O fiel da balança

Economia global do arroz mudou, e a Índia faz toda a diferença no mundo

O cenário mundial de produção, comercialização e preços do arroz mudou muito a partir da pandemia de covid-19. A necessidade dos países importadores em garantir a segurança alimentar e a explosão da inflação dos alimentos influenciam o mercado. A volta do El Niño pôs em risco as safras dos grandes exportadores, barreiras comerciais caíram.

Mas o fiel da balança, para os preços chegarem ao segundo patamar mais alto da história, foi a Índia, maior exportadora, com 22 milhões de toneladas, dona de 40% do comércio global. Em julho, proibiu embarques de quebrados e, em setembro, as vendas do longo-fino e aplicou taxa de 20% sobre o parboilizado.

A reação em cadeia elevou os preços internacionais em até 20% e a um patamar apenas inferior ao mês de agosto de 2008, na crise mundial de alimentos que levou a tonelada na Tailândia para acima de mil dólares. O mundo percebeu que, embora pequeno, em 55 milhões de t, o mercado global se torna deficitário sem o protagonista.

Os importadores se abasteceram na Tailândia, Vietnã, Paquistão, Estados Unidos e Mercosul. Este último vinha de safra fraca e exportação recorde e, mesmo obtendo bons preços, não se manteve competitivo. Argentina, Paraguai e Uruguai entraram 2024 com estoques quase zerados.

O Brasil podia atender alguma demanda, mas com a tonelada do branco acima de US$ 900 e do casca flutuando entre US$ 520 e US$ 570, ficou difícil.

O quadro de oferta e demanda internacional do arroz é justo sem Índia, fora do mercado ao menos até junho. Sensível a preços, a África se reinventa e comprará menos, ao contrário de grandes importadores asiáticos. Com esse cenário, analistas convergem na opinião de improvável queda acentuada nos preços antes de 2025.

O aumento do preço do arroz é a límpida visão de um mundo interligado, em que a decisão de um país pode ecoar através dos continentes, influenciando a qualidade e a quantidade do alimento que chega ao prato em nossas mesas e que os agricultores trabalham para fornecer.

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