Preço do arroz Cirad despenca e gera crise/ MT

Cultivar não atinge mais o padrão de qualidade exigido por norma de classificação. Uso de sementes crioulas (grãos) e segregação da semente provocaram perda da condição de longo-fino.

O arroz da variedade Cirad 141 não foi desclassificado nem pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) nem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), conforme chegou a ser divulgado. A informação é do gerente de Operações da Conab em Mato Grosso, João José Mendes Neto. “A Conab não tem poder para interferir na classificação de qualquer produto. E desclassificar significa considerar impróprio para consumo humano. Não foi isso que ocorreu”, afirma.

Segundo Mendes Neto, o produto não se enquadra na Instrução Normativa da Conab de 1988. Para uma variedade de arroz ser considerada tipo “longo fino”, 80% dos grãos de um lote precisam ter no mínimo 6mm de comprimento e no máximo 19mm de espessura. No entanto, na última safra, a espessura dos grãos ficou maior. Com isso, o preço do longo fino caiu de R$ 40,00 na safra passada para R$ 19,70 e do longo máximo para R$ 12,70, gerando uma crise na rizicultura.

De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Arroz do Estado de Mato Grosso, Ângelo Carlos Maronezze, as medidas fora dos padrões se devem ao manejo de lavouras bem adubadas e cultivadas com alta tecnologia.

EM DIFICULDADES

Além disso, a rizicultura sofre com o excesso de oferta do cereal e a falta de infra-estrutura para secagem e armazenagem dos grãos. Com o intuito de amenizar a crise na produção de arroz, o governo federal precisou intervir no setor. Em Mato Grosso, segundo maior produtor brasileiro de arroz, a Conab adquiriu até o mês de julho 51 mil toneladas do produto.

“Nos últimos dois anos, a situação de mercado estava controlada e os produtores não precisaram da interferência do governo”, revela Mendes Neto.

Já Maronezze disse que a associação reivindica ao governo menos rigor na compra do Cirad 141 para atenuar os prejuízos que os produtores estão tendo. Os associados da entidade pedem também que a Conab adquira um volume maior da variedade para que os rizicultores se desfaçam de seus estoques.

QUEDADE DE 60% NA ÁREA

O presidente da APA prevê uma redução de 60% da área de cultivo do arroz Cirad 141 na safra 2005/2006 em relação à de 2004/2005, que foi de 740 mil hectares. Cirad é a sigla do instituto que durante muitos anos trabalhou e desenvolveu experimentos em Mato Grosso até chegar à variedade do arroz – Centro de Cooperação Internacional de Pesquisa para Desenvolvimento da Agricultura.

No ano agrícola 2004/2005, a colheita do arroz em Mato Grosso foi de 2 milhões de toneladas, 400 mil a mais que na safra anterior. Em função do excesso de oferta, o arroz está entulhado em armazéns e da forma como está estocado vai perdendo a qualidade.

Parte da produção está se deteriorando nas propriedades. Alguns caminhões, depois de carregarem grãos de arroz úmido, atingidos por chuvas, ficaram sob o efeito do calor por quase uma semana. Os grãos foram colocados em trincheiras forradas e cobertas por lona, ou mesmo a céu aberto. Sob lona, o arroz fermenta e apodrece ou dependendo do grau de umidade, começa a nascer, tornando-se imprestável para consumo humano.

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