O mercado global na mira da Fenarroz 2012
Natural de Cachoeira do Sul (RS) e graduado em Economia, Direito e Comunicação Social, o diretor executivo do Sindicato das Indústrias do Arroz do Rio Grande do Sul (Sindarroz-RS), Cezar Augusto Gazzaneo, tem seu nome ligado à Feira Nacional do Arroz (Fenarroz) desde a sua segunda edição, em 1968. Em 1972, assumiu a secretaria da comissão executiva do evento, passando a atuar de forma efetiva nas edições posteriores, trabalho que ganhou maior abrangência a partir de 1996, já à frente da diretoria executiva do Sindarroz-RS. Nesta entrevista exclusiva para a revista Planeta Arroz, Gazzaneo fala sobre sua expectativa para o maior evento orizícola da América Latina, que a partir deste ano passa a priorizar a agenda técnica e a consolidação do arroz brasileiro no mercado global.
Planeta Arroz – O senhor iniciou suas atividades profissionais como jornalista. Nesta época, já imaginava atuar na área da agricultura?
Cezar Augusto Gazzaneo – Minha atividade profissional iniciou no “nosso” Jornal do Povo, em Cachoeira do Sul, há 49 anos, onde atuei como chefe de redação e cronista esportivo, até 1966. Naquele ano, ainda em Cachoeira do Sul, ingressei por concurso público no Banco do Brasil. No BB, 10 anos depois, em 1976, fui transferido para Porto Alegre, atuando na Diretoria de Operações da 7ª Região e na Superintendência Estadual até 1990. De 1991 a 1996, fui gerente das agências de Guaíba e Majestic-Porto Alegre, onde me aposentei em fevereiro de 1996.
Planeta Arroz – E como se deu a ligação com o setor orizícola?
Cezar Augusto Gazzaneo – Tendo nascido em Cachoeira, seria quase impossível não vivenciar a orizicultura. Mas posso dizer que a ligação começou mesmo em 1968, quando, com um grupo de colegas da Faculdade de Economia, fomos incumbidos de elaborar um estudo da economia cachoeirense, cujos subsídios acabaram aproveitados, na época, pelo presidente da 2ª Fenarroz, Loy Marques Ribeiro, que foi uma grande liderança setorial.
Planeta Arroz – Com base na sua experiência na área do arroz, como o senhor avalia o atual momento vivido pelo setor?
Cezar Augusto Gazzaneo – Apesar de dificuldades crônicas, como a questão fundiária e o endividamento de uma parcela significativa de produtores, vejo o atual momento com otimismo. A demanda mundial por alimentos, nas próximas décadas, oferecerá oportunidades a quem for capaz de produzir com qualidade e sustentabilidade. E essa capacidade a cadeia produtiva do arroz do Brasil vem demonstrando, com produtividade crescente na lavoura e evolução constante nos processos de beneficiamento.
Planeta Arroz – Podemos afirmar seguramente que a competitividade da cadeia produtiva do arroz está diretamente ligada à questão tributária e que esta é a maior prioridade da gestão do presidente do Sindarroz-RS, Elton Doeler. Como o senhor avalia a atuação da indústria frente a esta questão?
Cezar Augusto Gazzaneo – A palavra-chave da gestão do presidente Elton Doeler no Sindarroz-RS é “competitividade”, tanto do ponto de vista do arroz gaúcho para o mercado brasileiro como do arroz brasileiro para o mercado externo, e, naturalmente, isso envolve também a questão tributária. Mas há outros gargalos que precisamos trabalhar, como os de infraestrutura portuária e os custos operacionais dos portos e dos fretes marítimos, inclusive para cabotagem. Este é basicamente o foco de nossa gestão.
Planeta Arroz – Como vice-presidente de orizicultura da Fenarroz 2012, qual a sua expectativa em relação a esta 17ª edição do evento?
Cezar Augusto Gazzaneo – A Fenarroz tem uma longa tradição em se constituir num ponto de encontro de todos os elos da cadeia produtiva do arroz, das instituições de pesquisa e dos governos, sendo também uma festa comunitária.
Nesta 17ª feira, penso que não será diferente. Acredito que o foco do setor, neste momento, estará voltado à busca de caminhos que levem o Brasil a consolidar o espaço conquistado no mercado internacional no último ano comercial.
Planeta Arroz – Na 17ª Fenarroz, o senhor estará à frente do Fórum Internacional do Arroz, que vai tratar da comercialização do grão. Podemos afirmar que o fórum será o centro nevrálgico da programação técnica?
Cezar Augusto Gazzaneo – Fui convidado, em dezembro de 2011, a assumir a vice-presidência de orizicultura da Fenarroz, que tem a incumbência de, justamente, montar a programação técnica. Pensamos em montar um fórum internacional do arroz, a exemplo do que a própria Fenarroz promoveu em 1995, com o título de MercoArroz, em função da então recente criação do Mercosul.
Planeta Arroz – A Fenarroz será um evento mais técnico neste ano, com enfoque na comercialização. Esta mudança na abordagem foi uma decisão da comissão organizadora ou partiu dos próprios expositores?
Cezar Augusto Gazzaneo – O pedido dos expositores à comissão executiva, na verdade, foi no sentido de que a feira tivesse um período de realização mais curto e as atividades comerciais fossem mais concentradas, e isto está sendo atendido. As programações festivas, ao gosto da comunidade local, como shows, por exemplo, ficaram para o final de semana, sem colidir com a parte técnica. A programação do Fórum Internacional do Arroz abre no dia 22 de maio, com a assinatura do convênio entre a Agência de Promoção das Exportações (Apex-Brasil) e a Associação Brasileira das Indústrias do Arroz (Abiarroz), com a interveniência do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), visando à promoção comercial do arroz brasileiro junto a diversos países para que o esforço do ano passado não seja perdido. Ainda para este dia, está programada a reunião da Câmara Setorial Estadual do Arroz, quando o diretor técnico da Apex Brasil, Rogério Bellini, apresentará a palestra “Exportar é preciso”. No dia 23, a agenda de painéis técnicos segue, com destaque para a palestra do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, que vai abordar o Ano Internacional das Cooperativas, e a reunião de número 500 do Conselho Deliberativo do Irga. No dia 24, encerrando a programação técnica, teremos o painel “Rumos da produção e do comércio mundial de arroz”.
Planeta Arroz – Como o senhor avalia a atuação dos governos federal e estadual frente às demandas do setor?
Cezar Augusto Gazzaneo – A atuação do governo federal, no ano passado, foi fundamental para viabilizar o recorde histórico de exportações brasileiras de arroz, superando 2 milhões de toneladas, o que ensejou a reação dos preços internos no segundo semestre. O governo estadual, por sua vez, também tem se esforçado, com a reativação da Câmara Setorial estadual.
Planeta Arroz – Na sua avaliação, o que o Brasil precisa fazer para aumentar sua participação no mercado global de arroz? A saída para a produção brasileira, que já supera o consumo interno, são as exportações?
Cezar Augusto Gazzaneo – Desde quando o trabalho de fomento do Irga, denominado Projeto 10, começou a incrementar a área plantada e a produtividade, o setor industrial tinha a percepção de que seria necessário exportar pelo menos 10% de nossa produção para ter equilíbrio no mercado interno. No ano passado, este índice foi superado, com uma aceitação excepcional do nosso produto pela sua qualidade. Agora, estamos diante de uma safra bem menor, daí o desafio de tentar manter o espaço conquistado.
Planeta Arroz – Como o senhor vê a questão do Mercosul e o que precisa mudar nas relações entre os países do bloco?
Cezar Augusto Gazzaneo – A produção de arroz nos países do Mercosul, convém lembrar, ganhou impulso – inclusive com a participação de empreendedores brasileiros – quando o Brasil era importador líquido do cereal, ou seja, não produzia o suficiente para atender seu consumo interno. Hoje, o bloco como um todo está revelando capacidade de gerar excedentes exportáveis de qualidade, e o Brasil pode tirar proveito da nova situação se assumir a liderança desse movimento exportador.