Por que a Índia é a chave para as perspectivas do mercado global de arroz
Um trabalhador espalha arroz para secagem em um moinho de arroz nos arredores de Kolkata, Índia, em 31 de janeiro de 2019.
(Por Reuters) A decisão surpresa da Índia de proibir as exportações de trigo também levantou preocupações sobre possíveis restrições às exportações de arroz, levando os comerciantes de arroz a intensificar as compras e fazer pedidos atípicos para entregas com prazos mais longos.
Autoridades do governo e do comércio disseram que a Índia, o maior exportador de arroz do mundo, não planeja reduzir os embarques por enquanto, já que os preços locais permanecem baixos e os armazéns estatais têm amplos estoques. Isso é um alívio para os países dependentes de importação que já enfrentam o aumento dos custos dos alimentos, mas a maior parte da temporada de cultivo de arroz da Índia está à frente e qualquer mudança nas perspectivas para a colheita pode alterar sua posição sobre as exportações do grão básico.
As chuvas de monção determinam o tamanho da safra de arroz da Índia, e chuvas abundantes este ano ajudariam a manter sua posição de destaque no comércio global de arroz.
As chuvas de monções irregulares, no entanto, prejudicariam a colheita e reduziriam os rendimentos, o que poderia levar a uma redução nos estoques do estado que desencadearia restrições às exportações para garantir suprimentos suficientes para os 1,4 bilhão de habitantes do país.
Por que a Índia é tão crucial para o abastecimento global de arroz?
As exportações de arroz da Índia atingiram um recorde de 21,5 milhões de toneladas em 2021, mais do que os embarques combinados dos próximos quatro maiores exportadores mundiais do grão: Tailândia, Vietnã, Paquistão e Estados Unidos.
A Índia, o maior consumidor de arroz do mundo depois da China, tem uma participação de mercado de mais de 40% do comércio global de arroz.
Os altos estoques domésticos e os baixos preços locais permitiram que a Índia oferecesse arroz com grandes descontos nos últimos dois anos, ajudando os países mais pobres, muitos na Ásia e na África, a lidar com a disparada dos preços do trigo.
A Índia exporta arroz para mais de 150 países, e qualquer redução em seus embarques alimentaria a inflação de alimentos. O grão é um alimento básico para mais de 3 bilhões de pessoas, e quando a Índia proibiu as exportações em 2007, os preços globais dispararam para novos picos.
Quem sofrerá mais se a Índia restringir as exportações de arroz?
Qualquer movimento para restringir as exportações da Índia atingiria quase todos os países importadores de arroz. Também permitiria que os fornecedores rivais Tailândia e Vietnã aumentassem os preços que já estão mais de 30% acima dos embarques indianos.
Além de atender compradores asiáticos como China, Nepal, Bangladesh e Filipinas, a Índia fornece arroz para países como Togo, Benin, Senegal e Camarões.
O arroz semeado no verão da Índia responde por mais de 85% da produção anual do país, que saltou para um recorde de 129,66 milhões de toneladas no ano-safra até junho de 2022. Milhões de agricultores começam a plantar arroz de verão em junho, quando as monções atingem a Índia. A monção, que fornece cerca de 70% da precipitação anual da Índia, é crucial para o arroz sedento de água.
Os agricultores indianos dependem das chuvas das monções para regar metade das terras agrícolas do país que não têm irrigação. Em 2022, prevê-se que a Índia receba uma quantidade média de chuvas. Mas desde 1º de junho, quando começou a temporada de monções de quatro meses, as chuvas estão 41% abaixo da média.
As chuvas devem aumentar em meados de junho e estimular a semeadura de arroz. Três anos de chuvas médias ou acima da média e novas práticas agrícolas modernas aumentaram a produção de arroz.
O governo deve se preocupar com o abastecimento de arroz?
Atualmente, a Índia tem estoques de arroz mais do que suficientes, e os preços locais são mais baixos do que os preços estabelecidos pelo Estado pelos quais o governo compra arroz em casca dos agricultores. Os preços de exportação do arroz também estão sendo negociados perto dos mais baixos em mais de cinco anos.
Enquanto isso, os estoques de arroz branqueado e em casca nos celeiros do governo de 57,82 milhões de toneladas são mais do que quadruplicando a meta de 13,54 milhões de toneladas.
Ao contrário do trigo, a Índia não viu um aumento nas exportações de arroz após a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro, já que a região do Mar Negro não é um grande produtor ou consumidor de arroz.
