Por que não?

Setor produtivo discute o uso de arroz e resíduos como alternativa para a produção de álcool e derivados
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Ao ser indagado em um programa de TV sobre a viabilidade do Rio Grande do Sul produzir etanol a partir do arroz, o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Renato Rocha, respondeu com outra pergunta: “E por que não?”.

Desde o final do ano passado, o setor produtivo discute o uso de alternativas para o excedente de arroz colhido no estado – 2,5 milhões de toneladas na safra 2010/11 – e para os baixos preços do produto no mercado nacional e internacional. O assunto também foi tema da audiência pública realizada pela comissão de agricultura, pecuária e cooperativismo (CAPC) da Assembleia Legislativa, em julho.

A audiência foi proposta e conduzida pelo presidente do órgão técnico, deputado Chicão Gorski (PP). “Sabemos que o setor vive uma crise por conta dos baixos preços do produto no mercado nacional e internacional. Então, nossa missão é ajudar os agricultores deste importante setor de nossa economia a buscar alternativas viáveis para a produção”, destacou Chicão.

Representantes de quatro instituições apresentaram ideias e pesquisas realizadas sobre formas de utilizar o arroz na produção de biocombustíveis. Valmor Bandeira, da empresa Imana, falou das possibilidades biotecnológicas do arroz; Vilson Neumann Machado, consultor da Federarroz para bioenergia, sobre usos alternativos para o arroz; Clenio Nailto Pillon, chefe-adjunto de pesquisa da Embrapa, falou do trabalho realizado pela Embrapa Clima Temperado sobre as diversas utilizações do arroz; Harold Ospina Patino, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), sobre a proposta do Nipeb/Ufrgs para a produção de biocombustíveis na agroindústria do arroz.

“O mais importante é mostrar as vantagens que podem ser obtidas a partir do uso do arroz neste tipo de produção.

Tecnologia já existe para que isto se torne uma realidade, assim como mercados que podem consumir o que for produzido”, ressaltou Bandeira. Segundo o consultor da Federarroz, o arroz já vem sendo utilizado para a produção de diversos coprodutos, como rações, óleos, energia térmica e agora biocombustíveis. “É mais uma alternativa para o produtor buscar mercados que estão além da cadeia alimentícia”, observou Machado, que estuda o uso alternativo do cereal há mais de 20 anos. 

COMBUSTÍVEL LIMPO

Um dos principais pontos de discussão da cadeia produtiva é o uso do arroz para desenvolver um combustível menos poluente. Esta é a proposta da pesquisa realizada na Ufrgs, que este ano já produziu o produto em parceria com uma empresa privada. “Normalmente, este combustível pode ser colocado em qualquer carro flex. É um combustível com etanol que sai com 96 GL, é uma característica do tipo de combustível. Ele permite ser utilizado em qualquer motor de combustível interno. O grande apelo que se faz hoje para usar esse combustível é pela possibilidade que o biocombustível diminua o sequestro de carbono e a ação dos gases no efeito estufa”, argumentou o professor Harold Ospina Patino.

A expectativa do presidente da Federarroz é de que, em um futuro bem próximo – preferencialmente já na próxima safra -, o produtor possa fazer a opção de produzir, por exemplo, 80% de arroz para consumo humano e 10% para etanol. “Mas tudo vai depender do governo, tanto o incentivo à construção de biorrefinarias e indústrias de ração animal quanto à formatação de políticas de controle e fiscalização”, avaliou Renato Rocha.

O dirigente também lembrou que o Brasil já foi o maior produtor de etanol e hoje precisa importar para atender a demanda interna. “O Rio Grande do Sul produz apenas 9 milhões de litros por ano e o consumo estimado para o próximo ano é de 2,4 bilhões de litros”, disse. “Foram 15 safras nos últimos 21 anos em que o produtor fechou no vermelho. Então, é importante viabilizar novas alternativas para o escoamento da produção gaúcha que resultem, sobretudo, em uma política de estabilidade de preço”, complementou Rocha. E por que não?

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