O jogo está virando
Solidez na produção garante o abastecimento
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Há anos que os arrozeiros gaúchos, através de suas lideranças, alertam ao Governo Federal que produção com estabilidade e garantia de abastecimento são as principais razões para que a orizicultura gaúcha seja tratada como o principal produtor de arroz do Mercosul e, por conseqüência, o maior abastecedor do mercado brasileiro.
Na safra passada ficou evidente esta situação, o Centro-oeste não confirmou a produção estimada (causas climáticas), a Argentina produziu somente 30% do ano anterior (causas econômicas) e o Uruguai, apesar da produção semelhante aos anos anteriores, mostrou mais uma vez que produz somente para exportar (sem compromisso com o social), buscando sempre o melhor negócio. Para um país com 165 milhões de habitantes, onde 25 milhões passam fome, é incompreensível que um governo entregue a sua maior fonte de produção de alimentos às regras de mercado, submetendo-a aos bombardeios de subsídios, mecanismos de proteção e tarifas alfandegárias.
Pois bem, a safra 2000/2001 provou, mesmo aos mais relutantes, que garantia de produção é fruto de vocação do produtor, características edafoclimáticas e condições equivalentes para produzir. O Rio Grande vindo de condições adversas, uma safra com sérios problemas climáticos, seguidos de duas com preços abaixo dos custos de produção, garantiu 52% da produção brasileira e 45% da necessidade do consumo nacional.
Sem dúvida que fatores climáticos e condições econômicas adversas nos concorrentes foram fundamentais para atingirmos este quadro, mas as mudanças impostas pelo mercado e absorvidas pelos arrozeiros gaúchos proporcionaram que o nosso estado recuperasse a hegemonia de produção de arroz do Mercosul. Consolidada esta posição, chegou a hora de garantir rentabilidade a ela, já que entre todas as produções de arroz que abastecem o povo brasileiro, esta é a mais confiável. Podemos até afirmar: é a única que é confiável.
Vejamos que até na comercialização, histórica deficiência do arrozeiro gaúcho, o comportamento desta safra foi exemplar. O produtor se programou para ofertar o mínimo necessário para suprir suas necessidades de caixa e, com isso, comandou o mercado até agora, superando as dificuldades imediatas do pós-colheita, podendo atingir preços remuneratórios à sua produção. E assim deverá ser até o fim da comercialização: os produtores dando as cartas.
"Para um país com 165 milhões de habitantes, onde 25 milhões passam fome, é incompreensível que um governo entregue a sua maior fonte de produção de alimentos às regras do mercado"
Projeções
O que esperar da próxima safra
• A Produção – Para 2001/2002, o Rio Grande deverá incrementar um pouco a área plantada, chegando ao patamar de um milhão de hectares, com estimativa de produção de 5,5 milhões de toneladas. Uruguai e Santa Catarina repetirão a sua produção. O Centro-oeste, mesmo que reduza a área, deverá atingir a produção de dois milhões de toneladas. A Argentina é a grande incógnita. Sua estimativa mais otimista, entretanto, produção de 800 mil toneladas, não alterará o quadro de comercialização interna da próxima safra. E o mais importante: o Governo não terá estoques em quantidades suficientes para interferir no mercado.
• A Comercialização – Dentro de um consumo nacional constante (11,7 milhões de toneladas), a produção brasileira prevista (10,8 milhões de toneladas), agregada às importações (600 mil toneladas), gerará um déficit de 300 mil toneladas, o que seria suprimido pelo estoque de passagem governamental. O quadro fica, como se vê, extremamente ajustado, o que garantirá preços remuneradores, onde o teto deverá ser estabelecido pela capacidade de compra do consumidor e pelas estratégias da cadeia produtiva, pois tão importante quanto alcançar preços remuneratórios é impedir o crescimento da concorrência.
• A reivindicação – O setor orizícola deveria estabelecer desde já sua estratégia para as próximas safras, substituindo o falso euforismo por preços altos. Os preços correntes ainda são inferiores à média histórica dos recebidos pelos produtores gaúchos. Deve-se gestionar junto ao Ministério da Agricultura melhores condições de créditos aos produtores e, principalmente, a retomada da capacidade de investimento do produtor. Não adianta lucrar duas safras e retornar ao ciclo de excesso de produção e preços baixos.
QUEM É
Adalberto Jardim Silveira é um dos principais consultores em agronegócios do arroz do Rio Grande do Sul. Dirige o Centro Agronegócios Ltda.