O peso da qualidade

 O peso da qualidade

Arroz de maior qualidade é mais valorizado do produtor ao consumidor

Mercado premia o diferencial e não o peso.

A alta produtividade da lavoura de arroz é um diferencial importante e reflete no resultado final da comercialização. A filosofia do “mais em menos”, instituída pela Revolução Verde, na década de 70, ainda se aplica às lavouras arrozeiras, mas com ressalva de dois fatores cada vez mais decisivos: a relação custo e benefício e a qualidade do produto final. Este último fator faz diferença no mercado brasileiro a duas safras. 

O Brasil colheu produção recorde, mas a qualidade média do cereal esteve abaixo das outras safras, mesmo no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso. Este cenário evidenciou tendências. Por falta de matéria-prima, a indústria gaúcha instituiu premiação de até 10% sobre o preço de mercado das variedades de elite, como Irga 417 e BR-Irga 409. 

Esta mudança do perfil de negócios com a qualidade se sobrepondo às compras por peso – desconsiderando a máxima de que “arroz é arroz” – ganha fôlego nos principais estados produtores. No Mato Grosso, a variedade Primavera se sobrepõe a qualquer outra. 

Este processo também é ditado pela tendência do mercado, que aponta preferência do consumidor por um arroz de maior qualidade. “Está comprovado que à medida que o arroz tem redução de preços ou aumenta o poder de compra do consumidor, há uma migração para um produto superior”, frisa o especialista em consumo Tiago Sarmento Barata. 

Produto superior, pagamento também

O diretor de mercados da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Valdemir João Simão, explica que toda a cadeia produtiva está envolvida com este processo: os pesquisadores observaram as ten-dências do mercado, desenvolveram e lançaram novos materiais que entraram no processo de produção. O consumidor experimentou e gostou, passou a buscar nos supermercados e estes passaram a cobrar da indústria. A partir daí, as empresas de beneficiamento passaram a valorizar um produto com novo padrão. Para Simão, a safra com bastante arroz fraco apenas acelerou esse processo. E o mercado sinalizou que pode pagar um pouco mais por este diferencial. 

Um exemplo é o que acontece na fronteira e no litoral norte gaúcho, onde a indústria estabeleceu preços até R$ 2,00 acima do mercado corrente para as variedades Irga 409 e Irga 417 com mais de 60% de grãos inteiros. Para uma lavoura descapitalizada e com preços de mercado abaixo do custo médio de produção, o impacto desse preço diferenciado por uma variedade pode significar o resultado líquido da atividade arrozeira. Mesmo assim, o produtor precisa qualificar seu processo produtivo para obter esses resultados e aplicar em cada prática agronômica conceitos de qualidade. 

“Mas é preciso fazer as contas e buscar o equilíbrio entre a qualidade do produto final e a sustentabilidade da lavoura”, frisou João Simão. Ainda assim, há um fator de pressão. Segundo ele, o produtor tem que fazer as contas e ver se a curto e médio prazos vale a pena buscar um produto superior ou seguir produzindo um arroz que o mercado está excluindo. 

 

Qualidade é resultado de um processo

O que determina a qualidade do arroz são as características físico-químicas dos grãos de cada cultivar e a tecnologia empregada no processo de produção. Os principais fatores, que dependem das características individuais de cada cultivar, são aparência, teor de amilose, temperatura de gelatinização, rendimento de grãos inteiros e renda total. 

Quanto à tecnologia empregada no processo, os principais são preparo de solo adequado, drenagem, taipas baixas (para irrigação e maturação uniforme), semente de qualidade, época de plantio, adubação de base, bom controle de inços, adubação de cobertura, irrigação e ponto de colheita, enfim a exploração máxima dos recursos naturais, manejos e o emprego adequado da tecnologia. 

Além disso, é importante uma boa secagem e armazenagem. É em função desses fatores que se pode produzir um produto diferenciado e de alta qualidade, onde o consumidor possa ser seduzido pela aparência e que fique satisfeito quando ao prato por ficar soltinho, saboroso e 100% cozido.

 

Diferencial é preço

O analista de mercado de arroz da Safras & Mercado, Aldo Lobo, acredita que esse excesso do cereal e o grande volume de produto de baixa qualidade vão sinalizar com a possibilidade de preços melhores por arroz de melhor qualidade. “Há uma tendência natural de que a indústria busque arroz de qualidade superior. O que pode complicar é a existência de produto com essas características no Mercosul, que tem um grande excedente”, frisou. 

Jorge Fagundes, da Corretora Futura Cereais de Cuiabá (MT), também acredita que o arroz Primavera de melhor qualidade obtenha melhor remuneração se o mercado se mostrar comprador. “No momento, há muita oferta de arroz importado e arroz gaúcho e catarinense a preços competitivos e pouco arroz de melhor qualidade nas mãos dos produtores do Mato Grosso. Quando a indústria quiser esse produto, terá que pagar um preço diferencial, a menos que o produtor se obrigue a vender antes pela pressão das contas e formação de uma nova lavoura”, enfatizou.

Questão básica
A norma de classificação e padronização do arroz brasileiro é datada de 1988, quando atendia as características das variedades então existentes. Atualmente, dezenas de novas variedades com características diferenciadas estão no mercado, exigindo a atualização da lei. Existem trabalhos na cadeia produtiva para a atualização das normas.

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