Perdas nas lavouras de soja e arroz podem chegar a 60% no Vale do Rio Pardo

 Perdas nas lavouras de soja e arroz podem chegar a 60% no Vale do Rio Pardo

Com a estiagem, as culturas sofreram alteração no plantio e na floração

Região tem municípios em que a colheita começou há algumas semanas. Estiagem contribui para pouca produtividade.

É hora de colher na região do Vale do Rio Pardo. A falta de chuva desde novembro no Rio Grande do Sul reflete na produtividade das lavouras de soja e arroz e tem efeito no preço dos grãos. A soja está valorizada em razão da cotação no mercado internacional (R$ 102,00 o saca), enquanto o arroz segue estabilizado (R$ 49,00 o saca).

 

Com a estiagem, as culturas sofreram alteração no plantio e na floração. Por consequência, para não perder toda a lavoura, alguns produtores estão antecipando a colheita. O engenheiro agrônomo e extensionista da Emater RS/Ascar em Santa Cruz do Sul, Marcelo Cassol, relatou que este cenário tem se repetido na região.

 

“As chuvas de outubro atrasaram e isto afetou o plantio. Quando plantadas, as culturas sofreram com excesso hídrico, pelas fortes precipitações. Com o replantio tudo atrasou”, explicou Cassol. “A estiagem está sendo determinante. No período de floração e enchimento dos grãos faltou água, muitas lavouras estão morrendo pela seca. Em outras, as plantas finalizaram seu processo antes do esperado por conta do excesso de calor.”

Os grãos minguados pelo sol espelham a angústia de quem colhe a soja. “É uma safra de frustrações. Criou-se expectativas que não serão alcançadas. Os produtores que tiravam em média 60 sacas por hectare vão colher apenas 20”, comentou o extensionista. Ele detalhou que foram plantados cerca de 2 mil hectares de arroz e 3,3 mil hectares de soja em Santa Cruz do Sul.

“No arroz o agravante é ainda maior. Os dias foram quentes, o que poderia elevar a produtividade, contudo faltou água. Além disso, as noites foram mais frias. Esse impacto vai ser sentido na qualidade do grão. O preço não é tão atrativo aos produtores”, disse Marcelo Cassol. O extensionista ainda relatou que cerca de 50% das lavouras de Santa Cruz do Sul já iniciariam a colheita.

Pouca produtividade e alto custo assusta

Nas margens da RS-409, em Vera Cruz, no Bairro Bom Jesus, a movimentação de tratores e colheitadeiras que abrem caminho em meio aos campos pode ser vista por quem passa pela rodovia. A colheita em muitas lavouras dali começou na manhã dessa quinta-feira, 19, e deve se estender por pelo menos duas semanas.

Guilherme Nelson Simon, 30 anos, planta arroz e soja em terras de várzea (terrenos cultiváveis junto aos rios e ribeirões). “Vamos ter uma média daqui alguns dias. Provavelmente a produção da lavoura foi menor. O que sobra da captação da água do Rio Pardinho, nós utilizamos para a irrigação do arroz. Nos dois últimos meses do ciclo do arroz, não pudemos usufruir deste recurso. Espero ter um boa média, para equilibrar as contas”.

Desde criança, Guilherme acompanha o pai, Nelson Simon, 60 anos, na rotina do campo. Ele relatou que a família já enfrentou outros períodos de seca, mas nada igual a este ano. “Na nossa área de soja eu tenho certeza que vamos colher no máximo 20 sacas por hectare, mais do que isso é impossível. Em anos anteriores foram mais de 60, em média. A soja está literalmente morrendo. Vou esperar secar bem para colher. Nunca tinha tido problema, este ano foi seco demais”, descreveu.

A família não tem silos, mas utiliza depósitos para estocar a colheita. “Conforme o valor nós estudamos se é melhor vender ou não. Quem tem soja pode ter um fôlego financeiro, mas mesmo assim o valor poderia ser de R$ 200,00 a saca. Com a produtividade baixa e o custo de produção elevado, vão ficar só prejuízos ao produtor. Este ano não será fácil para ninguém”, desabafou.

Ao projetar a próxima safra, Guilherme Nelson Simon demonstrou preocupação. “Qual vai ser o custo dos insumos? Compra-se tudo em dólar. Se na próxima safra o valor do grão cair, os colonos, que já estão mal, vão enfrentar uma situação ainda pior, mesmo colhendo bem.” Para manter a propriedade, pai e filho buscam diversificar a renda, que vem das colheitas e também da criação de cabeças de gado.

Movimento nas cooperativas

O gerente regional da Coagrisol, Vanderlei Guiel, relatou que as cooperativas estão atentas às dificuldades enfrentadas pelos agricultores. Ele detalhou que na região as propriedades são de pequeno, médio e grande porte, com algumas chegando a 8 mil hectares. “Em conversa com nossos associados encontramos diversas realidades. Há produtores que não vão colher. A estiagem não permitiu. Há outros que estão colhendo até dez sacas por hectare”, disse.

Com base nos produtores que já têm levado sua colheita à cooperativa, Guiel relatou que as perdas na soja projetadas no Vale do Rio Pardo chegam a 80%. “Estamos fazendo visitas aos produtores, temos que dar suporte e prestar assistência. Não podemos dizer que o mundo acabou, mas a situação é delicada. Nós (cooperativa) não queremos deixá-los mal, vamos ajudar.”

Guiel entende que o agronegócio é uma potência econômica e credita à inflação e ao coronavírus a quebra no setor neste ano. “O dólar elevou-se a outro patamar. A saca de soja está valorizada, quem dispõe de grão e não tem compromisso de vender agora, mesmo com a quebra, vai ter um ganho na saca. Mas a moeda norte-americana deve voltar para a casa dos R$ 4,00 em pouco tempo. O recomendado ao produtor que tem essa capacidade é colher e fazer a média, estocar e vender aos poucos, para poder negociar melhor”, ressaltou.

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