Pesquisadores apresentam fatores para a sustentabilidade da lavoura arrozeira
(Por Cíntia Ramos, AAA) A sustentabilidade foi o tema do segundo dia do ciclo de palestras da 13ª Semana Arrozeira de Alegrete, nesta quinta-feira, 2 de junho, que teve início com um painel que reuniu pesquisadores e case de produtores rurais acerca de exemplos e reflexões sobre os processos sustentáveis da lavoura arrozeira. Os orizicultores, atentos, foram instigados a vislumbrar este novo olhar a respeito de como será a lavoura do amanhã.
O renomado pesquisador, Enio Marchesan, e a pesquisadora do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), Mara Grohs, foram unânimes em suas explanações ao falar que o rizicultor para se manter sustentável, deve diversificar as culturas. “A diversificação revitaliza a lavoura arrozeira, ela não compete, e o produtor sabe desse potencial”, assegurou Marchesan. Para Mara Grohs, as pesquisas apontam esta necessidade, pois é comprovado o controle do vermelho e também os benefícios da diversificação no sentido da fertilidade. “O arroz não se sustenta sozinho”, ressaltou a pesquisadora do Irga.
O professor também fez um parâmetro a respeito do orizicultor se manter sustentável os 365 dias do ano. Mesmo sendo um grande desafio, ele salientou o olhar atento para o processo de adequação da área, como o domínio sobre o fluxo das águas e o ambiente radicular. “Desta forma, o produtor poderá organizar e gerenciar melhor a área para receber os cultivos”, destacou, ressaltando ainda que os recursos humanos são imprescindíveis para este processo. “A equipe precisa estar afinada para fazer certo na hora certa e com capricho”, finalizou.
Outro ponto abordado foi a consciência do produtor de que ele tem um produto ambientalmente sustentável, porém não está sendo valorizado neste sentido. “Precisamos encontrar formas de vender este selo. Não sabemos nos vender. O orizicultor é eficiente da porteira para dentro, isso sabemos. E isso deve ser cobrado das instituições de classe para que se pressionem por políticas públicas de valorização do crédito de carbono de forma oficial, ratificou Mara Grohs.
O painel foi conduzido por Geovano Parcianello, engenheiro agrônomo, produtor rural, conselheiro do Irga e diretor técnico da Associação dos Arrozeiros de Alegrete, que trouxe aos presentes o exemplo da empresa familiar Barchet Agropecuária, do município de São Borja (RS). Os irmãos Tiago e Emanuel Barchet mostraram o trabalho que vem desenvolvendo na propriedade, que também tem a união do pai, natural de Faxinal do Soturno (RS). Tiago é engenheiro agrônomo e Emanuel é administrador de empresas e juntos pensam sobre a gestão da propriedade de forma sustentável.
Os irmãos apresentaram o potencial das áreas, levando maior eficiência agronômica em produtividade para a diversificação das culturas, bem como a racionalização do uso da água objetivando a maior produtividade possível. Eles destacaram o estudo de encontrar o “melhor nicho” de acordo com o disponível, para otimizar os processos.
A Barchet Agropecuária apresentou sua diversificação fracionada em arroz, soja, pecuária, milho, azevém e trigo. “Gosto da cultura do arroz, mas ela não paga a conta”, assegurou Tiago que falou sobre a importância de se manter as equipes afinadas e sabedoras da necessidade da diversificação das culturas para pagar os salários e comissões. Os irmãos também salientaram que não diminuíram a equipe neste processo, tendo operação o tempo todo.
Assunto que faz parte da gestão das propriedades para todo o sistema produtivo, os Desafios da Legislação Ambiental na Agropecuária foram apresentados por Marcelo Camardelli Rosa, assessor Técnico da Área de Meio Ambiente do Sistema Farsul, que salienta a potência, a credibilidade e a responsabilidade do Brasil perante a demanda mundial por alimentos. Para tanto, é importante o produtor rural estar atento às regras ambientais, procurando informações e orientação junto a técnicos, entidades rurais para ter a segurança na atividade. “É necessária essa atenção para o sistema produtivo para mantermos esse status como potência agroambiental. Cumprimos com todos os desafios da legislação, porém também não sabemos comunicar o que bem fazemos. Precisamos melhorar essa imagem”, avalia Camardelli. Um outro ponto abordado foi de que a legislação ambiental no Brasil precisa ser mais objetiva para trazer segurança jurídica. “No momento que ficar mais claro, a segurança vem tanto para o lado do empreendedor, bem como para a fiscalização”, finaliza Camardelli.
O painel também contou com informações do fiscal agropecuário da Secretaria da Agricultura, Juliano Ritter, que apresentou ao público o trabalho desenvolvido pela fiscalização e os desafios para a conscientização ao uso correto dos defensivos agrícolas para a sustentabilidade do meio ambiente. “Estamos aqui para conscientizar e nos aproximar dos produtores para qualquer dúvida que tenham e, desta forma, também evitar multas desnecessárias”, salienta o agrônomo do Departamento de Defesa Agropecuária do Rio Grande do Sul. “Esse também é o papel das instituições de classe. Poder fornecer a melhor orientação para os produtores rurais, aguardando as demandas para promover as capacitações e informações necessárias”, avalia Luiz Plastina Gomes, presidente do Sindicato Rural de Alegrete, moderador do painel Sustentabilidade do Sistema Produtivo.
O palco do evento também foi o cenário para a entrega do Selo Ambiental da Lavoura de Arroz, criado pelo Instituto Rio Grandense de Arroz (Irga). A honraria premia as propriedades rurais que se adequaram à legislação ambiental e aos preceitos de tecnologias mais limpas. O Selo Ambiental também tem o objetivo de reconhecer os esforços dos produtores, distinguindo-os e valorizando o arroz produzido.
Receberam este instrumento para a sustentabilidade da lavoura arrozeira Antônio Roberto Mendes Dalcin, da Agropecuária Dom ngelo, Geovano Parcianello, da Agropecuária Capivari, Cristiane Estivalet de Lima, da Limarroz Sementes de Alegrete, Joacir Parcianello, da Agropecuária Parcianello de Rincão de São Miguel, Sander Bruscatto de Lima, da Limarroz Sementes de Quaraí, e Fernando Osório Dornelles, da Granja Pai Passo de Quaraí.