Pesquisar mais para produzir mais

Muito cedo o produtor de arroz do Rio Grande do Sul percebeu que era necessário estar organizado para desenvolver a sua atividade e este ramo do agronegócio. Em primeiro lugar, formou um sindicato de arrozeiros, em 1926, para reivindicar melhores preços para o seu produto e diminuir o impacto negativo das importações descontroladas do Governo Federal no processo de comercialização. Depois veio a necessidade de investimentos tecnológicos.

No final da década de 30, segundo o pesquisador do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), Valmir Gaedke Menezes, os arrozeiros enviaram um técnico para os EUA para especialização na cultura e busca de novas cultivares. Fruto dessa visão inovadora no processo produtivo, que começou muito cedo e não mais parou, a lavoura de arroz gaúcha está dentre as poucas culturas do Brasil em que houve crescimento tanto na área como em produtividade.

 

O mundo corre atrás do superarroz

Pesquisadores do principal centro mundial de pesquisa de arroz, o Irri, nas Filipinas, trabalham para o desenvolvimento de um ideotipo de arroz capaz de alcançar uma produtividade de até 14 mil quilos por hectare. A idéia é verticalizar a produtividade de arroz no mundo.

O instituto já conseguiu alguns avanços no sentido de obter uma linhagem com folhas verdes durante todo o ciclo, colmos grossos e fortes, panículas grandes com maior número de grãos e resistentes às principais doenças e insetos que atacam a lavoura de arroz. O Irga já realizou alguns testes com o material genético disponibilizado pelo Irri.

O objetivo, no entanto, é muito complicado de resolver. Uma das questões é a arquitetura das plantas. Os colmos precisam ser grossos e fortes para suportar a panícula pesada pelo número maior de grãos, por exemplo. Existem linhagens bem próximas deste objetivo graças ao trabalho desenvolvido nos últimos 12 anos de pesquisa. Todas as ferramentas possíveis estão sendo utilizadas no melhoramento das variedades. Do cultivo de anteras até as formas de biotecnologia. Só não foi utilizada até agora a tecnologia dos transgênicos. Não há previsão do lançamento da variedade.

 

O futuro da várzea passa pela rotação

A rotação de culturas alternativas como a soja, o sorgo e o milho em várzea é um dos principais focos da pesquisa de suporte à cultura do arroz irrigado no Rio Grande do Sul. O Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), a Embrapa e outros organismos públicos e privados de pesquisa trabalham com muitos experimentos nesta área. O pesquisador do Irga, Valmir Menezes, destaca que a rotação de culturas é altamente desejável como princípio pela ruptura de uma seqüência de manejo.

Segundo ele, o uso continuado de uma cultura facilita o surgimento de plantas daninhas específicas. "Quanto mais específicas, mais difícil é o seu controle", acrescentou Menezes. A rotação permite quebrar, romper, com esta seqüência de surgimento de pragas.

O maior problema para o desenvolvimento do sistema, no entanto, são as características das várzeas gaúchas. As várzeas do Rio Grande do Sul não favorecem ao desenvolvimento de culturas alternativas. Elas mantêm o solo saturado, sem disponibilidade de oxigênio no sistema radicular, impedindo o desenvolvimento das plantas. Plantas como milho, soja e sorgo são altamente exigentes e pedem solos bem drenados, com alta disponibilidade de oxigênio.
O vice-presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro), André Barreto, diz que são necessárias linhas de crédito para financiar a irrigação das culturas de coxilha, como o milho, o sorgo e a soja, como é nos Estados Unidos, na Europa e nos países grandes produtores. Com irrigação, Barreto afirma que as coisas ficam bem mais fáceis. Para Barreto, a várzea atualmente não tem outra opção se não a de trabalhar com arroz ou gado, com um ganho de 50 quilos por cabeça/ano, o que é ridículo.

Falou & disse

"A busca de variedades de soja, milho e sorgo resistentes ao encharcamento do solo, por parte dos organismos de pesquisa, é a esperança de maior rentabilidade e redução das infestações nas lavouras para os produtores de arroz irrigado gaúchos. Com financiamento para investir na irrigação de coxilha e material genético que se desenvolva em várzea, o produtor poderá buscar alternativas de médio e longo prazos"

André Barreto, vice-presidente da Fecoagro


Questão básica 

O que é necessário para a rotação?

Para o desenvolvimento da rotação de culturas como milho, soja ou sorgo na várzea, na rotação com a lavoura de arroz, são necessários dois fatores fundamentais: material genético que suporte mais o estresse hídrico por excesso (saturação) e um melhor desenvolvimento do nível de drenagem superficial das várzeas.

O plantio pode ser conseguido com sucesso, numa primeira fase, plantando as áreas com menos problemas de drenagem e com sistematização e correção de superfície de solos já implantadas.

Outro fator importante citado por Fischer, do Irga, é a irrigação das cultivares, por banho ou aspersão, na estiagem. O gerente da Divisão de Pesquisa do Irga explicou que o trabalho desenvolvido na Estação Experimental do Arroz do Irga, de Cachoeirinha, busca materiais mais adaptados ao plantio em várzea.

O pesquisador Valmir Menezes explicou que se os produtores gaúchos quisessem trabalhar hoje no setor diversificando atividades e adotando a rotação como prática de manejo, teriam que se adaptar às diferenças existentes.

Das três culturas (sorgo, milho e soja), a mais adaptada para as condições de várzea gaúcha é a soja, depois o sorgo e o milho pela ordem, pelo que traduzem as pesquisas do Irga. O milho resiste de três a quatro dias o saturamento das várzeas. Algumas variedades de soja, no entanto, resistem até 12 dias.

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