Preocupação é não deixar reduzir a área de arroz, diz ministra à Zero Hora
Tereza Cristina também aborda a questão da vacinação contra aftosa no RS .
Depois de dois meses sem pisar em Mato Grosso do Sul, onde tem sua base eleitoral e é produtora rural, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, participou neste final de semana de um evento de seu partido em Dourados. À frente de um dos ministérios mais estratégicos do governo Jair Bolsonaro, a engenheira agrônoma e deputada federal pelo DEM se dedica ao Plano Safra e à recuperação da imagem do Brasil no Exterior. A demora para reagir no caso das queimadas na Amazônia e as declarações do presidente da República e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por pouco não prejudicam importantes mercados para o agronegócio brasileiro.
Ex-presidente da bancada ruralista e pragmática, Tereza Cristina não gosta de alimentar polêmica e agiu como bombeiro na crise. Nesta entrevista, ela fala sobre a situação dos arrozeiros gaúchos, a retirada da vacinação contra a aftosa no Rio Grande do Sul e os efeitos do dólar alto. Atrás da mesa da ministra, lotada de papéis, imagens de diferentes santos chamam a atenção de quem entra no gabinete:
— São presentes que as pessoas vão me dando. Tenho santo de tudo que é tamanho, até para carregar na bolsa.
O Ministério da Agricultura prepara o Plano Safra dentro da realidade da menor taxa Selic dos últimos tempos. Haverá queda de juro para a agricultura?
O ideal para a agricultura era ter menos do que a taxa Selic, ter um juro negativo. Esse é o sonho da agricultura, mas ainda não conseguimos. Imagino que vai cair, pois a economia vem mostrando consistência nesse juro básico. É uma conta muito complexa. Estamos trabalhando para ver se, no mínimo, damos um incremento ao que foi ano passado, dos R$ 10 bilhões da subvenção. Vamos também tentar aumentar o valor do seguro, pois esse é um dos fatores que podem começar a ajudar a baixar o juro.
Um seguro mais robusto para o produtor pode ser a grande novidade do Plano Safra?
Seria a continuidade do que a gente vem fazendo. No nosso orçamento, temos R$ 1 bilhão para este ano, mais do que dobrou o valor do ano passado. Isso tem reflexo, não tenha dúvida. Estamos trabalhando para o próximo Plano Safra para ver se conseguimos alocar R$ 1,5 bilhão.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que todos ganham com a alta do dólar. A senhora concorda?
Para a agricultura, é bom quando o dólar sobe, pois o Brasil é um país exportador. Mas precisamos lembrar que importamos os insumos. Ele (o dólar elevado) ajuda para a exportação, mas tem de ver o impacto que isso terá na importação de fertilizantes e defensivos agrícolas.
Por falar em custos, a lavoura arrozeira gaúcha passa mais uma vez por crise. O que o governo pode fazer?
Não podemos olhar a economia e a agricultura pontualmente. Se não incentivarmos, se não tivermos o produtor sendo remunerado, ele vai sair da atividade. É o que está acontecendo no Rio Grande do Sul com o arroz. Ele deixa a atividade, diminui a área, e o preço sobe internamente para o consumidor. Isso tem de ser jogo de equilíbrio. Temos de trabalhar com políticas públicas sabendo o consumo nacional, o que deve ser incentivado para aquela cadeia produtiva, as exportações. Você tem de ter planejamento estratégico para que não se tenha muitos desequilíbrios.
O governo está preocupado com o desabastecimento de arroz?
A nossa preocupação é não deixar reduzir essa área (de arroz). Quantos anos temos de problema com o arroz? Vinte anos. Muita gente teve de sair da atividade. O governo está procurando uma saída para não deixar que essas pessoas saiam da atividade.
Qual é a saída para o arroz, principalmente para o do Rio Grande do Sul, com características próprias, como o arrendamento das áreas?
São várias soluções. Temos gente que saiu da atividade, que são arrendatários, temos o arroz que entra dos países do Mercosul – que também causa desequilíbrio. O Rio Grande do Sul teve o infortúnio de ter inundação no ano passado, seca violenta, granizo. O Estado teve o ambiente climático mais perverso possível. Por isso, o seguro é importantíssimo. Estamos trabalhando e conseguimos abrir mercado. Estamos tentando arrumar essa atividade e vamos ter de trabalhar o endividamento desses produtores.
Vai haver processo de renegociação de dívidas?
Renegociação está no manual de crédito rural. Mas só renegociar a dívida não resolve. A renegociação já está aberta, tem instituições fazendo, mas não é suficiente e você posterga o problema. A cadeia do arroz é uma cadeia particularmente diferente e estamos trabalhando para ver o que podemos fazer a mais do que em outras cadeias produtivas.
O Rio Grande do Sul está pronto para retirar a vacina contra febre aftosa?
Disseram o governador, o secretário e vários deputados que estiveram aqui que está. Recebi uma carta do governador pedindo a antecipação da vacina para eles poderem entrar no calendário do bloco que quer retirar a vacina de aftosa. Nós fizemos auditorias. A primeira foi muito ruim, a segunda foi bem melhor e, agora, me disseram que o Rio Grande do Sul melhorou muito. Mas isso é uma responsabilidade do Estado e dos produtores rurais. Não adianta só o Estado querer resolver, os produtores têm de ter a consciência de que estão prontos para fazer essa retirada. Não existe circulação viral nas análises que vêm sendo feitas. Teoricamente, o Rio Grande do Sul está pronto. Agora, tem ações que vão ter de ser continuadas, de fiscalização, de barreiras. Não é só retirar e achar que está tudo bem.
É para este ano ainda?
A retirada sim, mas ela leva dois anos, porque primeiro você diminui a dose e depois retira completamente.
Em entrevista recente, a senhora reconheceu falhas no avanço agrícola na região da Amazônia. O que dá para ser feito agora?
A agricultura brasileira sabe da importância do meio ambiente para continuar nessa ascensão. Esse avanço já vinha acontecendo, não tem nada a ver com esse governo. Já estamos fazendo políticas públicas, como a da regularização fundiária para sabermos quem é quem, o que está fazendo, se está dentro das leis brasileiras. Precisamos ter essa fotografia bem clara para ter certeza das ações que estão sendo planejadas e que em breve estarão implementadas para, assim, ter sucesso.
A senhora avalia que se chegou ao limite de abertura de área agrícola na Amazônia?
O Brasil é uma democracia, com regime capitalista e que tem regras. Você comprou uma terra, está desmatando todo ano um pouquinho da sua área, você tem direito, pela legislação, sobre isso. Eu não posso lhe impedir. O que vamos fazer é implementar políticas de incentivo àqueles que querem preservar. Você só dificultar, multar e excluir não é suficiente para parar o desmatamento.
Toda a crise que ocorreu no ano passado relacionada ao ambiente comprometeu a imagem do Brasil no exterior. Como é possível recuperar essa imagem?
A agricultura brasileira sabe da importância do meio ambiente para continuar nessa ascensão de sucesso. Não vejo que o produtor de fato, aquele que produz e que tem alta produtividade não tenha os cuidados com o meio ambiente. Temos de usar essas ferramentas tecnológicas, porque é uma hipocrisia achar que vamos ter fiscal para olhar isso tudo, olha a dimensão do Brasil.
O governo tem de deixar mais claro para o mercado externo que existe, de fato, preocupação com o meio ambiente?
Acho que sim. Acho que o Brasil tem de mostrar para o mercado que existe um desconhecimento enorme. Se você pegar a Amazônia, são 2,3%, 2,4% de agricultura e 10%, 10,5% de pecuária. Isso é muito pequeno perto da dimensão da produção brasileira de soja, de milho, de grãos e de pecuária de carne. Sim, a pecuária avança, porque é mais fácil, mas, cada vez mais, o custo do desmatamento é muito alto. Então, se tivermos políticas para incentivar o crédito e outras de estímulo à produtividade, podemos congelar essa fotografia da Amazônia.
Mas o que fomentou a polêmica no ano passado foram as declarações do presidente Jair Bolsonaro e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Nesse sentido, é possível reverter?
Sim, mas reverter com números, com fatos. Com cases de sucesso. Na quinta-feira, recebi um gráfico das emissões de todos os países do mundo. O Brasil está super bem. A agricultura brasileira precisa dizer o que ela é, o que faz, como faz e mostrar fatos. Isso não é ufanismo, o Brasil é uma potência agroambiental.
A epidemia de coronavírus vai atrapalhar o agronegócio a partir de agora?
Claro que existe preocupação, mas não podemos passar do ponto para não virar uma catástrofe. Estão trabalhando para manter esse vírus o mais fechado possível, dentro da China. Se os portos chineses, que estavam parados até pouco tempo, retomarem o movimento normal – e eu acho que vão – não vejo motivo para temor. A gente tem de aguardar e ser muito cauteloso. Espero que não afete a demanda de produtos brasileiros pelos chineses.
Os Estados Unidos vão finalmente reabrir o mercado para a carne in natura do Brasil?
I hope so (risos). (Eu espero que sim, em inglês)
Quando? Existe alguma previsão de data?
Essa é a pergunta: When? (quando, em inglês). É uma questão técnica. É claro que a boa vontade política existe, mas temos alinhamento com um tanto de países e olha o tempo que demora. O certificado sanitário é chato, demorado. Exige missão daqui, dali. Você não pode ter inseguranças nessa parte. Existe um trâmite técnico que é difícil de resolver.
Como será a vida com o novo ministro da Casa Civil, o general Braga Netto? Dizem que ele vem para ser uma espécie de gerentão…
Não o conheço ainda. Faz parte da política. Política é isso.
3 Comentários
Tss, não só diminuir área, mas com esse preço mínimo dá até pra parar de plantar arroz mesmo. Totalmente fora da realidade. Mas por um lado é bom, pq ninguém aumentará área. Mas sim diminuir mais ainda. SDS.
Seguro Agrícola então é a salvação da lavoura de arroz??? Depois do governo abandonar os arrozeiros que só plantam porque conseguem dinheiro caríssimo com as indústrias, a Sra. Ministra vem pedir para seguirmos plantando. Nunca participou de uma Abertura da Colheita. Agora vem mostrar preocupação via entrevista. Porque não vem aqui no Sul debater? Ano passado lavou as mãos dizendo que o governo não tinha o que fazer além do Fundo de Aval Solidário. O governo nada fez pelo endividamento. Não resolve sequer o Funrural. Desestimulo total. Não mexem um dedo para equalizar as assimetrias do Mercosul. Agora que a produção despencou. Que o pessoal está migrando prá soja. Que ano que vem a expectativa de plantio é cada vez menor. Que a indústria segue forçando os preços para. Querem que sigamos plantando!!! Ora Sra. Ministra com todo o respeito. Sou Bolsonarista, mas não dá para plantar com um custo de R$ 55 e expectativa de preço de R$ 45 na colheita… O problema não é seguro, não é seca, não é chuvarada… nada disso… O problema é Renda… É atratividade… É endividamento… Se não tivermos lucro não adianta plantar!!! Como as dívidas se acumularem ninguém mais tem acesso a crédito oficial, a juros baratos, etc e etc e blá blá blá… Reduzindo área teremos a oportunidade de produzindo menos os preços sejam um pouco atrativos… Em junho de 2003 o preço do arroz valia entre R$ 43 a 45 Sra. Ministra… Em abril de 2020 valerá isso!!! 17 anos se passaram… E o arroz quase não se valorizou… 17 anos de empurrar dívidas com a barriga… rotatividade… de secas… de enchentes… de incertezas… riscos… sofrimento… Para quê??? Um dia as pessoas cansam… Se sentem desprezadas… Abandonadas… E resolvem apostar num futuro melhor!!! A soja na várzea foi a melhor coisa que nos aconteceu… Deixem os produtores fazer o que é certo reduzindo área! Ou encontrem um mercado importador que nos dê segurança para produzir… Duvido muito… A esquerda gaucha já está se mobilizando para implementar a Lei Kandir e liquidar com as exportações !!! Resumindo: falta credibilidade…
Ótimo comentário.
A solução é redução de área plantada. Não existe outra alternativa.