Plantas daninhas: como você sabe se está no caminho certo?

Autoria: Keli Souza da Silva é Dra. em Agronomia, com ênfase em manejo de plantas daninhas, professora universitária e produtora rural.

Uma das lições aprendidas com o grande mestre Enio Marchesan, foi a de desenvolver a capacidade de observação. Captar os sinais que o agroecossistema emite, mas que, nem sempre atentos, percebemos. Assim, estava vistoriando a área onde será estabelecida minha lavoura de arroz na safra 2020/21 e me deparei com uma gramínea incomum naquele ambiente. Aguardei, pacientemente, a emissão da panícula para confirmar minha suposição. Tratava-se de Phalaris aquatica, também conhecida como alpiste-d’água, espécie que ao mesmo tempo em que é cultivada como forrageira de inverno, é relatada como neurotóxica para ruminantes.

Devorei então a bibliografia, na expectativa de conter de maneira eficaz o possível – e perene – problema, antes que se disperse pela área. Elevada produção de sementes e tolerância às geadas do sul são habilidades que acedem o alerta em se tratando de plantas daninhas. O capim-annoni ta aí vivo e não me deixa mentir! Mas o problema pontual de uma lavoura de beira de asfalto, freqüentemente presenteada com as sementes que, sorrateiras, viajam com os caminhões que descem para o porto, me fez pensar sobre números e eficácia.

Na também posição de produtora rural, a agrônoma aqui sabe o quanto é difícil pôr todas as métricas da agricultura no papel. Mas, é fato que eficácia não é produzir mais ou obter um número maior. Eficácia vem do equilíbrio entre o produzido e a capacidade de produzir. Na fábula da galinha dos ovos de ouro, a capacidade produtiva era de um ovo de ouro maciço por dia, mas o fazendeiro queria mais e na intenção de obter todos os ovos de uma só vez, matou a galinha. Não encontrou um único ovo, uma vez que esses eram produzidos diariamente e ainda ficou sem a sua produtora! O fazendeiro, em sua visão de curto prazo, extinguiu sua capacidade produtiva, julgando por apenas uma métrica.

Fazemos o mesmo quando aplicamos as novas tecnologias apostando apenas no controle imediato. Esse é o momento em que você pergunta: mas não é esse o objetivo delas? Ocorre que, pela perspectiva da gestão da capacidade produtiva da propriedade rural, eficácia de controle é uma métrica estática e pontual. Ela é o resultado de uma aplicação ou de uma seqüência de aplicações e expressa o percentual de mortalidade das plantas daninhas, o que é muito importante quando buscamos minimizar imediatamente a competição. Mas se obtemos controles muito próximos a 100% a cada safra, porque enfrentamos os mesmos problemas no ciclo seguinte?

Nos negócios rurais, a terra “inçada” vale menos. Por que esse mesmo referencial não é utilizado na gestão do manejo? Conhecer a população de plantas daninhas e acompanhar a densidade são métricas que permitem avaliar a evolução dos resultados e dar direcionamentos mais consistentes, quando utilizados em conjunto com o controle. Foi assim que eu percebi minha nova oponente!

Keli Souza da Silva é Dra. em Agronomia, com ênfase em manejo de plantas daninhas, professora universitária e produtora rural. É criadora da iniciativa www.weedout.com.br | Mais conhecimento, menos plantas daninhas.

 

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