O futuro é suave
Custo, impacto ambiental e necessidade de rodar cultivos afirmam a suavização de várzeas
A necessidade dos produtores adotarem a rotação de culturas nas lavouras de arroz irrigado do Rio Grande do Sul, inserindo soja, milho e, eventualmente, pastagens, exigiu o aperfeiçoamento de técnicas que garantam melhores condições topográficas e de piso para reduzir custos e tornar mais eficientes cada uma das operações em busca de sustentabilidade, economia de recursos e produtividade. Neste item, destacam-se a irrigação, drenagem e a própria circulação de máquinas e equipamentos de plantio e colheita nas lavouras sem excesso de taipas e necessidade de reparação das estruturas a cada operação.
Após quase três décadas nas quais a sistematização a laser e aplainamento consolidou-se como referência, esse perfil modelo está sendo superado pela sistematização com declividade variada, também chamada “suavização de várzeas”. Isso porque, se antes a intenção era irrigar e segurar a água para formar uma lâmina de água, agora a drenagem também precisa alcançar nível de excelência e em 24 horas a água da chuva deve estar fora da lavoura, como preconiza a pesquisa agrícola e o manejo para altas produtividades.
Esse modelo é executado com a tecnologia GNSS-RTK (Global navigation satellite system – Real time kinematic; em português, sistema de navegação global por satélite – posicionamento cinemático em tempo real). Há dois tipos, um privilegia a drenagem superficial pela eliminação de todas as depressões da área e outro que, além de eliminar depressões, elimina também elevações (coroas), permitindo a irrigação por sulco nas culturas como soja e milho.
Nesta tecnologia, uma das referências no Sul do Brasil é a BASE Precisão na Agricultura, empresa sediada em Silveira Martins, centro do RS, que além de produzir equipamentos e sistemas próprios para a gestão de águas, é representante exclusiva dos equipamentos para suavização da Topcon no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e mantém ativo sistema de diagnóstico de fertilidade do solo, e fornece diversos serviços e produtos de agricultura de precisão.
Com equipe multidisciplinar, a empresa aplica no campo os princípios agronômicos com a inovação de tecnologias disponíveis no mercado mundial. Os diretores Ademir Wendling, Charles Pontelli e o gerente de operações Pablo Fernandes comandam a empresa, que tem representantes atuando por todo o sul do Brasil e em países vizinhos. Para Pontelli, um rápido posicionamento de estabilidade produtiva em terras baixas passa pelo método de suavização.
Vantagens da suavização
– Elimina lagoas e coroas favorecendo a drenagem e a irrigação.
– Reduz o risco para cultivos de milho e soja em terras baixas.
– Permite irrigação e drenagem por sulco.
– Reduz em até 70% as taipas e economiza em mão de obra.
– Permite antecipar o plantio após chuva.
– Uniformidade no plantio e do estande de plantas (germinação) da lavoura.
– Menos agressiva ao solo do que a sistematização tradicional.
– Menor movimentação de terra em comparação ao sistema convencional.
– Preserva o perfil e a fertilidade do solo.
– Respeita a declividade do solo.
Retorno imediato
Em sua propriedade em Formigueiro (RS), Geovani Weber adotou a suavização de várzeas em busca de solução para os estresses hídricos em suas lavouras de 400 hectares, onde adotou o sistema pingue-pongue (arroz e soja). Depois de alcançar um recorde de produtividade de 105,8 sacas de soja por hectare, em cerca de 50 hectares sobre sulco-camalhão, na safra 2020, seu investimento no sistema já pagou-se. Na temporada atual, a expectativa é de produzir mais de 90 sacas por hectare na média. “O investimento se pagou na primeira safra com sobras. Eu já tinha parte do equipamento e adquiri o kit. Os resultados são tão expressivos que pretendo suavizar toda a área que for possível na propriedade”, garante.
Menor custo, mais eficiência
Rodrigo Coradini, engenheiro agrônomo e produtor em Dom Pedrito (RS), tinha parte de sua lavoura sistematizada, mas considerava o modelo caro e que exigia muita movimentação de terra. O excesso de cortes prejudicava a fertilidade do solo e o tamanho dos quadros atrapalhava as operações com máquinas e equipamentos, pois exige muitas manobras. Com o plantio da soja na várzea, ficaram evidentes os problemas de drenagem. Foi quando conheceu a suavização e a adotou. “É boa ferramenta para melhorar as áreas em pouco tempo, corrigir defeitos e otimizar a mão de obra, reduzir o comprimento das taipas e simplificar a irrigação, sem falar na drenagem eficiente que se traduz em produtividade”, afirma.
Respeito ao solo
No passado a Fazenda São Francisco, em Jaguarão, pertencente ao Grupo Quero-Quero, trabalhou com a sistematização padrão, mas os técnicos identificaram problemas. O modelo não respeita a topografia e direciona toda a caída da água em único sentido. “A suavização respeita o formato do terreno, apenas corrigindo altos e baixos, seguindo o caimento natural e permitindo o fluxo da água na drenagem e na irrigação. Usa menos cortes e aterros, reduz o revolvimento do solo e tem custo menor. Como os solos da região são rasos, é preciso respeitar seus limites para manter a fertilidade. Tem sido fundamental para o cultivo de soja e milho em terras de arroz”, diz Paulo Nolasco, administrador da São Francisco.