Plano Safra 2017/2018 e a indefinição sobre juros

A Selic no atual patamar ajuda o governo a parar de subsidiar, com recursos do Tesouro, o agricultor e o pecuarista.

O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu, na quarda-feira (12/04) a taxa básica de juros (Selic) de 12,25% para 11,25% ao ano. Na próxima reunião do órgão, em 30 e 31 de maio, as apostas são de um novo corte de 1% na Selic, para 10,25% ao ano. A rápida queda na Selic cria um cenário raro para o crédito agrícola na atual safra, que se encerrará em 30 de junho. A Selic ficou mais barata do que os juros de parte empréstimos subsidiados pelo governo, entre 9,5% e 12,75% ao ano para o período. A decisão do Copom cria ainda a incógnita de quanto custará os recursos para o Plano Agrícola e Pecuário da safra 2017/2018, a ser iniciada em 1º de julho. A Selic no atual patamar ajuda o governo a parar de subsidiar, com recursos do Tesouro, o agricultor e o pecuarista. Isso reforça a tese do fim do fomento estatal ao setor considerado capaz de se autofinanciar.

O cenário de juros inibe ainda os aproveitadores, produtores capitalizados que deixam o dinheiro em aplicações rentáveis nos bancos e tomam, nas mesmas instituições financeiras, recursos baratos e subsidiados para financiarem a safra. Um retrato dessa equalização entre juros da Selic e o crédito agrícola é a demanda retraída pelo recurso público disponível para o fomento da atual safra. Cálculos do governo apontam que do volume de R$ 185 bilhões liberado para a temporada 2016/2017, valor já reduzido dos R$ 202,8 bilhões anunciados inicialmente, R$ 150 bilhões foram tomados até o mês passado. Operações para realocar recursos de outras áreas do governo para socorrer o crédito agrícola, comuns em outras épocas, são impensáveis hoje com o juro caro. Uma saída seria migrar parte dos R$ 35 bilhões restantes com linhas mais caras ou de menor interesse para linhas mais baratas, onde ainda há demanda.

Para a safra 2017/2018, o discurso no Ministério da Agricultura, mesmo que pareça um devaneio, é que a resistência da equipe econômica já foi quebrada e os juros controlados serão menores do que os atuais, anunciados com uma Selic de 14,25% ao ano. O setor produtivo é cético. A avaliação de entidades como a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) é de que se as atuais taxas de juros fossem mantidas para a próxima safra já seria motivo de comemoração. Parece inevitável que o juro do financiamento agrícola caia, pelo simples fato de que toda grade de juros do País está sofrendo um rebaixamento. As principais autoridades financeiras do governo, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ambos egressos de grandes bancos, defendem a saída gradual do governo do fomento ao financiamento agrícola, espaço ocupado pelo financiamento privado.

Desde que haja financiamento privado competitivo, com ramificação nos lugares mais longínquos do País, a tendência é que setor privado comece a ingressar no reduto do Banco do Brasil. Enquanto isso não acontece, no curto prazo o governo terá de quebrar a cabeça para lançar uma política agrícola diferente na próxima safra, em um cenário de restrição fiscal e ainda com a defesa de autoridades de que linhas de financiamento sejam atreladas à Selic. Essa ideia causa arrepios no setor produtivo. Como a Selic é variável, o crédito agrícola seria pós-fixado tiraria a previsibilidade do produtor e o afastaria do cultivo. Diante do cenário complexo e incerto, sem uma política ainda ancorada em juros mais baixos há o risco de que a supersafra 2016/2017 de grãos, de 230 milhões de toneladas, não se repita em 2017/2018. A onda positiva atual do agronegócio para inflação e para a economia poderia, então, voltar forma de um refluxo negativo no próximo ano. 

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