O trator invade os campos de arroz no Paraná

O cultivo mecanizado, que abre nova safra na região de Paranaguá, dispensa esforço físico desumano dos agricultores. Em áreas de até 40 hectares, todo o serviço pode ser realizado por até duas pessoas.

Na última década, o plantio de arroz irrigado, uma atividade secular, sofreu transformações significativas nas práticas de manejo. As etapas de produção preparo da terra, plantio e a colheita –, antes realizadas de forma manual, ganharam o reforço das máquinas, na sua maioria adaptadas para os banhados.

O cultivo mecanizado, que abre nova safra na região de Paranaguá, dispensa esforço físico desumano dos agricultores. Em áreas de até 40 hectares, todo o serviço pode ser realizado por até duas pessoas.

“Quando eu comecei, o plantio era feita com as mãos. Tinha que contar os passos e utilizar sempre a mesma força para lançar as sementes e evitar que uma área ficasse com muito e outra com pouco arroz. Nós caminhávamos o dia inteiro dentro dágua e parecia que não rendia”, conta o agricultor Osmar Baumann. “A colheita era feita no sistema de mutirão. Cada vizinho ajudava o outro.”

Hoje, um trator adaptado prepara o solo dos tanques e também faz a distribuição das sementes de forma uniforme na propriedade de 45 hectares de Baumann em Paranaguá. Após o ciclo de 120 dias e com a retirada da água, uma colheitadeira semelhante às utilizadas nos campos de soja faz o apanho do arroz.

“Hoje é só sentar nas máquinas e cuidar para a coisa sair direito”, reforça o produtor, que trocou uma porção de terra na cidade natal de Garuva, em Santa Catarina, para apostar no litoral do Paraná.

O agricultor Rodrigo Maciel Campregher, 29 anos, também viu a transformação da rizicultura. Ele chegou ao litoral paranaense há 12 anos quando comprou a propriedade onde vive com a esposa e o filho pequeno. Hoje planta arroz irrigado em uma área própria de 47 hectares em Paranaguá e outra arrendada de 67 hectares em Morretes.

“Eu cresci no meio do banhado ajudando meu pai a plantar. Hoje é tudo mecanizado e cada ano fica mais moderno”, afirma. Original de Jaraguá do Sul, Santa Catarina, onde o pai Juvêncio planta arroz irrigado há 40 anos em uma área de 37 hectares, o produtor tem na cultura a única fonte de renda.

“Quem planta arroz irrigado tem que fazer só isso. É uma atividade que demanda bastante serviço e cuidados, tipo uma criança. Não pode descuidar. É o que sei fazer e tenho planos de continuar”, complementa.

Na safra passada, ele colheu, em média, 150 sacas por hectare, o que permitiu, descontado o custo operacional (desembolso) de produção, atingir uma renda de R$ 2,5 mil por hectare. Toda a produção é repassada para cooperativa Juriti, no estado catarinense.

Litoral

Nos próximos meses, parte dos banhados à margem da rodovia Alexandra-Matinhos, que liga a capital ao litoral do estado, vai ganhar ares de terra fértil. As áreas estão sendo preparadas para receber as sementes de arroz irrigado. Os grãos chegam pré-germinados às unidades produtivas. Basta que afundem para criarem raízes no lodo.
De acordo com dados da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab), o cereal irá ocupar uma área de 20,2 mil hectares na safra 2012/2013, praticamente a mesma da temporada passada. A previsão é que a colheita seja de 147 mil toneladas, 1,9% menor que a de 2011/12.

OBJETIVO

Agricultor quer outro futuro para os filhos

O preço pago pelo cereal e a carga de trabalho durante o ciclo de produção podem colocar a cultura secular do arroz irrigado em xeque nas próximas décadas. Apesar da tradição familiar, muitos dos atuais agricultores não pensam em repassar os conhecimentos e técnicas do plantio de arroz para seus filhos.

“É uma atividade muito sofrida e que não é valorizada”, justifica Marcos Antônio Baumann, 38 anos, pai de Emely, 12 anos e Marcos, 7 anos.

O agricultor cresceu trabalhando na propriedade de 10 hectares do pai Osmar em Garuva, em Santa Catarina, e hoje ajuda na manutenção da área de 45 hectares em Paranaguá.

Baumann não leva os filhos para a roça. "Quero outro futuro para eles, de preferência na cidade fazendo faculdade”, diz. “Não indico para os meus netos”, afirma o avô do casal Emely e Marcos.

Na avaliação do agricultor Rodrigo Maciel Campregher, além do baixo preço pago pelo cereal, o alto investimento inicial da atividade é umas das barreiras para que novos produtores ingressem no arroz irrigado.

A saca de 50 quilos vale entre R$ 30 e R$ 40 no campo. Um hectare de terra chega a valer R$ 20 mil. Além do imóvel, o novo produtor precisa investir em trator e conhecimento técnico.

Várzea tem papel decisivo no cultivo

A água de cor marrom e cheiro forte que preenche os banhados utilizados para o plantio do arroz irrigado tem papel fundamental no sucesso da colheita.

Qualquer descuido durante o ciclo do cereal, tanto no excesso como a escassez do líquido, pode resultar em uma baixa produção ou até mesmo de perdas consideráveis.

Na véspera do plantio, geralmente nos mês de setembro, os tanques são inundados de água, normalmente proveniente de rios próximos. O agricultor Rodrigo Maciel Campregher usa o Rio Brejatuba para encher seus 51 banhados em Paranaguá para o plantio de arroz irrigado.

O processo leva até uma semana. “A água vem por gravidade. Por isso um tanque é mais baixo que o outro”, explica. “Já na área em Morretes, a água precisa ser bombeada, pois o rio está mais baixo que a área de plantio.”

Na primeira etapa, a água é utilizada para apodrecer a palha (deixada para proteger a terra durante o inverno) e também “combater” o mato que cresceu na entressafra. Em seguida, o nível do líquido é diminuído para que o banhado seja semeado.

Ao final do ciclo, após 120 dias, toda a água é retirada para que as máquinas façam a colheita do cereal. No caso de Campregher, o líquido é despejado, durante três dias, no Rio Vermelho.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter