Parboilizado e popular

 Parboilizado e popular

Treichel: menor preço pelo aumento do mercado consumidor

Produto cai no gosto do consumidor.

O arroz parboilizado, con-siderado até bem pouco tempo um produto de elite no país por ter preço diferenciado – de 10% a 20% maior do que o arroz branco tipo 1 -, caiu definitivamente no gosto do consumidor e abocanhou uma fatia importante do mercado brasileiro. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria do Arroz Parboilizado (Abiap), atualmente 23% do consumo de arroz do Brasil é do cereal que passa por parboilização. Segundo o presidente da Abiap, Alfredo Treichel, este índice é significativo, pois 25 anos atrás o produto representava 4% do mercado. 

Para Treichel, o processo de popularização se deu por vários fatores, mas principalmente pela qualidade e características do produto, como sabor diferenciado, aroma e a facilidade de ficar “soltinho”, além de ter maior valor nutritivo e rendimento de panela. Segundo ele, em diversos estados brasileiros esse produto é preferencial para a merenda escolar. Mas a popularização, segundo o empresário, também se dá por um outro fator, que se por um lado é muito bom para o consumidor, por outro é preocupante para o segmento. “Muitas empresas estão ampliando suas plantas industriais com máquinas para parboilização. Como são marcas novas, trabalham com valores muito abaixo do mercado como estratégia de avançar no mercado e muitas vezes se equiparam ao arroz branco”, explica. 

Apesar da concorrência, as marcas tradicionais mantêm o patamar de preços, naturalmente 10% acima do valor ao consumidor praticado pelo arroz branco. 

 

Novas marcas acirram a concorrência

Dois fatores são considerados importantes para o declínio acentuado nos preços do arroz parboilizado: a abundância de matéria-prima com duas safras recordes seguidas e o significativo aumento de indústrias do ramo, principalmente no Sudeste e no Centro-oeste. No Mato Grosso é idéia corrente que por causa da baixa qualidade do cereal, principalmente o Cirad 141, é um grande negócio abrir uma “emendadeira”, nome que dão à indústria de parboilização. 

O presidente da Abiap, Alfredo Treichel, no entanto, não concorda. Segundo ele, o processo acentua ainda mais o aroma e o sabor do Cirad, grão mais abundante no Centro-oeste e que não tem grande aceitação das donas de casa. “É um produto com gosto e cheiro diferentes, que não cai no gosto do consumidor”, frisa. 

MT – O diretor da empresa Arrozil, de Várzea Grande (MT), Herbert Dantas Romão, acredita que o mercado do arroz parboilizado está crescendo muito no Brasil e há lugar para todos aqueles que têm qualidade e competitividade. Tradicional cerealista de arroz branco, a Arrozil trabalha de olho nos mercados do Nordeste e do Sudeste. “Esse tipo de arroz caiu no gosto do consumidor. Por isso estamos acrescentando o parboilizado à nossa linha para ampliar a participação no mercado”, frisou Romão. A nova planta industrial também é estratégica para absorver grandes volumes de arroz “fraco” produzido no Mato Grosso (40% a 45% de inteiros), a preços atraentes.

 

Meio séculode Brasil

O engenheiro químico Gilberto Wageck Amato, um dos maiores especialistas brasileiros no tema, revela que o parboilizado surgiu no Brasil na década de 1950, com base na tecnologia Malek, ao mesmo tempo em que se desenvolvia o processo de maceração por estufa, tecnolo-gicamente menos evoluído. Foram multiplicando-se as empresas, tendo como lugar-comum a idéia de “soldar grãos”, buscando obter maior rendimento de inteiros. Assim, o investimento em equipamentos, classificados como custo fixo, era compensado pelos ganhos em custo operacional devido ao maior número de grãos inteiros. Com isso sedimentou-se uma relação dife-rentemente de outros locais no exterior. 

O processamento do arroz parboilizado é caracterizado por um tratamento hidrotérmico – lança mão somente de água e calor -, após o que passa pelo beneficiamento con-vencional. As operações unitárias principais são o encharcamento, a gelatinização e a secagem. O resultado é um produto mais rico em vitaminas e sais minerais, o que vale o reconhecimento de organismos internacionais, como a FAO e a OMS.

 

Arroz vitaminado

A principal matéria-prima para a parboilização é a mesma usada para obter o arroz branco. Todavia, as indústrias buscam partidas com maior número de quebrados, mais baratas. Durante a operação de gelatinização, os grãos são soldados, ao mesmo tempo em que fixa as vitaminas e os sais minerais que seriam perdidos na extração do farelo. 

Para o especialista no assunto Gilberto Amato, consultor do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), em se tratando de tendências, os números são favoráveis a este produto: em duas décadas, sua participação no mercado subiu de 4% para quase 25%. No mundo, o consumo é igual. “Isso que o pessoal que come com pauzinhos, como os chineses e japoneses, tem preferência pelo arroz que se gruda, propriedade contraposta ao parboilizado, com grãos soltinhos após o preparo”, frisa. 

Amato diz que cada um dos subgrupos – branco ou parboilizado – têm características a motivar preferências do consumidor. O branco, com a peculiaridade de gosto neutro, combinando com qualquer tipo de vegetal ou carne; ou o parboilizado, para o consumidor que busca maior valor nutritivo, grãos soltinhos e rendimento de panela. “Enfim, o primeiro país do mundo não-asiático na produção e consumo deste cereal tem boas opções para o arroz nosso de cada dia”, finaliza. 

Questão básica
Recentemente, tem sido levantada uma outra importante propriedade do parboilizado: suas propriedades nutracêuticas, devido à formação de “amido resistente” durante o processamento. Essa característica funcional é responsável pelo aumento no teor das tão desejadas fibras alimentares, uma das principais deficiências da moderna alimentação. Os trabalhos de pesquisa têm sido desenvolvidos pela UFSM e UFPel, contando com a parceria do Irga.

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