Preço do arroz sobe ao maior patamar desde 2020

 Preço do arroz sobe ao maior patamar desde 2020

Dificuldades de escoamento e período de entressafra também explicam alta do arroz no mercado interno — Foto: REUTERS/Stringer

(Por Fernanda Pressinott, Globo Rural)  Em meio à entressafra e ao impacto do ciclone extratropical no escoamento agrícola no Rio Grande do Sul, o preço do arroz ao produtor superou os R$ 100 por saca ontem, patamar que não era registrado desde o início de dezembro de 2020, considerando dados nominais.

De acordo com pesquisadores do Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea/USP), a demanda está firme, mas os vendedores estão retraídos para novos negócios. “No geral, a liquidez no mercado sul-rio-grandense está baixa, diante, entre outros fatores, de preocupações quanto ao impacto do ciclone extratropical no Estado”, diz o Cepea, em análise.

O bloqueio de diversas estradas está dificultando o transporte do cereal no Estado que produz 70% do arroz que é consumido pelos brasileiros.

Além disso, o período de entressafra é outro fator que impulsiona os preços, que já foram repassados ao consumidor. Na terça-feira, o Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostrou que o arroz subiu 1,14% em agosto.

Não bastassem as questões domésticas, o preço do cereal tem sido afetado por fatores externos. A Índia, que responde por 40% do comércio internacional do cereal, decidiu restringir as exportações, o que tem feito importadores olharem para fornecedores distantes como o Brasil.

“Se no mercado interno o arroz está a R$ 100, no porto (Rio Grande) passa de R$ 110, o que instiga a indústria e as tradings a exportarem”, disse Andressa Silva, diretora executiva da Associação Brasileira da Indústria de Arroz (Abiarroz).

Exportações em alta

De fato, os embarques têm crescido. Em agosto, as vendas externas de arroz cresceram 20,3% na comparação com o mesmo mês de 2022, para 296,5 mil toneladas (base casca). Em receita, o aumento foi de 30%, para US$ 101 milhões. No ano, as exportações cresceram 16,6% em volume e 34,4% em receita para, respectivamente, 1,3 milhão de toneladas e US$ 451,5 milhões.

A restrição adotada pela Índia está relacionada ao volume menor de chuvas de monções. “Não é a primeira vez que a Índia faz isso. Em setembro passado, por exemplo, foi a vez de restringir a venda de basmati. Agora, inclui o branco, e abre oportunidade para o Brasil capturar alguns mercados”, disse Evandro Oliveira, analista da Safras & Mercado.

Na Malásia, que importa mais de um terço do que consome, a decisão indiana levou o arroz ao maior preço em 15 anos. Na África, a preocupação com os preços também é constante. Segundo a agência Bloomberg, países como Benin, Senegal, Costa do Marfim, Togo e Guiné dependem da Índia para alimentar a população.

Oliveira, porém, lembrou que os maiores mercados atendidos pela Índia ficam na Ásia e África Oriental, enquanto o Brasil fornece principalmente para África Ocidental e América Latina. “As distâncias dificultam a substituição direta, mas incentivam outros países a comprar arroz americano, que é nosso concorrente”, afirmou.

Limite de alta nos preços

Na avaliação de Oliveira, mantido o atual cenário, o preço ao produtor no Brasil não deve ter fôlego para continuar a subir porque a chegada da safra norte-americana no mercado vai diminuir a competitividade do produto nacional.

De acordo com projeções do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), os EUA devem produzir 7,01 milhões de toneladas na safra 2023/24, quase 2 milhões mais que no ciclo anterior.

No mercado doméstico, haverá arroz até o fim do ano, segundo Andressa Silva, mas o fluxo de oferta será menos constante. Além dos problemas no Rio Grande do Sul, Paraguai e Uruguai também sofreram com efeitos do ciclone. “As importações realizadas agora chegarão em dezembro”, disse ela.

O país importou 165,3 mil toneladas de arroz em agosto, alta de 62,2% na comparação com o mesmo mês de 2022. Essas compras consumiram US$ 65,6 milhões, com alta de 102,1%. No ano, totalizaram 1,02 milhão de toneladas, alta de 25,8%, com gastos de US$ 349,3 milhões (alta de 52,8%).

Por ora, as perspectivas para a colheita 2023/24, a partir de fevereiro, são boas. O Instituto Riograndense de Arroz (Irga) aponta que a área total semeada no Rio Grande do Sul será de 902,4 mil hectares, 7,5% mais que na safra 2022/23. A Emater-RS prevê uma produtividade de 8.359 quilos por hectare, com produção total de 7,5 milhões de toneladas e aumento de 4,19% na comparação com a temporada anterior. O país todo deve produzir 10 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

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