Pé no freio
MS quer campanha de redução de área para o plantio 2005
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As últimas duas safras de arroz do Brasil atingiram marcos históricos de produção. Após décadas de investimentos e aperfeiçoamento tecnoló-gico, o país finalmente atingiu a auto-suficiência na orizicultura, mas a crise no mercado está ameaçando o setor. O entendimento de produtores, técnicos e analistas é unânime: o país terá que buscar mecanismos para evitar futuras crises. Até parece ironia, mas redução da área plantada é uma proposta que surge como alternativa para valorizar o cereal nas futuras safras.
É no estado do Mato Grosso do Sul, com o presidente da Associação dos Produtores de Arroz e Irrigantes (Apai), Roberto Folley Coelho, que surge a defesa contundente pela diminuição da lavoura de arroz. Há um excesso de oferta de arroz em todo o Brasil, situação que se agrava com o ingresso de grãos produzidos na Argentina e no Uruguai. “Os armazéns estão abarrotados e o Governo Federal se mostra insensível com a situação dos produtores. É preciso uma campanha nacional para redução de pelo menos 10% de toda a área de arroz que é cultivada no Brasil”, defende Coelho.
A medida proposta depende de outros mecanismos, como suspensão imediata das importações e a renegociação das dívidas agrícolas. “Além de reduzir as áreas plantadas, concordo com a proposta de incentivar o aumento de consumo. Para isso é preciso que os supermercadistas repassem a queda no preço. Para o produtor, as perdas são de pelo menos 45%, mas na ponta da cadeia comercial, nas gôndolas dos mercados, a redução está na casa de 19%”, reclama Coelho, que é um dos maiores produtores de arroz do Mato Grosso do Sul, com uma lavoura de 1,1 mil hectares. Nesse estado são cultivados cerca de 55,5 mil hectares de arroz, segundo a Conab, e a produção não é suficiente para abastecer o mercado interno.
Questão básica
A redução de área cultivada é um processo que pode ter vantagens para o produtor, mas é preciso levar em conta algumas orientações. A diminuição da lavoura deve seguir um roteiro básico que é de primeiro escolher a área que tenha o maior custo de produção. Locais onde a irrigação depende de mais levante de água e onde há maior incidência de arroz vermelho são prioritárias para deixarem de produzir arroz e receberem outros cultivos, segundo a Apai/MS.
Contraste norte/sul
Na região sul do Mato Grosso do Sul, a produção de arroz tem mais limitações. Nas duas maiores cidades produtoras dessa região, Dourados e Rio Brilhante, a falta de reservas hídricas provoca o atraso no início do plantio, que fica dependente das chuvas fortes do final do ano. Nessa região, a produtividade do arroz irrigado é de aproximadamente 4,4 mil quilos/hectare. A situação contrasta com o desempenho das cidades de Bodoquena e Miranda, na região norte, onde o plantio é feito mais cedo (julho e agosto) e há maior produtividade, entre sete e oito mil quilos/hectare, pois há um melhor aproveitamento da radiação solar.