Onde se faz o futuro da lavoura
Biotecnologia reduz tempo das pesquisas do Irga.
A biotecnologia é uma das armas que o Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga) está utilizando na evolução de suas pesquisas em busca de variedades mais produtivas e resistentes às adversidades de clima, pragas e doenças. Uma das principais metas do Laboratório de Biotecnologia do Irga, na Estação Experimental do Arroz de Cachoeirinha, com a adoção de práticas de biotecnologia é reduzir entre três e quatro anos o período da pesquisa de novas cultivares até o lançamento para comercialização e implantação nas lavouras.
"Do início da pesquisa até o lançamento da variedade levamos de 10 a 12 anos de trabalho", disse Maurício Miguel Fischer, gerente da Divisão de Pesquisas do Irga. Para reduzir o tempo de trabalho e os custos, os pesquisadores estão utilizando a prática de biotecnologia de cultivo de anteras, que é o órgão reprodutor da planta de arroz. Esta tecnologia faz com que a planta só desenvolva a carga genética do pai, isso é, torna possível gerar novas plantas apenas com a característica de uma das plantas que seriam utilizadas no cruzamento convencional.
Este sistema evita a segregação, pois nos cruzamentos muitas plantas saem também com características indesejáveis da planta-mãe. "Não há uma uniformidade imediata. No cruzamento, o resultado inicial é de cultivares com características do pai e da mãe", esclareceu Fischer. Só em muitos anos de trabalho, com cruzamentos sucessivos entre a planta de origem e as que resultam dos cruzamentos, é possível chegar à cultivar com as características desejadas.
O trabalho é desenvolvido através de biotecnologia, cultivando in vitro o órgão sexual masculino do arroz. O projeto está em execução há dois anos na EEA/Irga de Cachoeirinha e nas subunidades de pesquisa instaladas em outros pontos do estado, sob a supervisão da Divisão de Pesquisas do Instituto. Maurício Miguel Fischer explicou que cultivando as anteras o cruzamento convencional é eliminado, acelerando e reduzindo custos da pesquisa. Todos os anos o Irga realiza de 300 a 350 cruzamentos diferentes de variedades de arroz em busca de variedades com melhores características do que as que estão nas lavouras. Isso gera cerca de 10 mil plantas para serem analisadas em lavouras experimentais anualmente.
A experiência européia
Instituições públicas de pesquisa suíças e alemãs criaram, através da engenharia genética, uma variedade transgênica de arroz carregada de betacaroteno, precursor da vitamina A. Estes grãos, segundo a FAO (órgão das Nações Unidas para a alimentação), podem salvar milhões de pessoas, principalmente crianças do terceiro mundo, da cegueira e da morte.
Este arroz não é o primeiro alimento transgênico a ser desenvolvido. No final de 1999 a Monsanto apresentou uma canola transgênica também enriquecida com vitamina A. A diferença fundamental é que esse arroz pode de fato ser o início de uma segunda Revolução Verde (que fez a produtividade da agricultura dar um salto na segunda metade do século 20 com sementes de alto rendimento). Todo o marketing dos organismos geneticamente modificados está centrado nesta característica: a sua prometida capacidade de erradicar a fome do mundo. A pesquisa constitui o oposto da soja transgênica que tanta polêmica tem gerado entre os defensores da biotecnologia e os agroecologistas.
Em primeiro lugar, o arroz enriquecido com vitamina A não vai beneficiar só os produtores capitalizados do Ocidente, mas pequenos agricultores e consumidores do mundo inteiro. Por ter sido desenvolvido em instituições públicas européias, a cultivar modificada ficará livre da proteção por patentes de indústrias privadas.
Vitamina A
A falta – Cegueira é o principal problema causado pela deficiência alimentar. Níveis baixos da vitamina provocam cegueira noturna e doenças mais graves, como xeroftalmia (ressecamento da córnea). Outros problemas associados com a falta dessa vitamina incluem diarréia, distúrbios respiratórios, complicações de doenças infantis, como sarampo.
Produção – O betacaroteno é uma provitamina A, ou seja, um precursor da vitamina. Com essa matéria-prima, mamíferos produzem a vitamina A.
Má Alimentação – O arroz beneficiado (descascado) não tem betacaroteno. Populações que baseiam sua nutrição nesse grão apresentam níveis deficientes de vitamina A. Essa deficiência é um problema no sudeste da Ásia, onde 250 mil crianças ficam cegas a cada ano 124 milhões de crianças sofrem deficiência de vitamina A no planeta. Uma solução alimentar para a questão pode evitar até dois milhões de mortes por ano.
Fonte: Agência Folha