O planeta do grão universal
O arroz (Oryza sativa) é um dos principais exemplos de como o ser humano pode dominar espaços e interagir de forma sistemática com a natureza. Ao utilizar as várzeas de seus rios para o cultivo de cereais, principalmente o arroz, que servissem de base à alimentação, os primeiros grupos organizados de pessoas, há seis mil anos, fixaram-se em áreas determinadas de terra, fundando cidades e civilizações.
A Revolução Agrícola fez surgir as primeiras instâncias de poder, a luta pela justiça, as primeiras leis e os primeiros estados. A necessidade de tornar científica a lavoura, para aumentar a produtividade e alimentar a crescente população mundial, fez o homem utilizar-se das ciências, da escrita e da matemática. O homem queria entender a lua, o sol, os dias e a chuva.
Na Idade Média, os grãos, essencialmente o arroz, eram os principais elementos de aglutinação civilizatória do Ocidente ao Oriente, chegando à Idade Moderna como as principais alavancas de um primitivo ideário econômico-filosófico, o capitalismo. Alimento, fomentador da inteligência humana e instrumento de poder político e econômico, o arroz, sobressaindo-se aos demais cereais, tornou-se verdadeiro ouro e célula da humanidade.
Este planeta é o Planeta Arroz. Esta publicação é uma tentativa de desvendá-lo ao leitor e ao produtor. Nas próximas páginas estão resumidas algumas das mais intensas experiências técnicas que os governos, laboratórios e institutos vêm tentando desenvolver para aumentar a produtividade e a qualidade desse arroz. Não é um documento definitivo, mas é um trabalho técnico, elaborado a partir da experiência e da emoção de um jornal que convive há 70 anos com a lavoura arrozeira. Boa leitura.
Jornal do Povo, abril de 2000