Preços do arroz: daqui pra frente é só pra trás?
(Por Cleiton Evandro dos Santos/AgroDados – Planeta Arroz) O mercado de arroz no Sul do Brasil entrou em retração a partir de janeiro, após alcançar o teto de preços próximo dos R$ 100,00 pela saca do produto em casca. Após marcar -2,72% no acumulado do primeiro mês do ano, nos nove primeiros dias de fevereiro as cotações recuaram 1,5%, descendo a R$ 87,98 e alcançando US$ 16,69 na equivalência em dólar, segundo o indicador Cepea/Irga-RS.
Muitos agentes de mercado têm insistido em expor que “daqui pra frente o preço só vai pra trás”. É um bordão peculiar para esta época, indicando que a aproximação da safra projeta concentração de oferta e, por conseguinte, retração nos preços nas negociações nacionais. Embora disseminada e recorrente, a afirmação não define com exatidão os fundamentos e variáveis que se apresentam para ilustrar um possível cenário futuro, ao longo de 2023.
O bordão que fala em “só pra trás” indica cotações em recuo por conta de fatores cíclicos: oferta de estoques dos produtores que não quiseram vender o volume remanescente em 2022 por causa da incidência do Imposto de Renda, vendas para garantir preços antes que caiam mais na safra, vendedores que procuravam se livrar da taxa de armazenagem (sobre perda técnica) de 3% que as indústrias gaúchas adotaram, ou mesmo a limpeza dos silos para receberem a próxima colheita.
A aproximação da colheita, que atrasou algumas semanas por causa do clima, faz varejo e indústria apostarem numa queda nos valores de comercialização pela já comentada concentração sazonal da oferta.
A elevação dos valores internos no final do ano e o câmbio voltando a perto de R$ 5,00 por US$ 1,00, pesou entre o final de janeiro e o início de fevereiro na ausência de novas vendas internacionais. Isso pode ser constatado pela Line Up de Rio Grande, que há dias prevê apenas o embarque de um barco de quebrados no mês corrente, mas deve nomear pelo menos um navio com 34 mil toneladas de grão em casca para o México.
Apesar de uma exportação de 144 mil toneladas de arroz em janeiro, número significativo, há pouco movimento de negócios internacionais, apesar da demanda e as sondagens prosseguirem. As cotações internas tornaram o Brasil pouco competitivo. Enquanto isso, os quebrados – em
razão da alta demanda e baixa disponibilidade mundial – seguiram firmes e devem, mais uma
vez, consolidar entre 400 e 500 mil toneladas de embarques, pelo menos.
Mas, com as cotações em queda no país e o câmbio dando sinais de retorno aos R$ 5,27 (fechamento desta quinta-feira, dia 9) descortina-se um novo horizonte. O Real valorizado –
dólar abaixo de R$ 5,20 – nos faz perder competitividade e reduz a demanda dos clientes externos. Logo, reduz a disputa entre tradings e indústria pela matéria-prima. As oscilações dos últimos dias não ajudam, mas os comentários infelizes do governo favorecem esse tipo de relação cambial imprevisível. O mercado ainda vê, muito, a oferta como balizador de preços neste momento. Mas, se câmbio se mantiver na faixa de R$ 5,20 a R$ 5,30, temos bala na agulha para competir muito bem nos mercados americanos.
Mas há fatores de expectativa e algumas certezas que nos levam a crer que daqui pra frente (em período de tempo), também poderemos andar para cima. Senão, vejamos: é óbvio que o Brasil começa o ano com um estoque quase 800 mil toneladas menor do que aquele de 2022, resultante da balança comercial do ano passado. Correto? Então, soma-se a isso a previsão de uma safra também menor, em coisa aí de 600 mil toneladas. A tranquilidade no abastecimento só é garantida porque o Brasil deve importar perto de 1,2 milhões de toneladas de arroz, em especial do Mercosul. Apesar de estarmos numa bolha que gera excedentes de 2,5 a 3,5 milhões de toneladas, ela será menor nesta temporada.
Colheita menor e estoques menores tendem a ser fatores que colocarão o Brasil num quadro de oferta e demanda mais ajustado. Mas, não é só isso. Se em 2022, com uma relação mais “folgada”, os preços se mantiveram em trajetória de alta praticamente o ano todo e chegaram ao pico entre setembro e dezembro, as condições este ano poderão trazer uma valorização “mais cedo”. Isso, no entanto, vai depender de uma boa condição cambial para assegurar as exportações que estão fazendo a diferença na balança comercial e nas cotações domésticas.
Demanda existe, produto a exportar também. A questão é termos cotações internas que cubram os custos de produção, mas não nos deixem sem competitividade no mercado externo. E, ao mesmo tempo, que as tarifas internacionais se mantenham firmes.
Outro fator que será determinante, já começaremos a ter ideia a partir da próxima terça-feira, será a dimensão da área semeada. O Irga deve anunciar na Abertura Oficial da Colheita do Arroz a estimativa de superfície semeada com arroz e com soja. Ainda assim, só em março se terá uma ideia mais clara da área a ser colhida. Há perdas e áreas foram abandonadas em algumas regiões. E isso vai interferir no resultado da colheita. E vai pesar na formação dos preços também.
Em resumo, os fundamentos e o histórico de comportamento da formação de preços mostra que as cotações domésticas irão cair com o avanço da colheita, que recém inicia. Mas, nada indica que os valores de comercialização voltarão ao piso de preços de 2022. Ao mesmo tempo, a relação ajustada de oferta x demanda indica que deveremos ter uma recuperação mais rápida a patamares capazes de alcançar e superar o teto de preços de 2022. E, a depender do câmbio praticado e dos preços no Mercosul e nos EUA, esse fenômeno de valorização poderá ser potencializado. Ou seja, sim, os preços do arroz em casca deverão cair nas próximas seis ou oito semanas. Mas, quando recuperar será com muito mais força do que temos visto nos últimos anos.
1 Comentário
Vejo q o varejo sempre pressionando a indústria a baixar se valendo daqueles q ainda tem arroz e se desfizeram do resto agora, mas não deve ter muito arroz ainda. E viajando de Canguçu a Santa Maria percebi bem mais soja e menos arroz, pena q aseca afeta soja e arroz. E viajando de Cachoeira a Porto Alegre percebo q o pessoal investiu muito na soja q vai melhor pq as chuvas no leste do RS foram mais frequentes, realmente muitas lavouras de arroz com soja, então não acredito q a área de arroz no RS tenha ultrapassado os 800.000 hectares, e antes q me esqueça, ótima análise do Seo Claiton.