Pequim quer fazer de Moçambique o celeiro chinês
Afirmando que o interesse chinês pela região do vale do rio Zambeze vem desde 2006, Loro Horta destaca os recentes sinais da relação política entre Pequim e Maputo como um sinal do interesse chinês de longo prazo na exploração agrícola em Moçambique.
Os governos da China e de Moçambique querem fazer da região moçambicana do Vale do Zambeze um centro de produção de arroz para o mercado chinês, que se deparará com aumentos de consumo e cada vez menos terra arável, afirma o investigador Loro Horta, especialista nas relações entre a China e os países africanos de língua portuguesa.
Afirmando que o interesse chinês pela região do vale do rio Zambeze vem desde 2006, Loro Horta destaca os recentes sinais da relação política entre Pequim e Maputo como um sinal do interesse chinês de longo prazo na exploração agrícola em Moçambique, um plano que Loro Horta diz ser mutuamente benéfico, desde que bem planeado e cumprido.
– Se implementado com sensibilidade, os planos agrícolas da China poderão trazer benefícios tremendos para os dois lados – afirma Horta, investigador timorense baseado na Universidade Nanyang, de Singapura.
Num artigo publicado em meados de Julho, Loro Horta afirma que o interesse chinês começou a manifestar-se no início do segundo semestre de 2006, quando a China atribuiu a Moçambique, através do banco estatal Exim Bank, um empréstimo de dois mil milhões de dólares para a construção da barragem de Mpanda Nkua, no rio Zambeze a juzante da barragem de Cahora Bassa.
Desde então, segundo Horta, a China tem vindo a pedir o aluguel de grandes áreas de terreno para estabelecer mega-fazendas e explorações pecuárias geridas por chineses.
Além de Mpanda Nkua, o investigador lembra também que a China se ofereceu para financiar três outras barragens no Zambeze e outras duas no rio Limpopo, ao mesmo tempo que está a construir novas estradas e a modernizar as infra-estruturas portuárias de Guelimane e Nacala, nas províncias da Zambézia e de Nampula, respectivamente.
– Este investimento em infra-estruturas é claramente designado para maximizar a produção e facilitar a rápida exportação de bens alimentares para a China, atribuindo ao mesmo tempo lucrativos contratos a empresas chinesas – considera Horta.
– A China atribuiu recursos significativos à melhoria da produção agrícola, com o arroz como principal prioridade. No início de 2008, o governo chinês prometeu investir 800 milhões de dólares na modernização da agricultura moçambicana, com o objectivo e aumentar a produção de arroz das 100 mil toneladas para as 500 mil toneladas por ano nos próximos cinco anos – acrescenta.
Segundo estatísticas oficiais chinesas, o consumo de arroz na China duplicou entre 1985 e a actualidade, para 50 quilos por pessoa, em consequência do crescimento económico do país.
Ao mesmo tempo que a quantidade de área arável se reduz cada vez mais na China devido ao aumento do tamanho das cidades e zonas residenciais e à degradação ambiental, a terra é cada vez mais disputada para assegurar a produção de outras culturas, como a soja, o açúcar e os cereais, cujo consumo aumentou mais de 30 por cento na última década.
– O crescente aumento da procura alimentar e o rápido desaparecimento de terra arável (…) fazem da descoberta de novos terrenos agrícolas uma prioridade para o governo chinês – considera Loro Horta, acrescentando que a China está apostada em transformar Moçambique num dos seus principais fornecedores de alimentos, em especial de arroz, a base da alimentação chinesa.
Horta prevê que a expansão chinês ano domínio do arroz em Moçambique tenha início com a emigração de cerca de um milhar de chineses para o vale do Zambeze numa tendência a observar nos próximos anos. A mão-de-obra chinesa, afirma, vai operar equipamentos agrícolas avançados e gerir as grandes fazendas e a infra-estrutura de irrigação, com os trabalhadores moçambicanos a assegurar as tarefas manuais mais pesadas.
Quanto ao controlo da terra – que é estatal e portanto não pode ser vendida ou alugada – o investigador prevê a criação de parcerias com entidades moçambicanas que serão «parceiros mudos» com os sócios chineses a assegurar a gestão do negócio.
– O aumento da produção de arroz em Moçambique destina-se claramente às exportações para o mercado chinês, uma vez que o arroz representa apenas uma fracção mínima da dieta moçambicana e é sobretudo consumido pelos ricos nas grandes cidades. Mais de 90 por cento da população do país depende da mandioca e da shima (flor de mandioca), milho e amendoins – afirma.
Loro Horta diz também que «Moçambique espera receber o pagamento das exportações de arroz em divisas que, por seu turno, lhe vão permitir comprar bens produzidos na China e outras matérias-primas no mercado global».
É também com este objectivo, afirma, que Maputo e Pequim acordaram criar em Moçambique um instituto de investigação em agricultura avançada com verbas chinesas – bem como outras escolas agrícolas um pouco por todo o país.
Outros projectos financiados pela China incluem redes de canais de irrigação, para além da deslocação a Moçambique de mais de 100 peritos chineses incluindo uma equipa do Instituto de Arroz Híbrido de Hunan, um dos melhores institutos de investigação sobre o sector em toda a China.
Fonte: Macauhub