O pior já passou

 O pior já passou

À espera de preços melhores e ações do Governo Federal, arrozeiros mantêm vigilância

A crise estabelecida no mercado brasileiro de arroz, pela depressão de preços provocada por excesso de produtos, tende a ser gradualmente minimizada, segundo avaliação de alguns dos principais analistas do setor. Aldo Lobo, da empresa Safras & Mercado, considera que o pior já passou. “Apesar da demora do Governo Federal em aportar recursos para a comercialização e o tímido funcionamento dos contratos privados de opção, que chegou com atraso, a tendência agora é de estabilidade e uma lenta recuperação dos preços. Infelizmente, não ao ponto de superar o custo de produção”, frisa. 

Segundo o analista de Safras, mesmo com uma provável ação de compra do Governo Federal, dificilmente os preços voltarão aos R$ 30,00 nos próximos 90 dias. “Seria a realização do milagre pelo qual os arrozeiros estão rezando”, comenta. O analista Tiago Sarmento Barata destaca que enquanto há o ingresso contínuo de arroz do Mercosul, o Governo Federal resiste em dificultar esse fluxo. 

“Percebe-se claramente que existe o receio de que a proteção do cereal nacional cause um aumento dos preços nas gôndolas dos supermercados, o que acarretaria numa pressão inflacionária, já que o arroz é um dos principais componentes da cesta básica”, explica Barata. Os consultores são unânimes em dizer que a expectativa de um estoque final recorde no Brasil gera uma previsão de preços nada animadores. 

Corrigindo o quadro de suprimentos da Conab, chega-se a uma estimativa que equivale a aproximadamente 68 dias de consumo. “A esperança fica na possibilidade do Governo enxergar que a crise no setor trará, e já traz, prejuízos enormes à economia nacional, e acene com medidas reparatórias”, diz Barata.

Questão básica
O consultor de mercados Marco Aurélio Marques Tavares considera que para acontecer uma recuperação de preços de acordo com a real necessidade do setor, três ações são necessárias: restrição, salvaguardas ou compensação interna para a entrada de arroz do Mercosul; aumento das exportações em volumes significativos (pelo menos 300 mil toneladas) e a intervenção do Governo Federal no mercado com mecanismos que retirem de circulação 1,5 milhão de toneladas no Sul e no Mato Grosso. “Essas três ações se completam e têm o poder de alavancar, mediante ajustes, outros mecanismos, como os próprios leilões privados de opção, CPR Rural, entre outros”, frisa.

 

Razões da crise

– Brasil colhe 25,9 milhões de toneladas de arroz em duas safras seguidas, um recorde absoluto 

– O estoque de passagem de 2004/2005 passa de 1,5 milhão de toneladas, mais de 1,1 milhão de toneladas vindas do Mercosul 

– Faltam mecanismos eficientes para equilibrar o fluxo de comercialização no mercado brasileiro 

– Uruguai e Argentina concentram 80% de suas exportações para o Brasil e lucram com a isenção de PIS/Cofins 

– Vantagens competitivas do Mer-cosul (menor tributação, menor custo de produção, Reintegro – subsídios governamentais) 

– Resíduo de importações desne-cessárias dos Estados Unidos, Ásia e terceiros países em 2003 e 2004 

– Câmbio duplamente desfavorável. O dólar em baixa favorece importações e dificulta a venda externa. Os arrozei-ros compraram insumos com o dólar acima de R$ 2,80, com o custo de pro-dução indo para R$ 30,00/50 quilos. Em maio, vale R$ 18,00 no mercado 

– Baixo volume de exportação: 92 mil toneladas base casca. Precisava ter exportado 250 mil toneladas. 

– Morosidade de ação governamental ao implantar o contrato privado de opções e falta de recursos para bancar o enxugamento do mercado

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