Preços do arroz recuam ao menor nível em 14 meses

 Preços do arroz recuam ao menor nível em 14 meses

(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz) O mês de outubro foi marcado por uma forte retração nos preços médios do arroz em casca no Rio Grande do Sul, refletindo a ausência de novos negócios internacionais, mesmo com o real muito competitivo, e também a demanda em níveis pré-pandemia e um varejo que não se preocupa com retração no abastecimento ou aumento de preços na indústria.

O Indicador de Preços do Arroz em Casca no RS, Esalq-Senar/RS, pesquisado e divulgado pelo Cepea, encerrou o mês marcando retração de 8,42% no mês, com a saca de 50 quilos do arroz, posto na indústria, 58×10, cotada em R$ 68,30. Na quinta-feira, foi registrado o menor valor em 14 meses, em R$ 68,60 e na sexta-feira os valores caíram mais 30 centavos.

Desde quatro de agosto de 2020, o valor de comercialização do arroz ao produtor não era tão baixo em reais, mas com uma diferença crucial. Naquela data, as cotações estavam em alta e se elevaram de R$ 67,96 para R$ 68,98, mas este valor correspondia a US$ 13,02. O valor de sexta-feira equivale a US$ 12,09. Em dólar, o valor do arroz brasileiro não era tão baixo desde 17 de julho de 2020, segundo Cepea, ou seja, 15 meses e meio.

MERCADO LIVRE

No mercado livre os valores são ainda menores do que as referências do indicador, o que demonstra um “delay” entre o que efetivamente o mercado pratica e as referências. Uma demonstração clara dessa situação é o Litoral Norte ofertando R$ 68,50 pelo arroz de variedades nobres (Irga 417, Puitá Inta CL e Guri CL)  e 64% de inteiros. Isso, por si, acaba referenciando entre R$ 65,00 e R$ 66,00 o arroz 58×10, de variedades comuns – ou seja, que não têm prêmio de preços pelo melhor rendimento industrial.

Mesmo com a variação do dólar – e a desvalorização significativa do real que bateu em R$ 5,65 = US$ 1,00 – os preços médios do produto colocado no porto seguem retroagindo. “Ninguém mantém os preços de 15 dias atrás. Hoje o valor posto no porto varia entre R$ 72,00 e R$ 73,00 na maior parte dos casos, ou seja, R$ 67,00 a R$ 68,00 livre ao produtor”, explica um corretor da Fronteira Oeste. Essa diferença do frete mantém a indústria da Zona Sul – e Camaquã, na Planície Costeira Interna – remunerando ainda acima de R$ 70,00 o arroz de qualidade superior.

Fato é que em outubro a oferta do grão aumentou, enquanto varejo e indústria seguiram bastante retraídos. Se havia a certeza de muitos produtores de que o arroz havia alcançado um novo patamar, agora paira a incerteza de que haverá estabilidade mesmo nos atuais valores.

Na sexta-feira pré-feriadão, a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) divulgou nota oficial à cadeia produtiva anunciando que após uma análise detalhada, prevê recuperação dos preços nas próximas semanas. Argumenta que os estoques dos varejo são baixos, e das indústrias também, que o câmbio dará suporte a bons volumes de exportação e que a alta do custo de produção precisa ser coberta pelos valores de venda.

No entanto, parece tratar-se muito mais de uma esperança do que uma certeza. Agentes de mercado e analistas consideram que a estratégia dos arrozeiros de segurar o produto no primeiro semestre imaginando uma improvável volta aos R$ 100,00 por saca na segunda metade de 2021, mostrou-se equivocada. O primeiro semestre, com negócios sendo rejeitados a R$ 85,00 para a saca de arroz no porto, apenas repetiu uma lição muitas vezes repetida, mas ainda não aprendida. Exportação precisa ser realizada quando temos demanda, ainda mais quando se tinha valores que cobriam com folga o custo de produção da safra. Houve produtor que rejeitou negócios por diferença de 25 centavos de real por saca. Hoje o valor ofertado é R$ 20,00 inferior, ou até quatro dólares. E o custo do transporte aumentou até 500%.

Além disso, a América Central e a América do Sul andina e caribenha estão abastecidas, em especial pelos Estados Unidos e Argentina (caso de Cuba) e países da Ásia. O México é um último tiro para viabilizar algumas vendas este ano, mas como a safra no hemisfério norte recém terminou, há maior pressão de oferta do arroz norte-americano que representa perto de 80% das compras mexicanas.

O que poderia ajudar o Brasil, e se nota movimentos neste sentido, é o dólar e mais a safra norte-americana que parece não estar passando nos critérios de qualidade de alguns clientes centro-americanos.

No Brasil, nesta quarta-feira, dia 3 de novembro, parte das indústrias, em especial as maiores, decidiu manter-se fora do mercado. Sendo assim, várias unidades não estão realizando aquisições de matéria-prima, nem mesmo liquidação. Também aumentou a demanda de produtores por espaço na indústria, uma vez que precisarão dos silos das propriedades para a próxima colheita.

SAFRA

O Irga não tem divulgado os dados de avanço da semeadura do arroz nas últimas semanas, mas várias fontes consultadas apontam que mais de 65% da área gaúcha já está semeada e bem perto de 90% da área catarinense. O Uruguai entrou na reta final de seu plantio e a Argentina ultrapassa 70%. O Paraguai já está com praticamente toda a sua safra semeada, faltando apenas algumas áreas mais ao norte em zonas de abertura do cultivo.

PREÇO AO CONSUMIDOR

Esta semana os preços ao consumidor voltaram a cair de forma mais efetiva, chegando à casa dos R$ 20,00 de média por pacotes de cinco quilos, branco, do Tipo 1. As mínimas também caíram abaixo de R$ 13,00. Há muitas ofertas e uma expectativa de que os valores negociados caiam ainda mais a cada semana com o varejo mantendo posição de manter a maior parte dos estoques sobre rodas, de uma grande safra 2021/22 e com a confirmação de um avanço de  quase 80 mil hectares de aumento da área plantada no Mercosul, além da estabilidade na zona cultivada no Brasil.

Esta semana Planeta Arroz encontrou, em duas capitais brasileiras, ofertas de 5 quilos de arroz, Tipo 1, branco, a R$ 12,09.

Ao mesmo tempo, surgiram preocupações com a qualidade. O Procon de Uruguaiana, no oeste gaúcho, identificou e apreendeu 60 toneladas de arroz branco, embalado e cotado como Tipo 1, com valor equivalente em supermercado da cidade, que uma vez inspecionado mostrou se tratar de produto dos tipos 2 e 3. O produto é de uma beneficiadora regional. Na cadeia produtiva, a queda de preços e a disputa por espaço nas gôndolas dos supermercados têm gerado muitas denúncias de comercialização a preços aviltados ou de produto final vendido e embalado como Tipo 1, quando na verdade é Tipo 2 ou 3 mediante classificação prevista em lei.

 

1 Comentário

  • É com indignação que venho a este espaço expressar minha inconformidade com a atual situação . A incoerência tomou conta do mercado, tanto quanto aos preço dos insumos que estão completamente fora de controle, valor exorbitante de máquinas e equipamentos e a comercialização do preduto, que a indústria e o varejo insistem em forçar o preço do casca para baixo dia após dia.
    Inflação em alta desenfreada e o arroz baixando ao produtor, com a mesma desculpa de sempre….oferta.
    Receita explosiva…..plantio caríssimo com mercado em baixa forçado pela espoliativa indústria acessoreada pelo varejo……sérias complicações a vista !!

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