Pausa na polêmica

 Pausa na polêmica

Transgênicos: decisão passou pela mão dos produtores

Bayer quer obter a aceitação do mercado antes de comercializar o LibertyLink
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A retirada temporária do processo de liberação comercial do arroz LibertyLink (LL62) da pauta de decisões da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) não foi suficiente para arrefecer a polêmica gerada em torno da tecnologia desenvolvida pela Bayer CropScience. Embora a decisão tenha partido da própria multinacional, embasada na necessidade de ampliar o diálogo com os principais integrantes da cadeia de produção de arroz no Brasil, para os ambientalistas a briga ainda está longe de terminar. Para os produtores ela já acabou faz um bom tempo.

Quem acompanha as matérias publicadas sobre o assunto na Planeta Arroz sabe que a pedra já havia sido cantada em 2009, na 19ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, em Cachoeirinha (RS), mas não custa lembrar: foi durante a palestra sobre biotecnologia proferida pelo professor do departamento de agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Marcelo Gravina. Ao final do painel, a única dúvida dos produtores presentes era se haveria mercado comprador no exterior para o arroz GM.

A informação de que a maioria dos países consumidores do cereal (sobretudo na Europa, destino de quase 20% das exportações gaúchas, na ocasião) tinha pesadas restrições ao produto acabou formatando a decisão da cadeia produtiva que foi levada a Brasília. “O setor produtivo é a favor da pesquisa, porém não podemos nem pensar em colocar esse arroz no mercado devido ao compromisso que temos com nosso mercado comprador”, resumiu na ocasião o presidente da Câmara Setorial do Arroz, Francisco Schardong.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), o Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga) e a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) também se opuseram à liberação comercial do arroz LL62 da Bayer. “Não somos favoráveis à liberação nesse momento. Não existe mercado para o arroz transgênico e as exportações são vitais para a sustentação dos preços internos”, afirmou o presidente da Federarroz, Renato Rocha, ao anunciar a posição conjunta assumida pelas entidades representativas do setor.

Rocha reiterou que a liberação colocaria em risco os mercados interno e externo e comprometeria a rentabilidade da cadeia produtiva porque impediria a exportação, já que nenhum país do mundo teria autorizado a comercialização de arroz transgênico. A decisão colocou produtores e ambientalistas do mesmo lado pela primeira vez; uma aliança, que por sinal se caracteriza pela volatilidade, para acompanhar a discussão em torno das reformas no Código Florestal Brasileiro.

Já os acontecimentos que se sucederam à decisão tomada pelo setor na 19ª Abertura da Colheita podem ser resumidos pelo título de uma das peças mais conhecidas do dramaturgo inglês William Shakespeare: “Muito barulho por nada”.

 

NOTA DA BAYER
A Bayer CropScience divulgou nota de esclarecimento sobre a retirada do processo do arroz LibertyLink (LL62) da pauta de decisões técnicas da CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança.

“Por decisão própria, a Bayer CropScience solicitou à CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – a retirada temporária do processo do arroz LibertyLink (LL62) da pauta de decisões técnicas. Esta abordagem pró-ativa da empresa resulta da necessidade de ampliar o diálogo com os principais integrantes da cadeia de produção de arroz no Brasil. O objetivo do diálogo será tratar das medidas necessárias que deverão ser tomadas para trazer ao mercado a tecnologia LibertyLink para a cultura do arroz. Esta decisão está em linha com nossa abordagem responsável no lançamento de produtos e representa nosso compromisso com as necessidades de nossos clientes.

Uma vez que este diálogo entre a Bayer CropScience e os principais integrantes da cadeia produtiva cheguem a uma conclusão frutífera, retomaremos o processo de aprovação para o uso comercial do produto. A Bayer CropScience está plenamente empenhada não apenas em obter o apoio dos seus parceiros no processo de aprovação, incluindo os produtores, mas também em obter, de modo oportuno, a aceitação ampla do mercado antes de comercializar o arroz LibertyLink.

A tecnologia LibertyLink foi desenvolvida no arroz para atender a demanda dos produtores por uma solução mais eficiente e sustentável no controle de plantas daninhas. Esta tecnologia, já disponível mundialmente em algodão, canola, soja e milho, oferece aos agricultores mais uma alternativa de amplo espectro às soluções herbicidas já existentes, com opções adicionais para o efetivo controle de plantas daninhas de uma forma muito reconhecida, ambientalmente compatível e sustentável.

A tecnologia LibertyLink será fundamental para a agricultura em vários mercados onde há problemas crescentes com plantas daninhas, como na produção de arroz no Brasil. Acreditamos que orizicultores possam se beneficiar significativamente desta tecnologia, que os ajudará a alcançar maior rendimento e melhor qualidade de grãos.

A Bayer CropScience está confiante de que este diálogo terá um resultado positivo e continuará a trabalhar com os seus parceiros na cadeia produtiva de arroz para que a inovação e a responsabilidade possam prevalecer”.

LIBERANDO TUDO
Paiva: mais exigências para liberarO atual presidente da CTNBio, Edilson Paiva, assim que tomou posse, em fevereiro deste ano, defendeu a retomada do debate, assumindo inclusive uma posição contrária à da Embrapa à comercialização de arroz transgênico.

Mas para quem achava que Paiva chegaria “liberando tudo”, as sucessivas retiradas do arroz geneticamente modificado na pauta das plenárias mostraram que ainda são necessários estudos mais detalhados sobre a viabilidade desta tecnologia no país. O barulho mesmo ficou por conta dos ambientalistas, que comemoraram a decisão da Bayer CropScience em retirar o LL62 da pauta.

De acordo com a multinacional, em nota divulgada aos meios de comunicação, uma vez que o diálogo entre a empresa e os principais integrantes da cadeia produtiva chegue a uma conclusão frutífera, será retomado o processo de aprovação para o uso comercial do produto. Independente da polêmica com o arroz LL62, segundo relatório da entidade lnternational Service for the Acquisition of Agribiotech Applications, o Brasil ainda é o segundo país com mais área de cultivo transgênico, atrás apenas dos EUA. Também é a nação que mais consome herbicidas no mundo e o maior mercado da Bayer na América Latina.

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