Poucas chuvas e menor produção de arroz derrubou dinastia chinesa

Estudo sugere que dinastias chinesas acabaram em períodos de pouca chuva..

O declínio de algumas das mais importantes dinastias imperiais da China antiga pode estar ligado a mudanças na intensidade das chuvas de monção, segundo estudo de cientistas americanos e chineses.

Os estudiosos analisaram 1,8 mil anos de sinais das monções asiáticas preservados em estalagmites da caverna de Wangxiang, na província de Gansu, noroeste da China.

Estalagmites são formadas por carbonato de cálcio, que se precipita a partir de águas subterrâneas que pingam do teto de cavernas.

Análises químicas de uma estalagmite de 118 milímetros de altura na caverna de Wangxiang mostraram a história de ciclos fortes e fracos nas chuvas de monção.

Segundo os pesquisadores, que publicaram a pesquisa na revista Science, períodos com chuvas de monção fracas – ou seja, períodos mais secos – coincidiram com o fim das dinastias Tang, Yuan e Ming.

Os cientistas da Universidade de Lanzhou e da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, especulam se um período de poucas chuvas levou a lavouras de arroz menos fartas, já que as chuvas de monção irrigam as lavouras que alimentam milhões de pessoas na Ásia, e a problemas como rebeliões.

A análise também mostrou que nos últimos 50 anos gases de efeito estufa e aerossóis tiveram forte impacto nas chuvas de monção.

Crescimento

A estalagmite analisada cresceu de forma contínua desde o ano 190 até 2003.

Pequenas variações nas formas ou isótopos da composição de oxigênio da estalagmite refletiam as variações no índice pluviométrico perto da caverna.

As proporções de elementos radioativos como urânio e tório permitiram que os pesquisadores fizessem a datação da estalagmite.

Ao comparar o registro de chuvas com os registros históricos da China, a equipe do cientista Pingzhong Zhang, da Universidade Lanzhou, descobriu que três das cinco dinastias que duraram muitos séculos – Tang, Yuan e Ming – acabaram depois de várias décadas de chuvas de monção mais fracas no verão, ou seja, um clima mais seco.

– Ventos de monção durante o verão têm origem no Oceano Índico e varrem a China – afirmou Hai Cheng, um dos autores da pesquisa, da Universidade de Minnesota.

– Quando a monção de verão é mais forte, empurra (os ventos) mais para o noroeste da China.

Estes ventos úmidos trazem a chuva necessária para o cultivo do arroz. Mas, quando a monção é fraca, as chuvas caem mais ao sul e ao leste, diminuindo no norte e oeste do país e afetando a safra do arroz.

– Outros fatores podem, certamente, ter afetado estes capítulos da história cultural da China, mas nossas correlações têm um papel importante – escreveram os cientistas na revista Science.

Segundo os pesquisadores, as chuvas de monção mais fracas podem ter tido influência além da China. Os cientistas afirmam que um período de seca entre os anos de 850 e 940 coincidiu não apenas com o declínio da dinastia Tang, na China, mas também com a queda da civilização maia na América.

Influência humana

O aumento das chuvas de monção que ocorreu logo depois pode ter contribuído com o aumento rápido no cultivo do arroz, um aumento dramático na população e a estabilidade geral no início da dinastia Song, do norte da China.

Segundo os cientistas este arquivo natural mostra que a mudança climática pode ter efeitos devastadores em populações locais, mesmo quando esta mudança é suave.

Nos registros da caverna a monção seguiu tendências na atividade solar durante muitos séculos, sugerindo que o Sol teve um papel importante na variação deste sistema meteorológico.

Os registros das monções também combinam com o avanço e recuo das geleiras da Suíça.

Em uma escala mais limitada, as variações das monções também seguiram as temperaturas do hemisfério norte, em uma escala de séculos e milênios. Quando as temperaturas aumentavam, as monções ficavam mais fortes e, quando as temperaturas caíram, as monções enfraqueceram.

Mas, nos últimos 50 anos, esta relação mudou. Os cientistas afirmam que isto se deve à influência dos gases de efeito estufa e os aerossóis de sulfato liberados devido à atividade humana.

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