O líder arrozeiro

 O líder arrozeiro

Diante da crise que castiga a lavoura de arroz, o presidente da primeira associação de arrozeiros gaúcha, a União Central dos Rizicultores (UCR), Ademar Leomar Konchenborger, o Pinto, assumiu a linha de frente para cobrar medidas de apoio do governo federal.

Aos 50 anos, se divide entre a lavoura de 600 hectares irrigada pelo Rio Jacuí, na Porteira Sete, em Cachoeira do Sul (RS), e reuniões em Porto Alegre e Brasília (DF) levando a crise à mesa de debates.

Há 35 anos na lavoura, é defensor ferrenho dos arrozeiros da Depressão Central Gaúcha. Pinto liderou a reunião “Falência da lavoura arrozeira”, que lotou o ginásio da Fenarroz. Do debate nasceu a Carta de Cachoeira, documento com demandas setoriais para a solução da crise.


ENTREVISTA

Planeta Arroz – Qual a real situação dos produtores de arroz gaúchos?

Pinto Kochenborger – A lavoura arrozeira sempre enfrentou crises relacionadas a baixos preços. Atualmente, o acúmulo de prejuízos das últimas safras e fracas cotações do arroz inviabilizam o negócio para parte dos arrozeiros. Com o custo de produção de R$ 40,00 a saca e preço de venda a R$ 32,00 não há como honrar os compromissos da última safra.

Planeta Arroz
– Quais as causas desta crise?

Pinto Kochenborger – Na safra sempre ocorreu a liberação de financiamentos bancários de pré-custeio e EGF a partir de fevereiro/março, que não houve em função da crise econômica, expondo a fragilidade estrutural do setor. Sem tais recursos, que permitiriam fracionar a venda do cereal, fomos obrigados a vender para pagar os custos da safra, mais altos que o esperado. A oferta baixou os preços, hoje não há muito arroz estocado e não conseguimos pagar as contas pelo descompasso de pelo menos R$ 8,00 por saca entre o custo e o preço de venda.

Em dívida, parte dos produtores foi parar nos órgãos de restrição de crédito. Muitos colegas estão em depressão, desamparados e desmotivados. O “pecado” foi trabalhar muito e produzir alimento barato. Somos vítimas de nossa competência. Não há um segmento que venda o produto abaixo do custo de produção e sobreviva. Isso coloca a maioria dos arrozeiros gaúchos em situação de penúria e indignação.

Planeta Arroz – Há duas categorias de produtores no momento, uma capitalizada e outra endividada?

Pinto Kochenborger – Os arrozeiros, sem exceção, sentem o aumento nos seus custos de produção, pois utilizam os mesmos insumos, que estão mais caros. Destaco que 70% dos rizicultores são arrendatários, dependem do arroz, pois a rotação com soja ainda não apresenta resultados satisfatórios em algumas áreas. Quem possui outras atividades e fontes de renda pode cobrir custos e manter-se, em especial o proprietário da terra.

Planeta Arroz – Há choque de interesses com as entidades?

Pinto Kochenborger
– Os arrozeiros não participam ativamente de suas associações e se unem só em momentos de crise. Com tristeza, reconheço que a classe é individualista, pouco participativa. Por outro lado, ficou claro que nossas lideranças estão distantes do produtor e suas demandas, gerando interpretações antagônicas sobre a realidade da lavoura.

Com a omissão da classe abre-se espaço para que pessoas alheias à realidade do arroz ocupem cargos importantes nas entidades. Os arrozeiros esperavam mais das atuais lideranças e políticos ligados ao setor, pois divulgaram na mídia que o problema era pontual, em algumas regiões, sem gravidade e causado por falhas de gestão. Isto gerou críticas pesadas dos produtores até em Santa Catarina, pois o problema é grave, antigo e conhecido e não foi enfrentado pelas entidades que deviam defender os interesses da lavoura.

Planeta Arroz – Quem são os produtores que tu representas?

Pinto Kochenborger – A UCR, juntamente com as associações de arrozeiros de Tapes e Restinga Seca e colaboração de arrozeiros de todas as regiões, briga e defende a dignidade do rizicultor discutindo com a sociedade a conjuntura do setor, o momento de dificuldade e o efeito nas economias regionais e municipais buscando soluções para minimizar o impacto da crise. Não nos opomos a ninguém, mas falamos a verdade sobre este cenário, apontamos alternativas e criticamos a omissão e o despreparo de quem quer assistir passivamente à falência da lavoura e deveria estar trabalhando em sua defesa. A lavoura emprega milhares de pessoas e move a economia de mais de 200 municípios no Sul do Brasil.

Planeta Arroz – Qual a expectativa com relação à Carta de Cachoeira, encaminhada ao Ministério da Agricultura?

Pinto Kochenborger
– Inicialmente muitos não acreditaram no seu conteúdo, achando que eram propostas fora da realidade. Em poucos dias a pressão setorial gerou o entendimento de que ela representa os verdadeiros anseios da classe e finalmente ela chegou ao Ministério da Agricultura e às lideranças políticas. A entreguei em mãos para a ministra Kátia Abreu.

A crise da lavoura entrou na pauta do agronegócio nacional, possibilitando importantes decisões, como prorrogação parcial de custeios agrícolas da safra 2014/15 e liberação de recursos de comercialização. Esperamos sensibilizar a ministra a manter o canal de comunicação para os problemas da orizicultura, como preço mínimo, liberação de insumos genéricos, redução da carga tributária, incentivo às exportações, campanhas de aumento do consumo, assimetrias do Mercosul e prorrogações de dívidas a juros agrícolas e com pagamento vinculado a um percentual da produção e por prazo compatível com a real capacidade de endividamento.

Planeta Arroz
– O senhor será candidato à presidência da Federarroz?

Pinto Kochenborger – A Federarroz é a principal entidade arrozeira gaúcha, mas atualmente está um pouco distante dos produtores e suas angústias. Nesta safra, após a colheita, passaram-se quatro meses com preços despencando e nenhuma reunião da entidade foi realizada. É inexplicável tal descaso com a nossa realidade e a passividade com este cenário. Isto machucou a categoria e nos motivou a reunir 650 arrozeiros de 34 municípios em 5 de maio em Cachoeira do Sul.

Não tenho pretensão de ser candidato, mas não posso me omitir. Sempre que os arrozeiros que represento na UCR exigirem minha participação em defesa do setor, estarei lá relatando as demandas, críticas e sugestões. No momento represento a comissão dos arrozeiros, formada por 15 produtores do estado, criada e aprovada na reunião de Cachoeira para auxiliar as entidades nas ações que visam solução aos pleitos da classe produtora.

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