Opção pelo melhor resultado

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Barros: ganhos diretos e residuais com a rotação

Alternativas de cultivo
são opções econômica
e agronômica ao arroz.

A produção de soja nas várzeas do Rio Grande do Sul, em rotação com o arroz, não se relaciona apenas com o resultado econômico da lavoura. Claro que a possibilidade de colher a oleaginosa e negociá-la no primeiro semestre a preços compensadores e esperar o melhor momento de negociar o arroz é uma ótima estratégia. Mas o aspecto agronômico é fundamental, já que arrozeiros eram forçados a abandonar áreas pela infestação por arroz vermelho resistente a herbicidas.

O uso inadequado da tecnologia Clearfield levou ao cruzamento das variedades resistentes a herbicidas de arroz branco com o arroz vermelho, erva daninha que deprecia o valor comercial do cereal. O inço é da família do grão, tem porte idêntico e só pode ser identificado no processamento. Outras ferramentas de controle têm alto custo, exigem mão de obra e apresentam resultado parcial.

Até duas safras atrás, os agricultores tinham as opções de deixar em pousio a área infestada – com pecuária extensiva e/ou eliminação química do inço pós-germinação – ou cultivá-la apesar do custo de produção, baixa produtividade e aumento dos níveis de infestação até inviabilizá-la completamente. Com a tecnologia de plantio e manejo de variedades tolerantes ao encharcamento em sistema de camalhão, o rizicultor gaúcho teve a chance de optar por outras culturas e, assim, eliminar invasoras, quebrar ciclos de pragas e doenças e potencializar os resultados da safra de arroz com os benefícios residuais da soja ou outra cultura adotada.

A eficácia no controle de inços é total, pois a soja, principalmente a RR, utiliza herbicidas diferentes do arroz, portanto, mais eficazes para as ervas daninhas selecionadas por esta cultura. Com o tempo, a rotação promove a redução do banco de sementes no solo e a retomada dos níveis de produção de arroz. Segundo o gerente do Irga na Depressão Central gaúcha, Jaceguay Barros, a soja predomina como alternativa de rotação nas várzeas gaúchas, evidentemente por seu apelo econômico, mas casa com o arroz por tratar-se de uma oleaginosa em sucessão a uma gramínea. A soja traz benefícios residuais, como a fixação de nitrogênio ao solo. Há estudos que apontam médias acima de 15% na produtividade do arroz cultivado depois da soja, seja pelos nutrientes fixados ou a redução da concorrência de plantas infestantes.

DESAFIO

Para o gerente da Estação Experimental do Arroz, do Irga, Sérgio Gindri Lopes, o agricultor reconhece a viabilidade da oleaginosa no sistema de rotação de culturas em áreas de pousio ou de alta infestação de arroz vermelho. A regra também se aplica às lavouras mais altas, de maior custo de irrigação e menor produtividade. O desafio agora é consolidar a tecnologia de cultivo de soja (e milho, sorgo e pastagens) em zonas baixas e úmidas e desenvolver métodos e variedades de maior rendimento. “A produtividade ainda é um limitante para soja e milho, apesar das vantagens do sistema. Mas, a cada safra, novas técnicas e opções de insumos são agregadas, além da própria experiência do agricultor, reduzindo o grau de dificuldade. É uma questão de tempo para superarmos essa barreira”, avalia Barros.

A multiplicação dos alimentos

Nas várzeas gaúchas, até bem pouco tempo, só existia a alternativa de cultivar arroz ou estabelecer uma pecuária extensiva. Graças às tecnologias para a introdução de culturas de sequeiro em terras baixas preconizadas pela Embrapa Clima Temperado, Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e iniciativa privada, os arrozeiros têm mais quatro opções: soja, milho, sorgo – granífero, forrageiro, duplo propósito e sacarino – e pastagens melhoradas.
Destas culturas, a preferência é pela soja, por sua liquidez e resultado agronômico. Algumas variedades aguentam 10 dias de estresse hídrico, mas a recomendação é estabelecer ótimo sistema de drenagem e minimizar os riscos de produção, especialmente em safras como a 2012/13, que prevê chuvas acima da média.

O sorgo tem maior capacidade de resistir ao estresse hídrico em rotação com o arroz, seja pelo excesso ou por falta de chuva. Mas, apesar da boa performance agronômica, seu mercado é escasso e pouco remunerador. A cultura é considerada o “primo pobre” do milho e o valor médio de comercialização é 30% inferior ao “primo rico”. Na última safra, com a grande quebra das lavouras de soja e milho de sequeiro no Sul, o sorgo valorizou.

A alternativa recebe a atenção da pesquisa pela alta demanda regional por matéria-prima alternativa ao milho pelas indústrias de rações animais. Além disso, há a possibilidade de cultivo de sorgo sacarino para produção de etanol em regiões com problemas de déficit hídrico, como material substituto ou complementar no projeto de uso do arroz de baixa qualidade na geração de etanol no caso de excesso de oferta. Há também a aplicação como forragem para a pecuária. O ganho extra é a limpeza de áreas inçadas para o arroz.

SUSCETÍVEL
O milho, apesar de valorizado no mercado e do avanço tecnológico, é a cultura que se mostra mais suscetível a danos por encharcamento se cultivado nas várzeas. Desde os anos 80 há projetos no RS, mas de pouco sucesso. A tecnologia e a demanda regional incentivam as pesquisas e a ampliação da área cultivada em terras baixas. Em anos mais secos, se bem conduzido, o milho poderá ser irrigado, o que garantiria a estabilidade de produção. Para os cientistas, tecnologicamente, esta é a cultura que mais evoluiu nos últimos anos, o que facilitará a entrada no sistema de produção de arroz.

As tecnologias RR, LL e Bt para o milho têm ótima aplicabilidade para limpar a área na rotação com o arroz. “Ao pequeno produtor, é uma solução interessante”, acrescenta Jaceguay Barros, do Irga, lembrando que o tamanho médio das lavouras de arroz do RS é de 50 hectares e que caem pela metade na Depressão Central. “Além do uso para os animais da propriedade e alimentação humana, pode-se fazer silagem ou vender o grão excedente”, avisa.

Apesar disso, a Depressão Central gaúcha plantou pouco mais de 100 hectares de milho em várzea em 2011/12, em sistema de camalhão. Com o uso de soja, milho ou sorgo, geram-se várias alternativas para uso da várzea no sistema de produção do arroz irrigado. Para fazer evoluírem estas tecnologias, Irga, Embrapa Clima Temperado, Fepagro e universidades do RS formaram uma rede de pesquisas em parceria.

Um passo a mais
Dentro da filosofia de integrar lavoura e pecuária, no sistema de rotação de culturas com o arroz, a Embrapa Clima Temperado aponta que, após o cultivo da soja, a área de várzea apresenta condições mais favoráveis à implantação de pastagens de inverno, como aveia, trevo, cornichão e azevém, do que a resteva do arroz, para produtores que também são pecuaristas. Isso permite o uso mais intensivo da área no inverno. Esta característica pode levar a um projeto mais amplo de integração e de mais alto rendimento para uma área que, até agora, estaria em pousio ou uso da pecuária extensiva, com uma rotação de soja no verão, pastagem/pecuária no inverno e arroz no verão, com o uso intensivo da terra e ganhos no controle de inços, pragas e doenças, na fertilização e no giro econômico/financeiro do produtor. No lugar de uma, seriam duas alternativas de renda agregadas à orizicultura.

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