Preços do arroz devem manter-se em queda
Nova safra cheia e concorrência do Mercosul devem garantir mercado superofertado e cotações em baixa.
Assim como em 2004, em que os preços do arroz estiveram em baixa, para o próximo ano os agricultores devem amargar valores pagos ainda menores. Isso porque a produção será maior e há concorrência com o produto do Mercosul. Apenas entre março, no início da colheita passada, e dezembro – término do plantio -, o grão teve seu preço desvalorizado em quase 30%.
O produtor Juarez Petri, de Tapes (RS), é o retrato da situação da orizicultura brasileira. Petri diz que iniciou o ano comercializando o grão a preços 10% acima do custo de produção (estimado em R$ 29 a saca, de 50 quilos) e agora vende arroz por valores até 25% inferiores. À espera de preços melhores, ele tem 20% da safra passada ainda não comercializada. Com essa situação, diminuiu em 4% a área de 400 hectares cultivados com o grão.
Os terrenos ficaram ociosos. Petri não resolveu colocar outro grão no lugar do arroz. “Plantamos em dólar e colhemos em real”, diz Arthur Albuquerque, presidente da Associação Brasileira da Cadeia Produtiva do Arroz (Abrarroz). “Ganhamos em qualidade e produtividade, mas perdemos em preço”, avalia Angelo Carlos Maronezzi, presidente da Associação Matogrossense dos Produtores de Arroz (APA). Segundo ele, enquanto o custo de produção no estado está em R$ 24 a saca, o grão é comercializado a R$ 22 a saca.
E as perspectivas não são melhores. Para 2005, segundo a expectativa da consultoria Safras & Mercado, a produção deverá aumentar 500 mil toneladas. No ano-safra 2003/04, o Brasil colheu 12,3 milhões. Segundo o analista Aldo Lobo, da Safras & Mercado, já existem negócios em Mato Grosso para entrega a R$ 16 a saca (60 quilos), para os atuais R$ 22 a saca. Para Lobo, apenas uma intervenção do governo irá amenizar o prejuízo dos produtores.
Ele acredita que se o governo reduzisse os impostos e aumentasse o crédito para o plantio, a safra seria colhida com preços mais competitivos do que na Argentina. O presidente da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Valter Pöetter, diz que o caminho para a solução da crise é buscar o mercado externo. Para isso, indústrias e cooperativas estão se unindo.
A meta do setor é que, no ano que vem, o Brasil exporte 300 mil toneladas de arroz. Outra ação que deverá elevar os preços é a intervenção do governo, por meio de contratos de opção para 500 mil toneladas do grão. A indústria daria a contrapartida com contratos de opção privada para volume igual. O assunto está sendo analisado pelo governo. “Vamos ter um ano apertado para a comercialização”, avalia Maronezzi.
Para ele, uma das soluções é a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em Mato Grosso e ações do governo federal para que a comercialização da safra possa ser escalonada. Para as indústrias, a situação não é tão ruim assim. A Josapar, por exemplo, espera terminar 2004 com crescimento de 5% da sua participação do mercado (que é de 10%) e passando a exportar 5% de sua produção. “Na média, os preços foram bons”, diz Luís Augusto Krause, diretor de vendas da Josapar. Para ele, a exportação é a saída para a cadeia produtiva. No próximo ano, a Josapar espera crescer 10% nas vendas externas.
“Os custos evoluíram, mas com os preços em baixa, não conseguimos repassar”, diz Hélio Coradini, presidente do Sindicato da Indústria do Arroz do Rio Grande do Sul (Sindarroz). Segundo ele, muitas indústrias compraram o grão mais caro no início do ano e, quando foram vender, as cotações haviam caído. Para 2005, ele não vê possibilidade de aumento dos preços. “Se não exportarmos, vamos ter um excedente de 2 a 3 milhões de toneladas no Mercosul”, afirma Coradini.