O respeito é bom, e conserva as amizades!

Autoria: Cleiton Evandro dos Santos – Jornalista especializado em Agronegócios.

Quem se depara com a notícia publicada na edição de hoje, quinta-feira, 27 de agosto, no Jornal do Povo de Cachoeira do Sul (RS) e reproduzida em Planeta Arroz, não têm como deixar de surpreender-se com a informação de que o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul, Henrique Dornelles, partiu para a briga com um produtor de Viamão, identificado como Marcelo Goulart – que confirmou ter sido agarrado pelo pescoço – em reunião ocorrida nesta quarta-feira, no CTG José Bonifácio Gomes.

Em primeiro lugar porque Henrique Dornelles é um homem de fino trato, simpático, transigente e cordial, que dificilmente altera o tom de voz. Essa cordialidade, no entanto, não quer dizer que não seja radical na defesa de seus pontos de vista ou de sua gestão à frente da entidade, quando julga que assim o deve ser. Ninguém se faz líder por acaso. E se não fosse forte na defesa de seus pontos de vista, não seria ele um líder eleito por sua categoria.

Não estive presente ao evento, embora o parque do Sindicato Rural e o CTG José Bonifácio Gomes sejam uma das minhas casas em Cachoeira. Tudo o que sei me foi dito por colegas jornalistas que levantaram os fatos ou pessoas, alguns deles amigos pessoais, que estiveram presentes à reunião.

E pelo que ouvi, antes de perder a paciência e dirigir-se de forma mais áspera a um dos produtores, o presidente da Federarroz foi duramente atacado verbalmente. Inicialmente, com críticas severas à sua gestão, o que é o ponto de vista de alguns e direito de seus associados, mas também com generalizações e ofensas pessoais. E não apenas pelo cidadão que acusou ter sido agarrado pelo pescoço.

Ora, mesmo um líder setorial dos mais gentis, não tem sangue de barata e pode perder a compostura quando lhe são dirigidas ofensas que transcendem o campo profissional ou setorial.

Um homem é um homem, e reage às emoções.

É claro que isso não é desculpa para um comportamento inadequado e que, fora daquele ambiente que se mostrava nocivo, fica fácil dizer que o dirigente poderia ter levado o assunto sem se alterar. E o produtor também. Mas, lá, em meio a um grupo de detratores – e deixemos claro que nem todos os presentes o eram –, na aspereza da discussão, na elevação do tom de voz, na acusação mútua, a reação ora divulgada – e de ambos – foi puramente um reflexo humano.

Ótimo que alguns presentes tiveram o sangue-frio necessário para evitar que ambos chegassem às vias de fato.

Todos sabemos que o presidente da Federarroz não saiu de casa, nesta quarta-feira, pensando em ir a Cachoeira do Sul para brigar com alguém. Pelo contrário, me parece que ao aceitar reunir-se com o grupo que lhe vem fazendo oposição e críticas veementes, até porque sabem aonde o calo lhes vem apertando – integrado por lideranças de Tapes, Cachoeira do Sul, Restinga Seca, Viamão, entre outros, Dornelles foi até certo ponto ingênuo.

Digo isso porque já houve outras discussões ríspidas em Cachoeira mesmo, e em Alegrete. Ele sabia o tipo de discussão que enfrentaria, as opiniões e a dimensão dos problemas e da angústia daqueles que o aguardavam.

Mas, tenho certeza que chegou de alma desarmada, debruçado sobre seus argumentos e pacífico, como sempre, embora com um pé atrás, como outros que ali estiveram.

Talvez Dornelles, com um pouco mais de experiência, devesse ter convidado algumas lideranças que compartilham de suas ideias para ajudarem no contraponto e no equilíbrio da discussão. Talvez, ainda pela inexperiência das relações político-setoriais pudesse ter evitado o discurso adotado de que os preços do arroz agora estão subindo, conforme a entidade “planejou”.

Para quem já vendeu a produção e está no prejuízo, fica a impressão de que a Federarroz tem responsabilidade sobre o movimento atual de mercado e também o teve quando os preços caíram. E que se omitiu quando estes produtores precisaram vender tudo o que colheram apenas para pagar parte das contas, as mais urgentes.

A Federarroz não “planejou” a recuperação dos preços, apenas estimou que ocorreria esse processo com base nos fundamentos e nos movimentos do mercado, e até mesmo nas conclusões de diversos analistas. É preciso deixar isso claro. O mercado não é ditado por decreto ou "planejamento" de apenas um de seus segmentos. Ele é um ente com vida e vontade própria. E cruel.

Não é a primeira vez que um presidente da Federarroz enfrenta críticas mais agressivas. Nem será a última.

A nós, que fazemos parte desta cadeia produtiva, resta torcer para que o episódio seja rapidamente superado e que toda essa energia das lideranças setoriais se concentre, definitivamente, na busca de solução dos problemas que afligem à categoria, como a alta dos custos de produção e dos impostos, a perda de benefícios, as dificuldades de logística para exportar e a inoperância – ou até contrariedade em alguns casos – das ações dos governos estadual e federal para com os produtores de alimentos. E, claro, o endividamento!

Este é um momento em que os arrozeiros precisam estar unidos contra tudo e contra todos, e não divididos em grupos distintos e brigando entre eles. Seja por quais motivos forem.

Que o lamentável ocorrido sirva de lição a todos, inclusive àqueles que não se envolveram diretamente, mas potencializam a negatividade com comentários levianos nas redes sociais, ou pessoalmente, acrescentando nitroglicerina a um ambiente que, por si, já é explosivo.

O respeito é bom, e conserva as amizades!

3 Comentários

  • Caro jornalista Cleiton Evandro dos Santos, críticas contundentes acerca de atitudes por quem não está envolvido diretamente em uma situação extremada, como é caso de produtores premidos por uma atividade em que a dedicação de gerações, passadas de pai para filho, são levadas ao limite extremo de comprometimento de suas finanças, não podem simplesmente ser alvo de críticas por quem não participa diretamente da atividade em tela.
    É claro que respeito é bom e conserva os dentes, mas antes de opinar é preciso vivenciar e participar da tensão do momento em que o setor vive,
    portanto cobranças fortes encima de lideranças representativas se faz necessário, com educação é claro, nada justifica agressões verbais ou mesmo físicas, com descontrole não se vai a lugar algum.
    Nestas situações de crise, o bom senso manda que lados não devem ser tomados e sim posições expostas de forma democrática e educadas, mas de forma forte e objetiva,por que de conversa mole todos já estão saturados.

  • O setor vive uma crise das maiores enfrentadas até hoje, nossas lideranças sempre estiveram do nosso lado até pouco tempo atrás, mas hoje em dia eles temem levar a voz do homem do campo até os governantes, sabe-se lá o porque, talvez por medo, entao senhor jornalista, o Dornelles foi eleito por nos para nos representar e nao para fazer o que ele esta fazendo que é politicagem dentro da Federarroz, Dorneles é nosso funcionario e nao esta fazendo seu papel, quando em inicio de agosto no encontro da UCR ai em Cachoeira do Sul, nem se quer esteve presente, mandando um representante, e, tambem juntamente com o Sperotto nao fizeram a entrega da Carta Cachoeira, elaborada nesta reuniao para a ministra Katia Abreu . Portanto em resumo, Dorneles e Sperotto estao com os dias contados nas instituiçoes!!!

  • CONCORDO PLENAMENTE COM O COLEGA DE SG,QUEM QUER FAZER POLITICA VAI PARA A POLITICA,ESSES ENTIDADES DEVERIAM SER GERIDAS POR PRODUTORES MESMO SEM CONVENIENCIA POLITICA E IDEOLOGICA,POR GENTE DE CAMPO E NÃO POR QUEM TEM CAMPO E ESPECULA COM O SUOR DOS OUTROS!!!

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