ONU ataca veto do País à exportação de arroz

Para agências ligadas à entidade, decisão do governo brasileiro contribui para a instabilidade dos mercados e ajuda a elevar as cotações .

Em um encontro de emergência de dois dias iniciado ontem, na Suíça, para tentar solucionar a crise da alta nos preços dos alimentos, agências internacionais da Organização das Nações Unidas (ONU) criticaram a decisão do Brasil de restringir as exportações de arroz e pediram que os canais de exportação sejam mantidos abertos no mundo todo.

A entidade apelou por doações para compensar a crise e, assim, alimentar 73 milhões de pessoas no mundo. Entre as sugestões de organizações não-governamentais (ONGs) está, ainda, o fim da expansão de biocombustíveis nos países ricos, alegando que seria um dos fatores que estariam contribuindo para a alta nos preços.

A crise com a alta de 50% nos alimentos em seis meses obrigou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, a convocar às pressas todos os principais presidentes e diretores de agências, entre eles Pascal Lamy, diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC), e Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial.

– O mundo nos observa para saber o que vai ocorrer. Precisamos nos esforçar para encontrar uma solução.

A idéia da ONU é apresentar hoje um plano para evitar que a fome se agrave no mundo e permita que a entidade continue distribuindo alimentos para 77 milhões de pessoas. A estratégia teria duas etapas.

A primeira seria a de convencer os governos a manter abertos os canais de exportação. O debate, porém, coloca frente a frente aqueles que defendem medidas protecionistas aos defensores do livre comércio. Ban é um dos que querem o fim de qualquer restrição e defendeu ontem que os canais de distribuição de alimentos estejam funcionando plenamente.

Lennart Baage, presidente do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (IFAD), não poupou críticas ao Brasil e as medidas de restrição às exportações.

– Algumas dessas medidas não apenas contribuem para a instabilidade dos mercados globais, como também afetam os preços que os produtores conseguem obter para suas vendas – afirmou.

Em mais de 20 países, medidas foram tomadas para impedir as exportações de alimentos, supostamente para garantir o abastecimento interno e reduzir o preço no mercado doméstico. O Fundo elogiou a China, que tem dado crédito a pequenos agricultores atingidos e a famílias necessitadas.

Enquanto isso, o sempre polêmico relator da ONU para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, acusou a OMC de ser a causa dos problemas. Para ele, são as barreiras aos produtos agrícolas e as altas taxas que permitem que os pequenos fazendeiros possam continuar produzindo.

Para a OMC, a solução de garantir abertos os mecanismos de comércio poderiam vir com a conclusão da Rodada Doha. Mas os efeitos seriam sentidos apenas no médio e longo prazos.

REVOLUÇÃO VERDE

A estratégia ainda consiste em convencer os governos a destinar US$ 3,2 bilhões para que a ONU possa alimentar os mais pobres. O valor seria US$ 775 milhões acima do que se havia previsto há seis meses e a idéia é de que as doações dos países ricos sejam suficientes para compensar a alta nos preços. Mas a ONG Oxfam e a entidade Care alertam que as doações não serão suficientes para resolver a crise.

A ONU prevê uma “revolução verde” nos países mais pobres como uma forma de incrementar a produção mundial em uma segunda etapa. Mas, para isso, necessitará de recursos, abertura dos mercados dos países ricos e tempo.

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