O Mea Culpa que todos deveríamos fazer
Autoria: Fátima Marchezan – Produtora, presidente da Associação dos Arrozeiros de Alegrete, Bióloga, Mestre em Agronegócios e Doutora em Manejo e Conservação do Solo e da Água.
A lavoura de arroz faz parte do DNA de muitos produtores. Alguns a herdaram dos pais que herdaram dos seus próprios pais. Se olharmos o cenário dessa retrospectiva histórica, ceteris paribus, concluiremos que esse negócio de fábrica ao relento da lavoura arrozeira não vai mudar. Continuaremos a fazer gestão de lavouras dependendo de modelos climáticos imprecisos.
Ao contrário do ambiente natural, onde comumente se desenvolve a cultura, o nível tecnológico das lavouras e as relações comerciais mudaram muito. No entanto, o mesmo governo que nos estimulou a produzir mais e a investir mais da porteira para dentro, ele próprio não investiu em uma logística adequada de escoamento de uma produção nacional exponencial e, tampouco preocupou-se em firmar relações comerciais estratégicas e protecionistas para um setor tão nevrálgico para a segurança alimentar do país e uma balança comercial positiva.
Fomos induzidos e estimulados a plantar mais, a sermos mais tecnificados e tornarmos nossas lavouras mais produtivas e, para isso, nos qualificamos e investimos em pessoas, maquinários e infraestrutura. As instituições e governos geraram conhecimentos e novas tecnologias e variedades e os técnicos as dispersaram como fatos indiscutíveis.
A maioria de nós evoluiu muito em gestão de processos, mas pouco se evoluiu em termos de associativismos e, me atrevo a dizer, em corporativismo no sentido de espírito de corpo e de grupo. “Os produtores não são unidos”. Escuta-se muito isso dos próprios produtores em um mea culpa crítico, mas em tom que beira à conformidade. De fato. Somos conformistas demais!!
Em épocas de vacas gordas, não se questiona descontos abusivos das indústrias ou se os juros dos empréstimos vão além do justo e, até engolimos, mui serenos, os penduricalhos que o banco nos empurra goela abaixo no momento de tomar os custeios. Em épocas de vacas gordas, os políticos dormem serenos, as entidades não têm dor de cabeça e os movimentos se dissipam. Vivemos apagando fogueira há décadas, mas não nos empenhamos permanentemente em prevenir o incêndio futuro. E aqui estamos, em mais uma grave crise do setor que se mescla a outras – social, política e econômica, que assolam o país.
Já é passada a hora de sermos mais corporativistas e de todas as entidades que representam o setor produtivo trabalharem unidas, com visão estratégica e de forma constante. Está mais do que na hora, do setor produtivo começar a ditar regras para os políticos que dependem dos nossos votos a cada quatro anos e para os governantes que dependem dos nossos impostos para fazerem melhorias na zona urbana, sob a bandeira de emendas parlamentares.
Quando chegarmos nesse nível de consciência, não teremos mais oportunistas de plantão na política partidária e tampouco na classista. A entidades estarão fortalecidas e endossadas por suas bases e os movimentos não terão razão de existir, pois teremos alinhamento de objetivos, traçados através de decisões tomadas de forma transparente e democrática.
Ilusão, utopia… pode ser, para alguns, mas eu ainda acredito na força que temos.
Só precisamos encontrar os pilares e o amálgama para dar início a esse processo.
4 Comentários
Verdade! Só nos unimos em época de crise. Então vamos aproveitar a atual para lançar bases permanentes…nem que leve uma década. PRECISAMOS AMADURECER …
Em minha opinião faltou comentar que a cadeia produtiva não procurou obter informações sobre a percepção dos consumidores e ter iniciativas para desmistificar e corrigir informações equivocadas sobre os reais valores econômicos, sociais e nutricionais do arroz
gostaria de receber cotaçoes de cereais.
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