção de arroz.

Com uma produção científica voltada à modelagem agrícola e à análise climática para cultivos de arroz irrigado, Heinemann avaliará o cenário de mudanças do clima nos principais polos produtores do mundo e as oportunidades desse contexto para o arroz no mercado internacional. Já Streck irá abordar os desafios e impactos das mudanças climáticas sobre as regiões produtoras do Brasil.

As formas de mitigar os gases do efeito estufa serão abordadas por Walkyria Scivittaro, que, desde 2013, dedica-se ao tema. Segundo ela, são produzidas anualmente mais de 500 milhões de toneladas de arroz ao redor do mundo. As lavouras ocupam 160 milhões de hectares — o equivalente a 11% da área cultivada no planeta — e contribuem com 10% das emissões de gases do efeito estufa.

“Em termos nacionais, a lavoura de arroz não é considerada chave. Porém, o Rio Grande do Sul é, por concentrar 70% da produção nacional. Mesmo não sendo um dos principais segmentos emissores do país, precisamos contribuir com a redução das emissões, pois, desde o Acordo de Paris, quem emite tem que reduzir”, explicou.

REGIONAIS
As opções de mitigação e de adaptação às mudanças climáticas são, conforme a pesquisadora, muito regionalizadas. Isso faz com que soluções viáveis na Ásia não funcionem bem no Sul do Brasil. “No mundo inteiro, um manejo eficiente da água é muito efetivo para reduzir a emissão desses gases. A adoção da irrigação intermitente, do gotejamento, da aspersão e de outros modelos tem grande potencial. Mas, no nosso contexto, temos disponibilidade de água, além de cultivares e sistemas desenvolvidos para o sistema inundado. Adotar um modelo que vai economizar água e reduzir emissões compromete a produtividade. E, como a lavoura de arroz no Rio Grande do Sul tem um custo muito elevado e não há incentivos para a adoção dessas práticas, o produtor fica sem margem para adotá-las, porque sabe que isso reduzirá o rendimento por área”, explicou.

Estratégias mostram eficiência na redução dos gases

Walkyria: rotação é uma das ferramentas para reduzir emissão de gases

Pesquisas demonstram que algumas estratégias têm se mostrado eficientes para reduzir as emissões de gases do efeito estufa por lavouras de arroz, como o manejo da lâmina d’água, o preparo antecipado do solo, o uso de cultivares menos emissoras e a rotação com soja. Segundo Walkyria Scivittaro, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), focada na questão do clima temperado, a alternância de cultivos deixa o solo drenado por um longo período e, quando o arroz é reintroduzido, as emissões são menores. “A rotação, além de favorecer o controle de plantas daninhas, ciclos de pragas e doenças, melhora as características químicas e físicas do solo e reduz a geração de gases pela ausência da saturação do solo. Quando o produtor insere outro cultivo e altera a microbiota do solo, reduz as emissões”, disse.

O preparo antecipado das áreas no outono pode reduzir em até 30% a emissão de gases nocivos ao clima. Conforme Walkyria, quando a operação é realizada na primavera, a palhada do cultivo anterior é incorporada pouco antes da semeadura e da inundação do terreno. Nessa condição, a decomposição da matéria orgânica ocorre sob intensa umidade, gerando metano — um gás com potencial de aquecimento global 27 vezes maior que o do dióxido de carbono, que seria liberado caso a decomposição ocorresse em ambiente seco.

“Mesmo sem a rotação, mas com a intermitência da irrigação, há um ganho ambiental que o agricultor pode ampliar ao optar por cultivares com menor potencial de emissão de gases”, acrescentou. Dados obtidos por Walkyria mostram que o preparo antecipado pode reduzir em 24% as emissões de metano nas áreas arrozeiras e em 21% o potencial de aquecimento global. O uso de cultivares adaptadas pode diminuir em até 60% as emissões, quando associado a práticas de gestão da irrigação voltadas à economia de água. “São técnicas que fazem a diferença”, revelou a cientista.

Colheita no seco

Mara Grohs, coordenadora da estação regional de pesquisas do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) na Região Central gaúcha, é uma das referências no tema e destaca a relevância da drenagem nas entressafras. “Essa é, talvez, a mais importante das operações, pois os micro-organismos mais efetivos necessitam de oxigênio para decompor a palhada. Assim, na semeadura, haverá menor quantidade de massa no solo, o plantio será mais fácil e o balanço da emissão de gases será mais positivo”, explicou.

Outra recomendação é, nas propriedades em que for possível, realizar a colheita em solo seco. “Pesquisas comprovam que podemos drenar a área pelo menos dez dias antes da colheita. A colheita em solo drenado é mais eficiente, economiza até 30% de combustível, diminui o desgaste dos equipamentos e, com o mínimo de revolvimento, em muitos casos, possibilita o plantio direto da cultura sucessória. Além disso, reduz a emissão de gases, pois a água foi retirada 10 dias antes”, explicou.

Esse conjunto de técnicas, somado ao melhoramento genético e aos avanços no manejo, para Mara Grohs, demonstra que o Sul do Brasil elevou a eficiência no controle da geração de gases do efeito estufa. “Passamos, em poucos anos, de 5,3 para 8,5 mil quilos de média produtiva de arroz por hectare, reduzindo a demanda por água e o tempo de alagamento do solo. Incorporamos boas práticas ambientais e podemos afirmar que nossa rizicultura é uma das que mais avança em responsabilidade ambiental e na redução das emissões dos gases de efeito estufa no mundo”, enfatizou. Ela lembrou ainda que o Irga já analisa protocolos de boas práticas agrícolas e sustentabilidade para conferir às propriedades um selo de conformidade ambiental, reconhecido pelo governo federal. “Com o Brasil cada vez mais exportador, este é um trunfo importante para o mercado internacional”, finalizou.

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