Produção de arroz ecológico avança nos assentamentos do RS
MST desenvolve técnica de produção consorciada de arroz e peixe, aliando respeito ao meio-ambiente, alimentação sadia e baixo custo do produto..
A produção de arroz ecológico em assentamentos do Movimento Sem Terra (MST) no Rio Grande do Sul tem se tornado referência de agricultura sustentável, com uma técnica que alia o respeito à saúde e ao meio-ambiente com bons índices de produtividade. Atualmente, 97 famílias de sete assentamentos no Estado produzem arroz orgânico em mais de 500 hectares.
As técnicas utilizadas são a do arroz pré-germinado e a da rizipiscicultura, ou seja, o consórcio entre a produção de arroz e a criação de peixe. “É uma produção diferente. Produzimos o arroz ecológico por causa da necessidade que sentimos de mudar o modelo tecnológico, pela questão da saúde e pelo meio-ambiente. Há também a questão econômica, já que reduzimos muito os custos de produção”, explica Irineu Crupinski, assentado em Tapes (RS).
No assentamento Lagoa do Junco, 15 famílias se organizam na Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados de Tapes, fundada em 1998, e estão conseguindo uma produção média de 110 sacas de arroz por hectare, quase o dobro do índice mínimo exigido por lei para que uma propriedade seja considerada produtiva.
Na rizipiscicultura, o emprego das carpas (húngara, prateada, capim e cabeça-grande), garante o preparo do solo, o consumo das sementes de plantas indesejadas e a adubação, através dos excrementos. “O peixe substitui o trator, o veneno e o adubo químico”, explica Orestes Ribeiro, assentado em Tapes.
Baseada numa técnica milenar chinesa, a rizipiscicultura, que começou a ser utilizada em assentamentos do MST no Rio Grande do Sul em 1997, não apenas produz alimento saudável e reduz o impacto ambiental, mas também gera aumento da renda por área cultivada. “No custo da produção, conseguimos uma diminuição de 35% a 45% em relação à lavoura convencional, principalmente porque não gastamos com veneno, adubo e uréia”, conta Irineu.
Inaugurado em 26 de outubro de 1995, o assentamento Lagoa do Junco planta, ao todo, 135 hectares de arroz ecológico. Onde não é aplicada a técnica da rizipiscicultura, os assentados utilizam como adubo o biofertilizante (composto de esterco, soro, leite, ervas daninhas, cinza etc). No último ano, a safra alcançou as nove mil sacas de arroz. Na rizipiscultura, a média foi de 110 sacas por hectare, enquanto que no arroz pré-germinado a produtividade foi de 86 sacas por hectare. Já é o quinto ano que o assentamento utiliza esse sistema. Junto com o feijão, o leite, a carne e outros produtos, o arroz do assentamento abastece todas as oito escolas municipais de Tapes.
PRODUÇÃO ECOLÓGICA
A primeira experiência com produção de base ecológica em assentamentos do MST no Rio Grande do Sul começou com hortaliças, produzidas em pequenas áreas e comercializadas nos mercados locais. Foi a partir dessa iniciativa que as famílias Sem Terra passaram a produzir o arroz pré-germinado ecológico e, posteriormente, a rizipiscicultura.
Em 2002, o MST criou o Grupo do Arroz Ecológico, para troca de experiência e estudos entre as famílias assentadas. Na safra 2004/2005, foram certificadas dez unidades, envolvendo 97 famílias assentadas em uma área de 533,33 hectares, com uma produção estimada em 45 mil hectares. Atualmente, produzem arroz ecológico assentamentos do MST em Charqueadas, Eldorado do Sul, Nova Santa Rita, Guaíba, Eldorado do Sul e Viamão, além de Tapes.
“A produção de arroz ecológico tem uma dimensão ética, pois estamos produzindo alimento sadio; uma dimensão social, porque não abrimos mão do controle sobe todo o processo, inclusive da comercialização; e também uma dimensão econômica, na medida em que o arroz ecológico se mostra uma alternativa concreta a esse modelo dependente de agrotóxicos”, explica Álvaro Delatorre, presidente da Cooperativa de Prestação de Serviços Técnicos (Coptec).
ENTENDA A RIZIPISCICULTURA
A rizipiscicultura consiste no consórcio do arroz com o peixe, especificamente as carpas húngara, prateada, capim e cabeça-grande. Após o primeiro ano, o preparo do solo fica a cargo das carpas, principalmente a húngara, que faz o lodo, regurgitando-o, consumindo sementes de plantas indesejadas e insetos. Ao mesmo tempo, carpa prepara e fertiliza o solo para receber a semente.
Cada espécie desempenha uma função no sistema. Do início do plantio até cerca de 40 dias, os peixes são retirados e colocados em tanques próprios, voltando para trabalhar o solo depois do plantio. “O custo da produção é muito baixo. Além disso, é uma forma de proteger o meio-ambiente e a saúde de quem consome”, resume Irineu. A área para a produção deve ser dividida em quadros nivelados, com cerca de um hectare cada.