Preços do arroz caem ao menor nível em quatro anos e pressionam produtores no RS e no Brasil
Silos cheios: falta dinheiro, sobra grão nesta temporada no Brasil e no mundo
(Por Cleiton Evandro dos Santos, analista de AgroDados/Planeta Arroz) O mercado do arroz atravessa uma fase crítica no Rio Grande do Sul e no Brasil, com preços em queda contínua, retração nas exportações e comercialização lenta. De acordo com dados do Cepea/Irga, a saca de 50 quilos em casca (58% de grãos inteiros) fechou a última semana a R$ 60,96 no Rio Grande do Sul, o menor patamar desde maio de 2020. Em algumas praças, como na Região Central, os negócios já ocorrem abaixo de R$ 58,00, enquanto no Porto de Rio Grande as negociações giram em torno de R$ 65,00. O indicador de preços do arroz em casca, à vista, no Rio Grande do Sul, para sacas de 50kg, recuou 9,37% em setembro, até a última sexta-feira. Poderá beirar os 10% porque ainda terá correção nesta segunda-feira, dia de abertura do mercado, quando devem ocorrer muitas sondagens, poucos negócios e os compradores testando a oferta.
A liquidez está baixa, e muitos agentes se afastaram temporariamente do mercado, aguardando sinais de estabilidade ou recuperação, o que nenhum fator no momento está indicando para curto ou médio prazos. Produtores que precisam de caixa para custear o próximo plantio têm sido os principais vendedores, mas a pressão de oferta, somada à falta de estímulo para exportar, tem derrubado as cotações. A retração do dólar frente ao real reduziu a paridade de exportação e desestimulou embarques, enquanto a oferta global segue elevada.
O quadro preocupa especialmente no Rio Grande do Sul, que responde por mais de 70% da produção nacional. O estado vem registrando produtividades recordes — em média acima de 9 toneladas por hectare —, mas enfrenta custos de produção crescentes que já superam o preço de venda. A média de custo do hectare fica em torno de R$ 15 mil, ou quase 3 mil dólares. Com a saca valendo, em média R$ 60,00, mesmo com boa produtividade, o negócio pode não compensar. Alguns produtores falam em reduzir a área de plantio ou migrar para culturas mais rentáveis, como a soja ou até mesmo a pecuária, caso o cenário não mude.
No mercado nacional, a tendência é de reflexo imediato. Cotações em outros estados também oscilam entre R$ 57,00 e R$ 65,00 por saca, em áreas irrigadas, e entre R$ 70,00 e R$ 85,00 para sacas de 60 quilos no Mato Grosso e no Tocantins, com relatos de retração na área cultivada para a próxima safra. Estimativas já apontam para uma redução da área plantada no RS para algo entre 890 mil e 915 mil hectares, abaixo das previsões iniciais. No país a expectativa é de que sejam cultivados 1,66 milhão de hectares.
Especialistas apontam que a única variável capaz de alterar esse quadro no curto prazo é o câmbio. Uma valorização do dólar frente ao real poderia tornar o arroz brasileiro mais competitivo no mercado externo, abrindo espaço para novos contratos. No entanto, trata-se de um fator de difícil previsão, e as expectativas para o curto prazo permanecem de queda ou, no máximo, de estabilização em patamares baixos.
Enquanto isso, o setor produtivo pressiona governos estaduais e federal por medidas de estímulo, como a retirada da taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura (CDO) para exportações, o que permitiria liberar estoques e aliviar a pressão sobre os preços. Sem uma reação rápida, analistas alertam que o Brasil pode reduzir sua relevância no comércio mundial e ver produtores desestimulados a manter a produção em níveis atuais. A reação dependerá muito da oferta, em 2026, da safra que está sendo semeada e, ao mesmo tempo, da dimensão dos estoques do Brasil, do Mercosul e dos Estados Unidos. No mundo, a tendência é de superoferta, em especial pela gigantesca colheita esperada na Índia, país que deverá ofertar quase 24 milhões de toneladas de arroz no mercado externo em 2025/26, quase 45% do mercado global.



5 Comentários
O problema já identificado para o arroz é que os engenhos estão com os olhos voltados somente para a panela . Como o consumo do arroz é inelástico , tem-se que fazer outros produtos para outros momentos da refeição, do lazer ou do transporte. (Pão, biscoito, bolachas, cervejas, , ração pet, etanol…). Lá se vão mais de vinte anos que se aponta esse caminho.
Meu amigo Jose Nei… O problema poderia ser resolvido com dois tiros:
1. Redução de área cultivada em 20% (por produtor).
2. Ocupação desses 20% com pecuária de corte especializada em gado de alto rendimento para exportação.
Mas o produtor é cabeça dura. E olho grande!!!
Se houvesse uma conscientização geral, nesse momento já haveriam sinalizado isso para o mercado.
Não é fácil desovar 2,5 milhões de toneladas em biscoitos, massas, comestíveis…
Não sei se etanol a base de arroz teria como competir com o de cana-de-açucar em termos de custos…
Vivemos um momento ímpar e me arrisco a dizer aqui, que muitos dos que vão plantar esse ano, por pura teimosia, não terão recursos financeiros para a aguação e colheita… Terão que recorrer a juros caros e, via de regra, acabarão vendendo arroz a R$ 45/50 em março/2026… Um forte abraço ao amigo!!!
Para reflexão, a colheita passada não foi seriamente afetada pelas enchentes? O Presidente não queria importar arroz para suprir a demanda interna? Como em um ano safra aparece um excedente tão grande a ponto de derrubar o preço desta maneira? O consumo diminuiu mesmo com população crescendo? A população está deixando de comer e comendo o que no lugar do arroz?
São perguntas que não querem calar, já pararam para pensar em que a indústria como a dezenas de anos monta a sua lucratividade baseada no preço pago ao produtor e não em seu custo de produção e sua margem de lucro? E a concorrência feroz entre as mesmas, na disputa pelo varejo dos grandes atacadistas que impõem o preço pago a indústria, que por sua vez se volta contra o produtor ?
Essa é a história recorrente da produção de arroz no RS a décadas, nada indica que vá mudar.
Acho que deveriam diminuir em 50% a área semeada, para que no próximo ano o arroz pegasse preço e de preferência faltar.
Muitas ideias muita rede social mas estes produtores so esperam likes. Estou só observando e vendo todos tem soluções mas estão fazendo isso em suas propriedades?
Só a falta de tecnologia q teremos este ano ja vai derrubar a produção. Um grande produtor q toda semana manda conselhos nas redes sociais tá igual aquele q diz: faça o q digo mas não faça o q faço. Qta hipocrisia