O Ocaso da Lavoura Arrozeira
Autoria: Benvindo Gaspar Ferreira Neto (Eng. eletrônico, Bacharel em Ciências Contábeis e rizicultor).
A lavoura arrozeira, que vem sofrendo uma perda de lucratividade constante desde os anos 90, em 2000 recebeu um duro golpe por parte do cartel da indústria quando tabelaram, naquele ano, o preço a ser pago aos produtores pela saca de arroz.
Desde aquela data, a cada ano que passa a situação vem piorando e os produtores vêm tendo cada vez menos receita pela sua produção; a renda liquida cada vez diminui mais; e os custos, por outro lado, estão cada vez mais altos.
A perda de valor da saca de arroz é impressionante. Próximo ao ano de 2005 uma saca de arroz valia o dobro de uma saca de soja, hoje a situação inverteu totalmente, a saca de soja é mais que o dobro de uma saca de arroz.
Com toda a inflação e aumento de custos nesses anos todos, o arroz muito pouco se valorizou. O custo de produção calculado pelo IRGA da safra 2014/2015, para uma produtividade média de 147,91 sc/ha foi de R$ 38,69. O mercado estava pagando a poucos dias ao redor de R$ 33,00 a saca. O custo de produção médio ponderado era, para a safra passada, de R$ 5.722,19/ha.
De janeiro para cá, tivemos aumentos espetaculares na energia elétrica, o dólar ultrapassou a barreira dos 60% de aumento. Adubos, fertilizantes, defensivos, herbicidas, todos em sua maioria tem sua composição de custo uma influência pesada do câmbio.No adubo e uréia os aumentos ultrapassam de longe os 30%.
Tivemos aumentos de combustível, salário, tudo está subindo ao redor ou superior a 10%. O preço do arroz pago ao produtor teve queda em relação ao ano passado quando se comercializou por até R$ 37,00.
Os custos de produção para a próxima safra poderão chegar próximo a um aumento de 25%, o que daria um custo no próximo plantio superior a R$ 7.000,00/ha. Há quem diga que pode até ser superior a esse valor.
Para um custo desses, com um preço de venda de R$ 33,00 a produtividade deveria ser igual a 212,12 sacas para que o produtor empatasse a despesa com a receita. Em outras palavras, trocar seis por meia dúzia. Essa produção equivaleria a um produtividade de 369 sacas por quadra, enquanto a média estimada pelo IRGA no cálculo anterior era 147,91 por hectare, ou seja, 257 sacas por quadra.
O custo por saca, tomando os R$ 7.000,00 seria de R$ 47,32 por saca. Isso é, para empatar o custo de produção com a venda.
Existe uma distância enorme entre essa produtividade e aquela que se torna necessária para cobrir os custos da próxima safra. É praticamente impossível chegar lá, donde se conclui que quem plantar arroz para vender aos preços praticados hoje, vai perder, e muito, dinheiro, pois não vai ser gastar seis para receber meia dúzia, mas investir seis para receber 4,2 de volta, alguns com mais tecnologia poderiam conseguir cinco, mas com certeza vão amargar grandes prejuízos.
Assim, não podemos chegar a uma outra conclusão afora a de que a lavoura arrozeira está com os dias contados, pois é insustentável economicamente!
Quem permanecer na atividade, se nada for mudado, vai fatalmente quebrar!
Só depende do quanto de gordura se tem para queimar ainda, pois poucos são os que ainda têm.
A indústria alega que o mercado é que impõe o preço de venda, que o arroz do Paraguai e do Mercosul é barato e regula o preço do mercado. Entrentanto, uma coisa é inequívoca: o produtor é o elo mais fraco da cadeia e na atual conjuntura aparentemente não tem direito a ter ganho algum, virou escravo do sistema, capataz dos senhores de engenho sem direito a salário.
O produtor tem uma só safra por ano e efetua uma só venda por saco de arroz por ano, mas tem prejuízos ou na melhor das hipóteses, empata. A indústria e o varejo, por outro lado, giram perto de 12 vezes ao ano, isto é, num ciclo próximo a 30 dias, compram do produtor, processam, vendem e recebem em 30 dias. O giro fica em torno de 12 vezes ao ano.
O preço de arroz de ponta no supermercado, aqui na região produtora vale próximo a R$ 16,00, o saco de 5Kg. Um saco de arroz de 60 de inteiros resulta em pouco mais que um fardo ou seja 30kg, são na realidade 6 vezes os 5 kg do pacote, que vendido resulta na ponta final ao consumidor R 96,00.
De R$ 33,00 pagos ao produtor, se transforma em R$ 96,00 ao consumidor. Ora, R$ 96,00 dividido por R$ 33,00 dá um ganho líquido do sistema em 190%. Veja só: 190%, ganham, repartem a indústria e o varejo em cima do arroz do produtor.
Lógico, há um outro sócio aí: o governo! Vamos dividir por 3, então, ou seja, um percentual superior a 63,3% por operação.
Seguramente, eles tem despesas, mas já tirei a parte do governo.
Se calcularmos que dê 20% líquido com 12 operações ao ano dá a bagatela de 791% líquido ao ano.
Se aumentarmos para uma margem líquida de 30% por operação a juros compostos de 30% com n=12 temos 2.229%.
Realmente, é até um caso de Policia o que ganham nas costas do produtor, tanto a indústria como o varejo. Enquanto os produtores amargam prejuízos, os outros riem de tanto ganhar dinheiro.
É um caso típico de abuso de poder econômico, cartelização e outros.
O governo tem uma enorme culpa por deixar o produtor desamparado, por falta de uma política agrícola, de fixar um preço mínimo real e justo, não permitir a exploração do agricultor.
Na realidade, como o arroz é a comida do pobre, quanto mais baixo o preço melhor, não se importando que com isso esteja exterminando com a lavoura arrozeira do Brasil.
Tomara Deus que não ocorra, mas a outrora lavoura que distribuia riquezas, hoje está contribuindo com a disseminação de miséria e choro para muitos.
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Benvindo, tomo a liberdade de compartilhar seu artigo no intuito de levar sua visão às lideranças e seus economistas, comentaristas de jornais e revistas e produtores.