Pequeno impacto
A mínima queda não muda o cenário de oferta e demanda global
Uma pequena queda na produção mundial em 2022, que deverá refletir nos estoques em 2023, não chegou a afetar de forma importante o quadro de oferta e demanda global. De acordo com o economista francês Patrício Méndez del Villar, as mais recentes estimativas da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) indicam que o total da colheita de 2022 teria diminuído 1,8%, isto é, para 778,2 milhões de toneladas (Mt) em base casca. O volume equivale a 516,7 Mt, tendo por base o arroz branco. A queda teria sido de 13,9 milhões de toneladas contra as 792,1 Mt colhidas em 2021.
Segundo Méndez del Villar, em seu boletim InterArroz, a produção diminuiu como consequência das más condições climáticas no sul da Ásia, em particular no Paquistão, onde se estima que as colheitas tenham caído em 30%. Na China, maior produtor, consumidor e importador mundial, a produção caiu 1,3%, assim como no Vietnã. Em contraste, a produção aumentou na Índia e na Tailândia.
Nos Estados Unidos, a produção caiu 16% em 2022, em nova redução na área de semeada e clima também desfavorável, o que abriu o mercado do México para o Brasil. Espera-se uma importante recuperação em 2023. No Mercosul, a produção caiu 11%, voltando ao nível de 2019 por causa da estiagem prolongada. Na África subsaariana, a produção de arroz foi ainda mais prejudicada pela escassez de insumos e inundações. No entanto, a produção africana em 2023 pode melhorar, especialmente na África Ocidental.
FUTURO
Em 2023, a produção mundial tende a cair novamente, em 1,5%. A redução afetaria os principais países produtores da Ásia, assim como o hemisfério ocidental e a União Europeia, segundo o analista. O economista alerta, no entanto, que as previsões de safra 2023/24 podem ser revisadas para baixo devido ao risco de estiagem nas principais regiões produtoras da Ásia em consequência do fenômeno climático El Niño.
Estoques em queda, mas sem sustos
Os estoques mundiais de arroz no encerramento de 2022 podem ter aumentado 1,1%, para 197 milhão de toneladas (Mt) em base beneficiado, contra 194,8 Mt em 2021. Eles representam 38% das necessidades de consumo globais e permanecem acima da média dos últimos cinco anos, segundo análise do economista Patrício Méndez del Villar, do Cirad, sobre informações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) e da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).
“A queda registrada na faixa de 2% nas reservas chinesas foi amplamente compensada pelo aumento de 16% nas reservas indianas em 2022. No entanto, os estoques chineses continuam sendo muito abundantes, equivalentes a 70% do consumo doméstico anual e em torno de 50% das disponibilidades mundiais. É uma característica da China manter grandes estoques de alimentos”, observa.
Nos principais países exportadores, as existências aumentaram em 17% em 2022 e, com isso, alcançaram 58 milhões de toneladas em base beneficiado, 30% das reservas mundiais.
“Em 2023, estoques internacionais do cereal devem cair 1,3%, para 194,4 Mt, devido ao declínio anunciado na produção global nesta temporada de 2022/23, segundo apontamento dos organismos consultados, como a FAO e o Usda”, conclui o economista.