Para aliviar a pressão

 Para aliviar a pressão

Exportação, seja de arroz em casca, quebrados ou beneficiado, é fundamental

Grande safra exige mais exportação pelo equilíbrios nos preços

As vendas internacionais de arroz em base casca, a partir do Brasil, desaceleraram em abril, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). No entanto, diante da grande safra da pressão crescente sobre as cotações nacionais, o país precisa aproveitar as oportunidades de exportação como estratégia essencial para equilibrar a oferta e evitar um cenário de desvalorização prolongada do cereal.

Gustavo Trevisan, diretor da Associação Brasileira das Indústrias do Arroz (Abiarroz), entende como vital a presença brasileira em mercados externos para equilibrar preços no país. “Há um esforço para que iniciativas como o Brazilian Rice alcancem resultados positivos na abertura”, observou.

Em abril de 2025, o país comprou 99,68 mil toneladas, recuo de 5,56% frente a março e 6% em relação a abril de 2024. Foi o primeiro mês do ano abaixo das 100 mil toneladas. Soma 466,44 mil t no quadrimestre. No mesmo período, as exportações são de 365,2 mil t, queda de 37,7%. A balança comercial acumula déficit de 101,2 mil t nos quatro primeiros meses do ano, comportamento incomum, mas que deve ser revertido com o avanço da safra nacional.

Em relação as exportações, os volumes embarcados recuaram 25 mil toneladas frente à temporada passada. Nesse período, é normal que as importações superem as exportações, porém, a balança comercial deve se equilibrar a partir de agora, com a safra nacional praticamente toda colhida sendo disponibilizada no mercado.

Exportar é estratégico

Com o país colhendo uma safra robusta de 12,1 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é fundamental intensificar os embarques ao exterior. O crescimento de 14,8% em relação a 2024 — puxado pelos aumentos de área e bons preços na semeadura — gera oferta abundante que, se não for direcionada ao mercado externo, pode agravar a pressão baixista sobre os valores internos.

Além disso, o mercado brasileiro sofre influência direta de fatores regionais: Uruguai e Paraguai colheram safras recordes, com Argentina tendo um ciclo excelente também. Todos esses países, com maior competitividade logística e custos ajustados, tendem a direcionar seus excedentes principalmente ao Brasil. Isso eleva o risco de formação de um gigantesco estoque de passagem, o que pode prolongar a depressão dos preços até 2026, independentemente da próxima safra brasileira. Exportar mais arroz, portanto, é uma medida preventiva e crucial para sustentar a rentabilidade da cadeia produtiva.

Risco no horizonte

Um fator que acende um sinal de alerta para os exportadores brasileiros na temporada de 2025 é o comportamento dos Estados Unidos, que colherão os maiores volumes da próxima safra a partir de setembro e entrarão com força na competição por espaço nos mercados internacionais. Embora a expectativa seja de uma produção ligeiramente menor do que a de 2024 e haja a guerra das tarifas e retaliações comerciais, o país da América do Norte acumula altos estoques e deverá retornar ao mercado global com forte competitividade, especialmente nos destinos das Américas do Sul, Central e do Norte.

A sinalização da Bolsa de Chicago (Cbot), com preços médios futuros entre US$ 12,50 e US$ 12,80 por quintal (cwt) — equivalente a 45,36 kg — reforça essa tendência. Mesmo com preços internacionais deprimidos, o Brasil corre o risco de perder espaço para os norte-americanos, que se beneficiam de fretes mais competitivos e elevada eficiência logística.

Atualmente, o arroz brasileiro continua disputando espaço. O produto exportado foi negociado em abril a US$ 314,73 por tonelada (R$ 90,90 por saca de 50 kg), enquanto o importado chegou a US$ 278,99 por tonelada (R$ 80,58/saca) — o menor valor desde março de 2022. Com o dólar médio a R$ 5,78, os preços ainda garantem boa margem de negociação no mercado externo, mas a janela de oportunidade pode se estreitar com a chegada da safra norte-americana e o aumento da concorrência sul-americana.

Momento decisivo

Tradicionalmente, o início do ano é marcado por maior volume de importações, mas, em 2025, o cenário se inverteu. Agora, com a colheita praticamente finalizada, o Brasil entra em um novo momento decisivo: exportar se tornou uma prioridade absoluta na janela de oportunidade, que vai de junho a setembro. Ignorar essa oportunidade pode comprometer o equilíbrio de preços no curto e médio prazo, especialmente diante de uma concorrência internacional cada vez mais agressiva.

Alinhar produção recorde com uma política de exportação inteligente será o fator-chave para manter preços justos ao consumidor, renda sustentável ao produtor e saúde econômica à cadeia do arroz. O Brasil tem produto, tem mercado e ainda tem tempo. Mas a janela está se fechando — e a decisão precisa ser tomada agora.

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