Plantio de arroz em Igreja Nova (AL) ameaçado por suspeita de doença

Produtores de arroz cultivados em Igreja Nova temem que o plantio esteja sendo atacado por brusone, doença de difícil controle que estaria contaminando lotes no município situado na região do Baixo São Francisco alagoano.

Produtores de arroz cultivados em Igreja Nova temem que o plantio esteja sendo atacado por brusone, doença de difícil controle que estaria contaminando lotes no município situado na região do Baixo São Francisco alagoano. O problema denunciado por rizicultores à reporagem do aquiacontece.com.br já é admitido pela administração do Distrito Boacica, perímetro de irrigação com 2.400 hectares de área, mas ainda carece de confirmação técnica, segundo a superintendência da Codevasf em Alagoas.

De acordo com o rizicultor Leandro dos Santos, 24 anos, lotes situados nos povoados Remendo, Ipiranga e Bela Vista – todos situados no Distrito Boacica – apresentam sintomas da doença causada por fungo e que se propaga pelo vento, através das sementes e também por meio do agricultor que, inconscientemente, carrega o fungo em suas vestes e calçados. As formas de transmissão são apontadas como causa da provável contaminação em lotes de arroz situados próximos á cidade de Igreja Nova, distante cerca de 16 km do povoado Ipiranga.

“A gente começou a plantar em setembro e observou que a semente da variedade Rio Formoso adoeceu. Alguns produtores que pegaram financiamento já estão ‘virando a terra’ para iniciar outro plantio e pode ser que não consiga colher por causa do inverno”, frisou Leandro, que atualmente é presidente da Associação dos Produtores e Agricultores Familiares da Vila São Lázaro e também da Central das Organizações de Agricultura Familiar do Baixo São Francisco.

Risco de não pagar financiamento

Leandro Santos acrescentou que muitos produtores de arroz conseguiram financiar o plantio com recursos do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). “O valor é de R$ 6 mil por lote, com carência de um ano para pagar, sem juros, mas tudo de uma só vez, possivelmente com bônus. Sem produção, ele não vai conseguir quitar a dívida e aí também vai ficar impedido de pegar novo empréstimo”, exemplificou Leandro sobre o ciclo vicioso que atormenta os agricultores.

Para evitar a ocorrência da brusone, é preciso mudar a variedade da semente utilizada no plantio do arroz a cada 3, 4 anos, segundo o técnico agrícola José Costa, servidor da prefeitura de Igreja Nova que atende os rizicultores. “Os lotes atingidos estão com a Rio Formoso há seis anos e isso vai gerando a perda de resistência em relação às doenças”, afirmou sobre o uso da variedade que melhor se adaptou à região, semente produzida em Igreja Nova que é comprada pelo governo estadual e repassada aos produtores que, em sua grande maioria, não tem banco de semente.

Falta de assistência técnica

Outro drama para os produtores de arroz instalados no Distrito Boacica é a ausência de assistência técnica O trabalho que era feito por até 12 técnicos da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) terminou com o fim do prazo que colocava a companhia à frente da administração do perímetro irrigado construído pelo governo federal.

Conforme previsto no contrato, a gestão do Distrito Boacica ficou sob a responsabilidade dos próprios irrigantes, com recursos captados a partir do pagamento da taxa pelo uso da água. Como a inadimplência é alta, o Distrito não tem recursos para bancar a indispensável assistência técnica, segundo o atual administrador, o engenheiro agrônomo Germano Vieira de Albuquerque. Ele admitiu a ocorrência de brusone nos lotes e acrescentou que a troca de sementes está prejudica. “O programa com a Embrapa está praticamente paralisado, o que gera uma série de dificuldades”, declarou sobre a parceria com outro órgão do governo federal que coordena experimentos com sementes de arroz em Igreja Nova.

Lotes sem produção por falta de água

Como se não bastasse a ameaça da doença de nome científico Pyricularia oryane, há produtores de arroz que sequer iniciaram o plantio, etapa que deveria ter sido começada entre setembro e outubro. O problema gerado por quebra das bombas que distribuem a água captada do Rio São Francisco atinge lotes situados nos povoado Itapicuru, Bela Vista e Vista Alegre.

O superintendente da Codevasf em Alagoas Antônio Nélson de Oliveira Azevedo explicou que os equipamentos foram enviados para a KSB, empresa de assistência técnica situada em Recife – uma multinacional que venceu o processo de licitação para a realização dos consertos – e que as bombas já foram devolvidas. “Quando esses equipamentos chegaram, nós levamos para a estação e eles não funcionaram, inclusive técnicos da KSB estão lá no Distrito para verificar o que houve”, ressaltou o superintendente.

Antônio Nélson acrescentou que a Codevasf providenciou serviços no canal de drenagem para que a água chegue aos lotes que estão sem a irrigação. Ele citou os riscos que envolvem atividades relacionadas à agricultura e lembrou que em 2009, houve colheita até o mês de maio no Distrito Boacica. “Como o período entre o plantio e a colheita é de aproximadamente 120 dias e ocorrer o que houve no ano passado, ainda há tempo para solucionar esse problema”.

Dia de campo com Embrapa e Adeal

Em relação a ocorrência da brusone, o superintendente da Codevasf informou que já convidou a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e a Adeal (Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas) para investigar a suspeita e tomar as medidas necessárias para evitar a disseminação da doença que causa perda total da produção.

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