O perigo mora ao lado
Além dos preços baixos, a ótima produção poderá inflar os estoques do Cone Sul
Mercosul colhe uma de suas maiores safras: 16,8 milhões de t
Os quatro países que compõem o Mercado Comum do Sul (Mercosul) — Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai — produziram juntos, na safra que está encerrando, um total de 16.846.400 toneladas de arroz em casca, consolidando um avanço de 17,5% em grãos colhidos, ou 2,508 milhões de toneladas, sobre a temporada anterior. Parte do crescimento produtivo está associada à produtividade, que alcançou média de 7,2 toneladas por hectare, e outra parte deve-se a um avanço de 9,2% em área, para 2.337.979 hectares. A diferença sobre a superfície semeada em 2023/24 chegou a 197.079 hectares, área que é maior do que toda a superfície semeada no Uruguai, por exemplo.
O Brasil, com cerca de 105 mil hectares, e o Uruguai, com 34 mil hectares, foram os países que mais ampliaram a área de plantio em 2024/25. Considerando os estoques iniciais em primeiro de janeiro de 2025, de 2.613.525 toneladas, chegamos a um suprimento de 19.459.925 toneladas, diante de um consumo interno previsto de 11.425.500 toneladas nos quatro países do Cone Sul. Logo, há 8.034.425 toneladas de excedentes disponíveis para formar estoques e/ou exportar.
Considerando que o Brasil é o único dos quatro países que importa dos vizinhos, e que esse volume deve chegar a 1,3 milhão de toneladas, sobram mais de 6,7 milhões para negociar. Com média de 2,8 milhões exportáveis para terceiros países, ainda assim haverá excedentes e, segundo a Confederação dos Moinhos de Arroz do Mercosul (Conmasur), o Brasil poderia virar o ano civil de 2026 com mais de 4,3 milhões de toneladas em estoques, então considerando o Chile neste bloco.
Esse volume, portanto, seria suficiente para seguir pressionando as cotações em todo o bloco econômico, ainda que a safra 2025/26 seja menor, o que é preocupante. A estimativa é de que, havendo água para a irrigação, a área a ser semeada na temporada 2025/26 fique próxima da atual. O que pode determinar uma redução mais drástica são os preços ao longo deste ano. Preços mais fracos poderão gerar a migração de, pelo menos, 100 mil hectares para a soja em rotação com o arroz.
FIQUE DE OLHO
Reunida no fim de maio em Assunção, no Paraguai, a Conmasur apontou a previsão de um estoque de 3,67 milhões de toneladas de arroz, em base casca, apenas no Brasil, na virada para o ano comercial 2026, número que preocupa. No entendimento da entidade, segundo seu levantamento interno, o bloco teria cerca de 3.510.000 para exportar em 2025/26. Ainda para a confederação, após perder a janela de janeiro a maio, quando os preços internos não acompanharam a queda internacional e o produtor segurou as vendas esse quadro pode agravar-se.