O que tem cozinhado em fogo alto os preços do arroz?
(Por Gisele Loeblein/GZH) Com uma sequência de 21 semanas de alta, o preço da saca de arroz também chegou ao maior patamar nominal da série histórica do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq-USP/Irga: R$ 113,83 na cotação de terça-feira (14). Descontada a inflação, a quantia ainda não bate os registros da segunda metade de 2020. Neste momento, entre os ingredientes que temperam o avanço estão a oferta ajustada e o pico da entressafra, com pitadas de fatores novos que prometem sustentar o avanço. Pesquisador do Cepea, Lucilio Alves pondera que, na origem desse movimento de valorização, está um histórico que precisa ser considerado:
— O contexto atual vem de um ambiente de longos anos. Uma relação, em um primeiro momento, de redução de demanda, que implicou em pressão sobre as cotações e na redução da rentabilidade do produtor. Consequentemente, ele foi fazendo a substituição de áreas por culturas ou atividade mais rentáveis, buscando um equilíbrio entre volume ofertado e demandado, e, claramente, o nível de preços atrativos.
Com oferta praticamente estável, mas um bom fluxo de demanda, interna e externa, o que aconteceu em 2023 foi uma redução dos estoques. Alves diz que para o final do ano, a quantidade disponível equivale a cerca de 60 dias de consumo.
Presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz-RS), Alexandre Velho lembra que, na última safra, se cultivou uma “das menores áreas” das duas últimas décadas. Reflexo da baixa rentabilidade da cultura.
— A valorização de hoje é consequência da desvalorização do passado. A consequência é que viemos trabalhando com estoque cada vez mais ajustados — reforça Barata.
Diretor comercial do Irga, Ailton dos Santos Machado ratifica o baixo nível dos estoques como catalisador da curva de ascensão das cotações, realidade também nos países vizinhos do Mercosul. No cenário global, grandes produtores e exportadores, caso da Tailândia e da Índia, também enxugaram a oferta. Os especialistas garantem, no entanto, que não há risco de faltar produto. Embora menos intensos, fatores novos tem se somado à conjuntura de alta.
— As dificuldades de plantio estão deixando o mercado mais nervoso porque já sabemos que haverá um atraso na colheita de parte da área plantada no RS — observa o presidente da Fedarroz-RS.