População global x produção de arroz

 População global x produção de arroz

Mercado do arroz em Bangkok, Tailândia mercado de arroz em Banguecoque, na Tailândia – Foto: Irri

Autoria: Fan Shenggen – diretor geral do International Food Policy Research Institute, em Washington, DC (EUA).

De acordo com estimativas recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), a população mundial atingirá 7 bilhões em outubro de 2011, e este número pode subir para 9 bilhões em 2050. Quase todo o crescimento (97%) é projetado para vir de países em desenvolvimento, especialmente na África e na Ásia. A demanda para o arroz está crescendo mais rápido que a produção deste cereal. Se nada for feito para garantir o abastecimento consistente e adequado, o preço do arroz vai continuar a subir no mundo.

Oferta de arroz e crescimento da população

A Ásia representa cerca de 90% da produção e do consumo global de arroz. É também o lar de muitos milhões de pessoas pobres e famintas que dependem do grão para a maioria de suas necessidades de calorias. Muitos deles são agricultores pobres que não só consomem arroz, mas também o produzem em pequenas parcelas de menos de 2 hectares. Na verdade, o Instiuto Internacional em Pesquisas do Arroz (International Rice Research Institute – IRRI) relata que quase dois terços dos pobres do mundo vivem em áreas de produção de arroz na Ásia. Tendências atuais de crescimento populacional indicam aumento dessa parcela. A África também tem significativa participação mundial no consumo de arroz e um grande número de pessoas pobres.

A demanda global deste cereal deverá aumentar nas próximas décadas, ainda que em quantidades diferentes entre as regiões. Estas mudanças na demanda são principalmente devido ao crescimento populacional, aumento da renda, da urbanização e preferências alimentares em mudança. Em nível global, o consumo per capita de arroz pode tornar-se estável, mas vai aumentar na África, Oriente Médio e as Américas, enquanto que irá diminuir em alguns países asiáticos que estão experimentando mudanças de dieta, devido à maior renda e urbanização.

A produção de arroz em algumas regiões diminuiu, assim, há redução na oferta global. Este cenário de produção tem ficado assim por várias razões, incluindo a produção agrícola estagnada ou em declínio, falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento agrícola, terra e água aumentando as restrições para a agricultura, dos custos de produção e do trabalho, devido à urbanização de zonas produtivas e industrialização. Nos próximos anos, a mudança climática é esperada para colocar pressão adicional sobre os sistemas de produção de arroz, gerando suprimentos mais apertados.

A oscilação nos preços dos alimentos em 2007/08 e 2010/11 e o rápido esgotamento das reservas mundiais de alimentos revelam que o mundo está cada vez mais vulneráveis à escassez de alimentos ou de crises. Como as populações consumidoras têm a característica de expandirem-se rapidamente, mas, com investimentos a produção global também pode reagir de forma acelerada, ações concretas devem ser tomadas para aumentar a produção e suprimento de arroz de maneira a garantir a seguraça alimentar, especialmente para os milhões de pessoas pobres que residem nessas regiões.

Que deve ser feito?

A experiência da Ásia durante a Revolução Verde, quando a introdução de variedades melhoradas de arroz levou a rendimentos mais elevados mostra que a tecnologia é a chave para estimular o crescimento rápido da produção. Além de preencher a lacuna entre a demanda e a oferta, o crescimento da produtividade de arroz também terá impacto na grande redução da pobreza. Muitos são os pequenos agricultores pobres que dependem da produção do grão para sua subsistência. Novas tecnologias, inclusive de pós-colheita, devem ser lançadas continuamente em grande escala para gerar estes impactos positivos na produção do alimento.

Avanços recentes no desenvolvimento e transferência de tecnologias para o arroz são promissores. Híbridos de arroz que são de alto rendimento, resistentes a pragas e doenças e tolerantes a estresses ambientais estão sendo desenvolvidos e tornam-se cada vez mais disponíveis aos agricultores.

Cerca de 20 milhões de hectares de arroz híbrido são cultivados atualmente. Na China, a adoção desta tecnologia cresceu 85%, de acordo com o IRRI. O arroz biofortificado, enriquecido com micronutrientes como vitamina A e zinco, também foi desenvolvido e tem grande potencial para melhorar significativamente a nutrição dos consumidores pobres. Garantir a sustentabilidade ambiental, tecnologias para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa na produção de arroz são ações que devem ser promovidas desde a produção do arroz, que é uma das maiores fontes agrícolas de emissões de metano.

Embora a tecnologia seja uma necessidade para atender a crescente demanda pelo produto no mundo, sozinha ela não é suficiente. Incentivos políticos e de mercado também são necessários para promover o crescimento produtivo, especialmente entre os pequenos agricultores. Investimentos são importantes para melhorar o acesso dos pequenos agricultores às tecnologias como fertilizantes e sementes de alto rendimento, bem como incentivá-los a diversificar em commodities de alto valor agregado ou atividades não agrícolas.

Para ajudá-los a lidar com os riscos que decorrem de choques climáticos, mecanismos de gestão inovadores, tais como informações mais seguras sobre o clima, devem ser fortemente promovidos. O acesso ao crédito e aos serviços financeiros também é crucial para os pequenos agricultores e iniciativas emergentes, como bancos comunitários, têm se revelado úteis.

Para habilitar os pequenos agricultores a participarem lucrativamente em cadeias globais de fornecimento de arroz, eles precisam estar ligados a mercados de alto valor. Inovações institucionais, como associações de agricultores e os regimes de contrato agrícola podem ajudar a reduzir os custos de transação de mercado e aumentar o acesso à informação. Investimentos em infraestrutura rural também será crucial para melhorar a eficiência e lucratividade da cadeia de abastecimento.

Na área comercial, os governos nacionais devem abster-se de impor proibições de exportação que apertam os mercados de alimentos e diminuem os incentivos à produção. As reservas de arroz estratégicas, como a ASEAN são críticos para garantir que os pobres tenham acesso a uma alimentação adequada, especialmente em situações de emergência. Para conseguir satisfazer as necessidades alimentares de uma população em rápido crescimento, a implementação dessas ações é imperativo.

1 Comentário

  • SOU ESTUDANTE DE LOGÍSTICA ,GOSTEI DO ARTIGO

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter