Pragas atacam 25% da lavoura
Gorgulho-aquático traz grandes danos econômicos ao arroz.
Cerca de 25% da lavoura gaúcha é atacada por pragas com volume de infestação capaz de provocar danos econômicos. Segundo o chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas, José Francisco da Silva Martins, no Rio Grande do Sul a principal praga causadora de danos econômicos às lavouras chama-se gorgulho-a-quático (Oryzophagus oryzae) e está distribuída por todo o estado.
No contexto da cultura do arroz irrigado no Rio Grande do Sul este é apenas um dos muitos problemas que afetam a produtividade desde as cultivares utilizadas (pouco tolerantes ao frio) até problemas culturais e infestações daninhas, passando pelo risco de doenças. O ataque por pragas tem uma faixa de prejuízo que, no Rio Grande do Sul, oscila entre 10% e 15% da lavoura, ou numa faixa de 500 a 750 quilos por hectare.
"Esta característica de dano econômico à lavoura ocorre onde não há a prática eficiente do controle recomendado pela pesquisa e a assistência técnica", complementa Silva Martins. Na sua forma larval, conhecida como bicheira-da-raiz, o gorgulho-a-quático é ainda mais devastador. Nesta fase da vida o inseto ataca a raiz do arroz, provocando danos sérios e comprometendo a produção. Juntamente com o percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris), o gorgulho-aquático (adulto e na forma larval) é a principal praga crônica da lavoura gaúcha.
Questão básica
Qual a solução contra as pragas?
O Manejo Integrado de Pragas (MIP), conjunto de práticas elaborado pelos órgãos públicos de pesquisa e da assistência técnica, ainda é a melhor solução para combater as pragas da lavoura de arroz. O presidente da Comissão Técnica de Arroz da Região I (RS e SC), José Francisco da Silva Martins, lembra que até cinco anos atrás pouco se usava inseticidas químicos no combate aos insetos na lavoura de arroz irrigado. Nos últimos tempos este uso aumentou. O problema, segundo Silva Martins, é que a maior parte da utilização dos inseticidas químicos é irracional, pois não há um monitoramento sério da população das pragas na lavoura. Este, no seu entendimento, deveria ser o primeiro e principal passo para definir a utilização e em que volume dos produtos químicos.
Falou & disse
"Os princípios do MIP precisam ser exercitados na lavoura. Sem saber qual o volume da praga, que é possível calcular pelos dados fornecidos aos produtores na publicação Recomendações Técnicas para a Cultura do Arroz Irrigado, é impossível definir quanto de veneno aplicar e estará ocorrendo uma má utilização".
José Francisco da Silva Martins, presidente da Comissão Técnica do Arroz
Dossiê
Quem são os insetos inimigos
Todos os anos o gorgulho-aquático e o percevejo-do-colmo aparecem nas lavouras, causando um dano não muito elevado. Eventualmente, de acordo com as condições de clima, manejo e cultivares utilizadas, cria-se uma situação mais propícia ao aumento da população destes insetos e o ataque massivo à cultura, segundo explicou o chefe do setor de pesquisas da Embrapa Clima Temperado, José Francisco da Silva Martins.
Há também algumas pragas agudas que surgem arrasadoras em alguns anos. É o caso da lagarta-da-folha, que corta as plantas na fase inicial da cultura. Ela ataca em todo o Rio Grande do Sul e seus danos se fazem sentir de forma mais contundente em anos mais secos como o da última safra. O percevejo-do-grão (Oebalus poecilus) também afeta a produtividade e a qualidade do grão. Embora não seja muito freqüente o seu surgimento, trata-se de um inseto que em algumas safras ataca, em áreas localizadas, com muita voracidade. Entre as pragas em expansão existem o cascudo-preto, a pulga-do-arroz, o pulgão-da-raiz e a broca-do-colmo.
Manejo
As práticas que reduzem as pragas
• Aplainamento do solo
• Limpeza de taipas e canais de irrigação
• Manejo da adubação nitrogenada para recuperação de plantas danificadas pela bicheira-da-raiz
• Inundação dos arrozais para inibir o surgimento de pragas, quando é possível, dentro do manejo da água
• Usar cultivares mais resistentes aos insetos
• Pesquisa deve ser intensificada no estado
• Técnicos devem pesquisar mais e orientar o uso do MIP
• Envolver mais diretamente a pesquisa, a assistência técnica e o setor comercial e o produto para uso do MIP
Mapa das pragas
MERCOSUL – Uruguai e Argentina têm ocorrências, historicamente, com as mesmas pragas do RS, mas em menor escala. O gorgulho-aquático também está se transformando na principal praga destas lavouras. O percevejo-do-colmo também é bastante conhecido na Argentina.
BRASIL – No Brasil central o problema das pragas é muito mais sério em função do clima tropical. A tendência é de custos maiores e maior risco de agressão ao meio ambiente, se não for utilizado um sistema correto. As pragas são as mesmas, os índices populacionais, no entanto, são maiores.
GRÃO
Informação prioritária
Segundo José Francisco da Silva Martins, o interesse comercial às vezes está acima da utilização do método de manejo. "Falta um pouco mais da cultura de manejo ao produtor", disse ele. Aplicar o produto só quando a população da praga assim exigir, para ter uma resposta econômica melhor. Pesquisa já liberou informações que permitem ao produtor saber o ponto exato de aplicar o inseticida
Em busca do controle perfeito
Instituições de pesquisa começam a se dedicar mais à busca de formas eficientes de controlar biologicamente as pragas que atacam o arroz. "Esta é a ênfase que a pesquisa deverá adotar nos próximos anos, assim como a biotecnologia", acredita o especialista em pragas da Embrapa Clima Temperado, José Francisco da Silva Martins.
As alternativas de controle pelo método biológico são bastante atraentes para um segmento de pesquisadores, segundo Silva Martins. Uma das formas de combater os insetos biologicamente é criar mecanismos para aumentar a população de um inimigo natural na lavoura, como algumas espécies de aranha.
"O problema para a adoção deste controle biológico é o clima. O frio e a falta do inseto hospedeiro, pelo fato da lavoura não permanecer formada o ano todo, dificultam o trabalho de pesquisa e a própria aplicação do método", afirmou.
Lembrou, contudo, que há possibilidade de manejar a lavoura de forma a favorecer a ação dos predadores das pragas prejudiciais ao arroz irrigado. Um exemplo disso é o uso de produtos químicos seletivos que agem sobre a praga e não no predador. Para isso, no entanto, é preciso ter critérios e observar a seletividade na formulação do produto e o princípio ativo do produto químico.